Semana boa pros enganadores de plantão.
Como todos viram, o general Augusto Heleno foi convocado para comparecer à CPMI da última terça-feira, como testemunha da muvuca do 8 de janeiro.
Sua defesa tentou entrar com um pedido de habeas corpus pra que ele não tivesse de tirar o pijama, vestir um terno e ir para a inquisição, mas o ministro do Supremo Cristiano Zanin não concedeu. Porém, permitiu que ele ficasse em em silêncio.
Só que ele não ficou. Falou. Falou e mentiu. Mentiu e foi desmascarado. Mentiu e teve chilique quando confrontado. Enfim, se comportou como um general Heleno.
Surpresa zero! Todo mundo já viu, em algum momento, o general soltando faísca enquanto chefe do GSI – Gabinete de Segurança Institucional – do então presidente Bolsonaro.
Desta vez carregou nos palavrões e mostrou que não é um ser equilibrado, especialmente quando a água começa a bater na sua bunda.
Quando perguntado pela relatora, a senadora Eliziane Gama, se ele continuava achando que houve fraude nas eleições, Heleno respondeu, de maneiro indireta, que não: “Já tem o resultado das eleições, já tem um novo presidente da República. Pô! Não posso dizer que foram fraudadas”. Mas como é de domínio público que ele e a bolsonarada bateram na tecla da fraude o tempo todo, a senadora comentou: “Ok, o senhor mudou de ideia, né”.
Aí o homem subiu nas tamancas, virou-se pro advogado e, com microfone aberto, disse: “Ela fala as coisas que acha que estão na minha cabeça. Porra! É pra ficar puto, né? Puta que pariu”.
Se ele se comporta assim durante um inquérito com todos os holofotes na sua cara, imaginem como é em casa. Dona Augusta Helena deve ter de aguentar poucas e boas dele no dia a dia, tipo: esse bife tá muito duro! É pra ficar puto, né? O café tá frio, porra! Não tem papel higiênico no banheiro, puta que pariu…
A fama do general Heleno de não ser exatamente uma flor que se cheire vem desde que ele e seu Exército foram designados para a missão de paz “Minustah” no Haiti, em 2005.
Há relatos de que a Operação Punho de Ferro, sob seu comando, tenha causado a morte de mais de 60 civis em uma favela de Porto Príncipe, a capital haitiana. Há também denúncias de que seus soldados teriam deixado cerca de 200 filhos por lá, frutos de estupros, especialmente de menores.
E essa questão foi levantada pela deputada transsexual Duda Salabert (PDT-MG) na CPMI desta terça-feira. Questionado sobre os fatos, Heleno negou, ameaçou processá-la e, pra mostrar que é um transfóbico de carteirinha, a chamou de senhor.
Outra que quis bancar a espertinha no último fim de semana foi a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Com a desculpa de oficializar as assinaturas do “protocolo” contra o racismo nos jogos de futebol, pega um avião da FAB, enche de torcedores, digo, de asseclas, e parte para São Paulo para assistir à final do campeonato entre Flamengo e São Paulo.
Levou pancada de todo lado, claro. Mas teve senador que a defendeu, o mesmo que desceu o cacete contra o uso indiscriminado de aviões da FAB pelo governo anterior. (Nisso concordamos. Esses aviões só podem ser usados em casos de emergência.) Randolfe Rodrigues insiste em dizer que não há nada demais nisso já que ela foi a trabalho. Ué! Pau que bate em Chico não bate em Anielle, Randolfinho? Tem mais uma pergunta: se a final fosse entre o Vasco e o São Paulo ela teria sacrificado o Domingão com Huck pra se deslocar para outra cidade?
Do jeito que ele tá falando, é capaz até de defender que Anielle peça um adicional de salário por trabalhar no fim de semana.
E pacabá, sua assessora, também flamenguista, Marcelle Decothé da Silva, ainda posta um monte de “merde ofensive” contra a torcida do São Paulo: “torcida branca que não canta, descendente de europeu safade. Pior, tudo de pauliste”.
Aí não dá, né? Até eu, que sou palmeirense, virei são-paulina na hora. A mocinha tá precisando tomar umas aulas de civilidade.
A princípio ainda relutante por considerar que as postagens tenham sido “em tom informal”, Anielle teve de ceder às pressões e a babaque foi merecidamente demitide.
Tchau, queride!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 29/9/2023.