O caixão com o corpo do Gabriel Garcia Márquez teve que ser levado na mão, por trezentos metros. Vencida mais ou menos a metade, um homem que segurava uma das seis alças (parece que era o Vargas Llosa) sentiu-se mal e teve que desistir. A alça ficou vazia, mas os que continuaram perceberam que algo estranho se passava. Parecia que o caixão estava menos pesado.
À medida em que avançavam, o caixão foi perdendo cada vez mais peso. Ficou leve… leve. E quando deram por si, o próprio Gabo Garcia Márquez segurava o caixão, pela alça vaga. Ninguém ousou abrir a boca, e assim seguiu o féretro.
Chegou-se ao túmulo. O que aconteceria agora?
Devido à perplexidade geral, o caixão fora deixado no chão. Quando deram por si, Gabo sumira de vista. O caixão começou a vibrar e produzir um ronco cada vez mais forte. Todos se assustaram, menos Manuel Scorza e Juan Rulfo, que qualquer daquelas pessoas jurariam que não estavam entre eles, mas agora estavam.
E já não estavam mais. Subitamente, o caixão começou a se mover. Correu pela alameda e decolou. Antes de se afastar, a tampa abriu-se e Garcia Márquez, Scorza e Rulfo apareceram sorridentes acenando lencinhos brancos.
Um falcão surgiu do nada e sobrevoou a cova vazia. Puxava um banner, onde se lia: “Obrigado, amigos. Nunca esqueçam de mim.”
Quem esqueceria?
Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo, em 10/3/2024.