Uma peculiar trajetória dos pijamas à saúde por telefone!

Por que fazemos o que todo mundo faz há décadas? Por que todo mundo dorme de pijamas nos quatro cantos do mundo? Essa é a questão que iremos debater aqui no Café Fisiológico de hoje com Fábio De Domenico.

Já faz algum tempo que me pergunto por que tais coisas não servem para nada, mas continuam lá?

Os pijamas são um bom exemplo disso e são peças que pedem discernimento, principalmente no horário de colocar e de tirar. Tem gente que coloca para passar o dia e só tira para dormir. É um fato.

Curioso é porque a maioria dos listados são verticais? Consultei meu consultor de moda. Está espantado com o que? claro que tenho um, você não? Que horror! Provavelmente você não usa pijama corretamente.

Ele, muito sábio, disse que é para acompanhar as listas do colchão. Não sabia? no feng shui cruzar listras é pior que deixar chinelo virado. Agora viu porque recomendo um consultor.

Outra noite, era quase uma hora da manhã, me surgiu uma duvida, com que roupa eu deveria dormir? liguei na minha consultoria e de imediato a atendente me falou: camisa de força é o mais indicado para o senhor!

Ok, tenha uma excelente madrugada.

Eu até curto o visual, mas aquela amarração me deixa meio desconfortável e ficaria em desvantagem na briga com os pernilongos que me fazem companhia durante as noites de verão.

Optei pelo meu velho pijama, mas dessa vez, veio uma duvida inconformante.

Por que colocam bolsos em pijamas? Nunca pensaram nisso?

É…pijama também é polemica.

Essa eu faço questão de responder ao meu consultor.

Mas antes, vou comentar sobre alguns modelos de meu convívio.

Tenho um pijama longo que a calça tem um bolsinho apenas do lado direito atrás. Nunca entendi, seria para a carteira?

Fiquei imaginando a reunião do conselho para definir o local desse bolso. Tem que despedir todos eles, afinal só serve para destro que durma de bruços.

Com base nessa reunião posso até patentear a frase que acabo de criar: “Esse cara é mais inútil que bolso em pijama”

Tenho um listado clássico, de botões com lapela, permite fixar o boton do Rotary Club. Tem um bolso de cada lado. Pura elegância, me sinto o David Niven com ele, mas para que os bolsos?

Esse eu sei explicar: um bolso é pro xarope e outro pro lenço, afinal é mais elegante que manter uma escarradeira na porta do quarto.

Já o azul claro de gola em V, despojado, tem estilo único, segue a tendencia uniforme de manicômio em Pasadena. Suponho que se eu esfaquear alguém na rua vestindo esse pijama, o delegado vai falar, tadinho não prende não, olha o uniforme dele, ele tem problemas, ouvi dizer que a mãe é manicure e ele não suporte ver ela segurando as mãos dos outros.

Simmmmm, ele tem um bolso bem pequeno no peito do lado esquerdo. For what?

Analisando mais profundamente, suponho que seja para guardar um cartãozinho igual aqueles de identificação em malas de viagem.

Já explico: Caso o cara seja sonambulo e se perder por aí.

A dica é copiar os carrinhos de condomínio.

Escreva no cartão: “Por favor, me devolva ao meu local, eu não sei voltar sozinho”

Em tempo, o meu consultor faz parte do meu plano de saúde. Eles têm especialistas em tudo. Dispõem até de um tratamento de saúde por telefone, acredite!

É uma espécie de CVV, só que é para quem ainda está em duvida se o suicídio irá mesmo resolver ou criar mais problemas do que ele já vem criando. Afinal um funeral básico com urna em MDF reciclado não sai por menos de 5K.

Melhor mantê-lo por aí, chato e vivo, sai mais em conta.

Você se cadastra gratuitamente e recebe um telefonema a cada 30 dias. Como de graça eu pego até ônibus errado, aceitei sem mesmo questionar quantos eles já salvaram até aqui. Pensei: no mínimo me divirto, tiro uma boa lição ou viro estatística.

