Buscando encontrar um alívio na alma, os temas de hoje são:

Acredito que após ler estes relatos, passará a dar mais valor a sua vida e agradecer por não ter vivenciado nada assim. O famoso livramento.

Vejamos até que ponto chega a espécie humana, sendo que alguns até acreditam que isso seja saudável.

Outro dia vi uma reportagem de um camarada Fã da Madonna. Ele morava em uma casa simples, caindo aos pedaços, mas tinha tudo que você possa imaginar da Madonna: canequinhas, discos pirata, fotos, DVDs, recortes de revistas em uma pasta, etc. Sabia a letra das músicas, chegava um mês antes nos shows, investia tudo que conseguia nisso. Fora isso, acredito que a única atividade que mantinha era respirar.

Agora, o que dizer desse pessoal que se associa a um Fã Clube, paga uma mensalidade, segue artistas e querem qualquer coisa que venha deles? Um dente, uma meia, um Ioiô…

 

Na minha opinião é um caso psicótico que deveria ser estudado.

 

Como não pertenço a esse mundo, nunca tive esse tipo de comichão em tirar foto ao lado de alguém com que eu não tenha laços. Acredito até que isso possa ser prejudicial em algum momento.

Quando aparo as unhas, na hora de recolher tudo para colocar no lixo, acho um desperdício. Se eu fosse o Elvis eu poderia jogar essas pontas para os Fãs.

Cansei de ver ele enxugando no lenço das pessoas aquele suor gerado por birita e comprimidos, e depois devolver para elas ensopado.

É o carinho dos ídolos, afinal eles merecem isso e muito mais.

 

E esses caras que acampam na porta do Morumbi por três meses bebendo água da sarjeta, fazendo xixi em garrafinhas para ver o Justin Bieber ou outro maluco? Como isso é possível?

Na época que eu acampava tinha que fincar estacas no solo e em muitos campings tomar banho gelado, além de usar um banheiro imundo. Mas era divertido, por uns 5 dias em alguma praia isolada do mundo. Agora, 3 meses no meio de uma avenida em São Paulo?!?

A prefeitura poderia encaminhar um padre ao local para convencê-los a voltar a realidade.

 

Aliás, como esses caras fixam a barraca na calçada? será com fita dupla face? Vai saber….

Para minha sorte não conheço ninguém que faça isso para perguntar. Melhor morrer sem saber.

 

Com esse meu trabalho marginal de projetos e instalações conheci muita gente bacana, mas também todo tipo de maluco.

Gente que conversava com o cachorro como se fosse gente, digo longos papos mesmo, as vezes até rolava uma DR.

Muitas vezes eu queria interceder e concordar plenamente com o cachorro. Era uma situação difícil. Se apoiasse um, poderia não receber, se apoiasse o outro poderia ser mordido. Era um pé em cada canoa.

 

As paranoias foram virando rotina na minha vida.

Quando sentava no carro pela manhã, eu conversava com ele: Azulão, vamos ver hoje o que iremos vivenciar.

O Azulão foi um VW Golf alemão que eu adorava e tivemos um longo relacionamento de 14 anos.

 

Com o tempo fui ficando experiente e quando passava pela porta da entrada já sentia o que vinha pela frente. Os cenários variavam. Um buda gigante com pétalas de rosas no chão, tirar os sapatos ou não. Uma Shiva com dinheiro colocado em volta, a patota do Feng Shui e seus elementos, enfim, cada um com suas pirações e eu no meio disso tudo administrando o convívio.

 

Teve um camarada, de extremo bom gosto, que eu tecnicamente sugeri preparar a parede atrás da tv com uma cor mais escura para realçar a imagem. Ele agradeceu a dica – “Ótimo, deixa comigo”.

Quando eu cheguei lá no dia da montagem, ele comentou: “vamos ver o que você acha, minha esposa não gostou”.

Ele simplesmente havia pintado o teto e todas paredes de preto fosco, manteve apenas a moldura de gesso em branco e colocou um carpete branco de aproximadamente 50mm. Meus pés de meias despareciam no tapete. Não bastasse isso, ele comprou as caixas em cor de vinho.

Deveria haver uma lei contra caixas cor de vinho. A lei do bom senso.

Calma, isso foi só a recepção, não parou por aí. Ele era criador de cães da raça Rottweiler e me deixou sozinho na casa com 24 monstros e monstrinhos soltos zanzando e defecando pela casa e eu não podia sair do Home Theater nem para ir ao banheiro.

Antes de sair, falou- “fica tranquilo, eles não vão mexer com você, são super educados e estão sempre bem alimentados”.

Na verdade, quando abria a porta na esperança de sair dali, via logo aquele sorrisinho de tubarão do maior deles.

 

Uma vez atendi um cliente em Alphaville e, ao estacionar meu carro, notei que ele tinha na garagem dois VW Passat idênticos, prateados e com a mesma placa, apenas variando o último número.

Pensei: Fabinho, Fabinho, mantenha a sanidade, pois hoje vem surpresa e terei muita história para contar.

Cheguei a pensar que o número de série dos carros era em sequência também. Vai saber…

 

Entrando lá tudo em ordem e sem cachorrinhos estridentes. Para quem não sabe (e ninguém é obrigado a saber) há uma lenda dos cachorrinhos que latem alto e agudo pra kct sem parar.

O dono diz: “é que ele quer que você comprimente ele”.

