Mário de Andrade caminhava pela Rua Barão de Itapetininga. Sem pressa. O centro da cidade o atraia. Espiou a vitrine de uma livraria, cogitou tomar um café. Mas foi em frente. Na mesma toada branda chegou à Praça da República. Cumprimentou mentalmente o prédio do Colégio Caetano de Campos, deu mais alguns passos e… entrou na estação do metrô.
À essa hora, quatro da tarde, o trem estava quase vazio. Sentou-se ao lado da janela. Partiram. Na estação seguinte, um jovem aparentando os mesmos vinte e poucos anos de Mário de Andrade, senta-se ao seu lado.
O trem corre, acabam por conversar. O que faziam na vida?
— Estudo Letras na USP – disse o da janela. – E você?
— Direito nas Arcadas – respondeu o do corredor.
E logo…
— Qual é seu nome? – pergunta o do corredor.
– Mário de Andrade.
O outro quase cai do banco.
— Não é possível! Sabe como eu me chamo?
— Não…
— Ruy Barbosa.
O trem corria… Passado o espanto, puseram-se a cogitar. Quantas pessoas, no País, tinham o mesmo nome de grandes autores literários e eram desconhecidas? Mário se anima. E se descobrissem e apresentassem ao País alguns desses homônimos? Que soubesse, ninguém até hoje havia pensado nisso. Poderiam publicar um livro. Por onde começar? Uma pesquisa na Biblioteca Municipal… Mário de Andrade. Complicado. Teriam que dar seus nomes e os funcionários poderiam achar que estavam com gozação. O fato é que buscaram no Google, em revistas, jornais e outras publicações até que… acharam. Um único caso. A publicação do livro já estava descartada, mas o nome estava lá.
Um vendedor de legumes do Ceagesp chamado Oswald de Andrade! O mesmo nome de um dos mais notáveis escritores da Semana de Arte Moderna de 1922.
— Mas não me chamo Oswald nenhum – reagiu ele, mal os dois estudantes começaram a falar. Foi erro do cartório. Sou Oswaldo e está acabado.
— Mas e seus documentos?
— Enfiei um o em todos eles.
Afinal, o de Andrade também não gostava de ouvir seu nome na pronúncia correta, Ôswald. Se anunciava como Oswalde.