Detalhe é que o enfermeiro muda toda sessão. Aí você conta seus anseios, suas desilusões, o que você fez e faz para suportar a vida. A mesma coisa toda vez.

Abro meu coração, literalmente conto tudo, se durmo de meias xadrez, meus traumas em churrascos, do amigo que tinha perna de pau e quando acabou o carvão queriam jogar ele lá dentro. Tive que impedir, disse- calma aí, não é assim que se resolve, tem que passar sal grosso nele antes.

As vezes eles leem uma ficha e lembram alguma coisa. Ah.. está aqui, Fábio, parto normal, meias escocesas, perna de pau, churrasco, hum hum, anda entediado com o programa de saúde.

O senhor tem feito alguma coisa que gosta? Sim, não faço nada minha filha, é o que mais gosto de fazer NADA!! E olhe que tenho um talento incrível para isso.

OK, então vamos falar algo para relaxar um pouco, me conte sobre o que achou da campanha do Brasil na ultima copa. Ainda tem feito acupuntura com parafusos M8? Já ouviu os cds de palestra do Padre Jonas? Como tem se sentido ultimamente?

Desculpe, como é seu nome mesmo? ou com quem estou falando hoje?

Mirtes, pode me chamar de Enfermeira Mirtes. A senhora tem certeza que quer saber? olha lá, foi você que me pediu.

A ligação está sendo gravada? Está sentada, a cadeira tem braços, tem silver tape ai?

La vai… me sinto sorridente e incrível!

Sério?

Sim, toda vez que desligo do seu telefonema.

Suponho que por meus assuntos serem muito interessantes, seja pelos meus doces comentários ou ainda por eu ser muito singelo e cativante, os intervalos de ligações começaram a diminuir.

Comecei a desconfiar que me tornei famoso lá no plano saúde por telefone. Deixei de ser apenas mais um post-it surrado com algumas anotações e rabiscos. Suponho que eles passavam os dias comentando sobre minhas histórias e ao me ligar já sabiam tudo, porém, criou-se um ambiente de ansiedade e creio que brigavam para pegar minha ficha.

Até então eram apenas suposições.

Mas a partir de um certo telefonema, acho que foi no terceiro ou quarto daquele dia, confirmei que o jogo realmente havia invertido. Ao invés de me curarem, deixei eles doentes!

Um belo dia falei: olha gente, não vou poder mais ajudar vocês, já fiz minha parte, assim não dá, nem estou sendo remunerado e desse jeito, precisarei contratar mais 4 linhas aqui em casa.

E assim, infelizmente tive que encerrar o programa. Deixei muita gente órfã, deprimida e sem sentido de vida. A coisa realmente desandou, acabei tratando de dezenas de enfermeiros mal remunerados, com vários problemas em casa desde cílios pequenos, calcanhar rachado até vicio em colírios.

Eles encontravam nos telefonemas uma maneira de rir comigo como se fossemos uma grande família. Família doentia, mas unidos e felizes.

Precisava retomar o domínio da minha vida que havia se resumido a 3 coisas: dar conselhos, falar até secar a goela e beber água.

Hoje estou limpo, não chego nem perto do telefone fixo há 3 anos, felizmente parei com a água, só bebo uísque, mas é uma luta diária, agente sempre pode ter uma recaída, atender um telefonema, encontrar um bebedouro e desencadear tudo novamente. É um dia de cada vez.

Espero que você esteja se sentindo melhor após ler esse texto, afinal escrevo, pois evito o telefone, mas saiba que cuido dos outros por devoção.

Achou o texto interessante, se sente mais leve? então envie para seus amigos.

Achou uma droga, preferia um Luftal, envie para seus inimigos!

Pense no Frank Zappa que era um gênio e fez uma musica fantástica sobre a galera do Pijama. Começa como um jazz elegantérrimo e termina com um solo de guitarra de sangrar os tímpanos. Procure ouvi-la: “Po-Jama People” do álbum que é uma obra de arte “One Size Fits All”

Disco é cultura.

Janeiro de 2023