Cem Anos de Podridão!

Agora que as caixas pretas dos sigilos impostos por Jair Bolsonaro estão sendo abertas, podemos esperar por algumas bombas de alto poder de destruição. Pra ele, claro! Afinal Bolsonaro, sozinho, decretou 1.108 sigilos de 100 anos durante sua gestão. É sigilo bagaray. Aí tem!

Todo presidente tem a prerrogativa de manter em sigilo assuntos que não tenham interesse público, mas no caso do ex-presidente muita coisa que tinha de ser mostrada, segundo a LAI – Lei de Acesso à Informação -, vigente desde 2012, foi varrida pra debaixo do tapete.

Dentre os assuntos guardados em segredo por Bolsonaro estão alguns atos irresponsáveis como, por exemplo, esconder seu cartão de vacinação num momento em que o país precisava de uma campanha massificante a favor do imunizante. E também bizarrices como usar pseudônimos para fazer testes de Covid. É ou não é muita idiotice aparecer no laboratório com aquela cara de paspalho se dizendo chamar Airton Guedes ou Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz?

Mas o que tá pegando nas redes sociais nestes últimos dias é sobre a estapafúrdia presença do estapafúrdio ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, num evento ocorrido em maio do ano passado, no Rio. Como general da ativa, Pazuello não poderia ter comparecido a essa micareta de campanha (ainda nem tinha sido liberada a campanha política), e menos ainda subido ao palanque ao lado do então candidato à reeleição e falar ao povo, sendo ele próprio candidato a deputado.

Mas foi, e a investigação sobre o ato foi escondida a sete chaves pelo então presidente da República. Agora que Lula resolveu abrir essa porteira, estão se virando nos trinta para arrumar uma desculpa plausível. Mas até este momento só meterem os pés pelas mãos, mostrando que ou são incompetentes demais ou que o resto do mundo é burro além da conta para  acreditar no que estão falando. Daria um roteiro pra uma comédia pastelão, se tivesse graça. Não sou roteirista mas encaminharia o filme mais ou menos assim:

Take 1: Pazuello se explicando.

⁃ Um dia antes mandei um comunicado ao Exército dizendo que participaria de uma motociata. No dia do passeio foi montado um palanque onde o presidente falou sobre o lockdown que ele não queria, mas que alguns governadores e prefeitos adotaram mesmo “sem ter eficácia comprovada” (aqui entro eu: a cloroquina dele tinha?), e eu tentei me esconder atrás do carro de som, mas mesmo de máscara fui reconhecido pelos fãs, apesar de algumas pessoas terem duvidado de que era eu. Foram ouvidos cochichos indagando “será que é ele mesmo? Se ele nunca usou máscara, nem no auge da pandemia, por que estaria usando agora? Só se ele não encontrou a sua de ninja e pegou essa cirúrgica mesmo”.

Take 2 : sequência da explicação, agora com a presença do então presidente.

⁃ Só subi no palanque porque o povo começou a gritar “discurso, discurso, discurso” e o Jair me chamou. Eu falei pra ele que não podia mas ele argumentou:
⁃ Pode subir, poha. Eu sou o presidente da República e mando aqui car🧄! E o exército é MEU! Mando em todo mundo, 🍆 (foi o emoji mais parecido com cacete que achei).
⁃ Aí eu subi lá peguei o microfone que ele me passou e tive de improvisar umas palavras. Falei: “Fala, galera. Não ia perder esse passeio de moto de jeito nenhum. Tamo junto, hein!”.

Cena final:

Pazuello em primeiro plano, enchendo a tela, no momento em que cai a máscara.

A queda de sigilos ainda pode dar mais pano pra manga nos próximos dias. Vamos poder saber (ou não) se o zero à esquerda de número quatro, Jair Renan, praticou tráfico de influência quando promoveu reuniões com empresários que bancaram a reforma do escritório da sua empresa, tudo lá dentro do Palácio, com a presença do papi.

Mas pela defesa do Pazuello e pela “esperteza” do garoto já dá pra prever como será o desenrolar da investigação. Ele, certamente, irá adotar o papel da Glória Pires na entrega do Oscar, como já fez em outras ocasiões.
Aguardemos!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 3/3/2023.

 

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