Da série Os Erros Mais Bobos do Jornalismo: o chapéu.

Algum louco inventou um troço que no jargão jornalístico é “o chapéu”. É uma palavrinha impressa em letra bem miudinha acima do título.

Ninguém, nenhum ser humano normal jamais presta atenção ao chapéu – só os jornalistas.

O Estadão desta quinta-feira traz um exemplo perfeito dessa insanidade que vai atravessando as décadas sem que os editores percebam como é ridículo esconder o elemento mais importante do título – o “quem” da questão básica “quem, quando, onde, por quê”.

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Coloquei isso que está aí acima no Facebook, e um comentário demonstrou que eu estava errado. O problema não é o chapéu, é o mau uso do chapéu.

Este foi o comentário de Maristela Deves:

“Eu até gosto do ‘chapéu’ (que chamávamos de ‘cartola’ nos meus tempos de jornal), mas é óbvio que ele não deve tirar o destaque do título.

Nesse caso, seria bem fácil de resolver. O chapéu/cartola ficaria ‘Rainha do rock’ (ou, alternativamente, as data de nascimento e morte), e o título, “Tina Turner morre aos 83 anos, na Suíça”.

Ou seja, o problema não é a cartola em si, que é um complemento/elemento a mais, mas sim saber fazer um bom título.”

Está certíssima a Maristela. Eu errei.

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E, diabo, eu também já curti muito o chapéu. Na revista Afinal (1984-1988), a gente se divertia demais escolhendo as palavras para usar no chapéu. Ficávamos muitas vezes três, quatro pessoas, discutindo opções inteligentes, bem humoradas, irônicas para o chapéu de determinada matéria. Me lembro bem que um dos mais entusiastas do bom chapéu era o Melchíades Cunha Júnior. Tinha imenso prazer em ficar matutando um bom tempinho qual seria o chapéu mais apropriado para cada matéria de Política.

Mas a gente sabia, o tempo todo, que aquilo era um prazer nosso – que leitor nenhum presta atenção ao tal do chapéu.

Ora, bolas: importante é o título, não aquelas palavrinhas miudinhas acima dele.

Discutir em grupo opções de melhor título era um saudabilíssimo exercício que levamos do Jornal da Tarde para a revista Afinal.

No JT dos velhos tempos, o editor, o sub e uns dois ou três copies muitas vezes ficavam até dez minutos discutindo um título, um lead.

Bons tempos. Hoje não existe mais copydesk, não existe mais revisor – e daqui a algum tempo não existirá mais jornal impresso.

Bem. Do jeito que a coisa vai, daqui a algum tempo não existirá mais vida no planeta.

Mas aí é outra história.

O fato é que “Cantora morre aos 83 anos, na Suíça”, é um título lamentável. Com todo respeito ao colega que o cometeu.

         25/5/2023

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