Tomou?
Repetindo aqui a pergunta dos bichinhos da Parmalat pro Bolsonaro: tomou?
Se não tomou a vacina, como ele próprio afirmou, por que então tem um cartão de vacinas atualizado como se tivesse recebido o imunizante? Não só ele. Até a filha menor de idade recebeu o “diploma” de vacinada pra poder viajar com o pai aos Estados Unidos.
A fraude veio a público agora no último dia três, através da Operação Venire. (Na linguagem do Direito, a palavra que tem origem no latim quer dizer “vir contra seus próprios atos, ninguém pode comportar-se contra seus próprios atos”. Em outras palavras, Venire para a Polícia Federal foi traduzida mais ou menos por: por que catzo um negacionista da vacina tem um cartão de vacinado?)
Durante as buscas e apreensões da operação prenderam uma porrada de fraudadores que faziam parte da quadrilha das carteirinhas vacinais, e, entre eles, o cãozinho de estimação do ex-presidente que à época era seu ajudante de ódio, digo, de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, que agora está arrasando nas redes sociais como sósia do personagem Patrick do Zorra Total. (Ainda não sei ao certo se a brincadeira com ele é só por causa da semelhança física ou se porque ele participou ativamente dessa zorra total que foi este governo.)
Da casa de Jair Bolsonaro levaram um pen drive e seu celular para que possam investigar como foi feita a tramoia. Fico cá imaginando como poderia ser essa troca de mensagens pelo WhatsApp. Algo como:
• Ô, Cid, cê sabe que tô cascando fora do país, porque não vou ser tonto de ficar aqui quando o nosso pessoal começar a quebrar tudo em Brasília, né? Só que lá nos Esteites vão querer saber se eu e minha família tamos imunizados contra a Covid, e eu não tenho a poha da carteirinha. Sabe como é! Então dá um jeito de arrumar aí pra mim e pra Laurinha porque ela também não tomou a vacina e eu não vou deixar que tome. Só porque ela foi fruto de uma vacilada, não vou querer que ela vire um jacarezinho e que vá morar no Everglades, lá perto de onde vou morar. Hahahaha!
• Xá comigo, amigo. Tô aqui pra servir meu querido presidente, sempre!
Se não foi assim, deve ter sido muito próximo disso, porque Jair Bolsonaro nunca procurou esconder que quem mandava aqui era ele, sem se importar se estava atropelando a ética, a moral e os bons modos, quando queria alguma coisa.
O problema é que além de mais essa chinelagem do ex-presidente ter repercutido no mundo todo, ainda sobra pro internauta aguentar as passadas de pano do gado fiel: “Ain, agora vão criar caso só por causa de umas carteirinhas falsificadas? Ain, em que isso vai mudar a vida das pessoas? Isso é perseguição política, claro!
Vem cá, cidadãos do bem. Ceis lembram da mulher que roubou um chocolate no mercado e foi presa? Então, diante da lei, ela cometeu um delito e foi punida porque se isso não acontecer, cada um que for ao mercado vai querer levar um produto. No fim do dia, o supermercado tá depenado e o dono está a ver navios, no caso, a ver gôndolas vazias. Sobre a pena recebida isso já são outros quinhentos. A Justiça, às vezes injusta, deixa que alguns pequenos infratores fiquem presos por muito tempo enquanto criminosos barra pesada ficam livres por aí. É a lei do quem pode, pode, quem não pode se sacode.
Mas isso agora não vem ao caso. Vamos voltar à vaca fria. Bolsonaro cometeu um crime nesse caso, ou segundo a Polícia Federal, vários crimes: prática de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores. Portanto vai ter de responder por eles.
E aqui voltam os bichinhoss da Parmalat: Tomou, Jair?
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 5/5/2023.