Era só o que me faltava, colecionar mais esse ensinamento. Eu achando que ele precisava de uma bola de meia na boca ou uma pastilha Valda pelo tanto que latiu.

 

Um bom começo para meus tímpanos. Fui desembalando as caixas e levando um susto, as caixas eram cor de vinho!

Enquanto fui montando o som, uma senhora apareceu para me ver.

 

Ela estava tão prestes a dar à luz, que no final eu tive medo de aumentar muito o volume do som e ela estourar ali mesmo. Sem exagero!

 

Era um sábado já por volta das 15h30 e eu não havia almoçado ainda. Quando eu falei que havia terminado e iria embora, ela rapidamente notou que o marido havia levado a chave da porta e se desesperou.

Eu, sem entender nada, disse ok, não precisa ficar assim, e já pensando como eu faria um parto com alicate de corte e soldador.

Estava tudo em mente, bato forte o pé no chão e o bebê espirra para fora direto na toalha que uso para proteger os equipamentos, então corto o cordão com o alicate e cauterizo com o soldador. Tá feito!

Mas na verdade eu disse que sairia pelos fundos ou pela janela, afinal estávamos no térreo mesmo. Então segui em direção da saída.

Ela saiu correndo atrás de mim, entrou na minha frente na porta com os braços abertos, respirando ofegante, me impedindo de sair e dizendo “de jeito nenhum, você não vai sair por aqui”.

A situação ficou tensa para mim, achei que ela ia ter um treco, mas para minha sorte o motorista deles chegou justamente pela porta que eu havia entrado, após uns eternos 10 minutos e eu fui liberado.

Quando perguntei o motivo, ela respondeu com outra pergunta, suando e se abanando:

“Você não sabia que se você saísse por outra porta diferente da que entrou, levaria contigo toda a felicidade da minha casa?”

Juro que não.

Até hoje sou grato por não ter destruído a vida deles, tamanha a felicidade daquele lar.

Mas uma coisa eu levei, uma história para lá de absurda.

 

Durma com um barulho desse. Aí eu conto isso para os outros, acham que eu tomo ácido e querem me colocar camisa de força. Vai entender a humanidade.

 

Ainda em Alphaville, aquela região daria um livro de 5.000 páginas. Não sei se é pela topografia do local, a pressão atmosférica ou o excesso de carros brancos, sei lá…

Tem o caso do cãozinho Spot. Nesse instituto, digo residência, havia um cão Golden Retriever bacana e um coitado super bonzinho Cocker Spaniel chamado Spot e que ninguém dava bola. Inclusive a filha dos donos gritava em pleno sotaque carioquêix:

Hissspóti, sai daqui, por que você não morre?

 

O fato é que o infeliz ficou meu amigo, provavelmente por falta de opção e passou o dia todo comigo. Ele encontrou nas minhas coisas um biscoito sabor morango e quando notei, ele havia comido metade do pacote enquanto eu passava os cabos. Depois dormiu a tarde toda com aquele açúcar no sangue. Grande companheiro! e eu enrolando para usar a furadeira, para não acordá-lo. Boas lembranças do Spot.

 

Tem outro que atendi em Moema, ali é bravo também e quase supera Alphaville.

Para minha segurança e em cooperação ao sistema de saúde mental, acabei fazendo um estudo com base em minhas experiências, onde mapeei os bairros com tendências macabras.

Moema, talvez pelo ronco dos aviões ou pelo excesso de portarias virtuais, suponho que descole alguma membrana no cerebelo ou desenvolva a famosa

“coco-hidro cefalia” que em livre tradução seria “água de coco na cabeça”.

 

Esse camarada de Moema tirou o dia de folga para assistir minha montagem e me entorpecer de perguntas técnicas. Tudo ia bem até que ele começou a se soltar mais e contar que era do Fã clube do Jornada nas Estrelas.

 

Vocês não imaginam como eu fiquei empolgado em saber. Só consegui dizer: A, é?

 

Pensei: Fabinho, Fabinho, minha mãe queria tanto que eu fosse advogado, se propôs a pagar tudo para mim, até a valise 007 e as camisas com monograma ela me compraria, já me imaginava de paletó xadrez, com as unhas sem cutícula e esmalte transparente. Mas eu preferi ficar engolindo água salgada na praia.

 

Agora segura a bucha e senta que lá vem a história.

Passou a me mostrar fotos dos encontros e depois de tudo montado, tive que ver um vídeo com as reuniões.

A certa altura, já zonzo, fiz a bobagem de falar Star Trek.

Ele preferia que eu tivesse xingado a mãe dele. Foi a partida para eu ter que aguentar a explicação das missões. Quase virei uma caveira no sofá.

Por fim, ele desapareceu da sala e para minha surpresa apareceu vestido a caráter para eu ver como ele ficava igualzinho.

Jesus! Aquele foi o chequinho mais sofrido que recebi na minha carreira, e claro, nunca mais esqueci.

Conheci outro que colecionava tranqueiras, tive que terminar os ajustes rapidamente, pois ele tinha um encontro inadiável que era denominado “Confraria dos colecionadores de latas de Cervejas”. Fiquei chateado de ele não me convidar, tanta gente interessante, mas já superei.

 

Confessionário de Autor.

Apesar de alguns casos extraordinários, confesso que eu me diverti muito e apreciei cada um desses momentos. Sempre adorei esse trabalho e cada dia era um desafio.

Eu descrevo essas passagens em tom de brincadeira. Algumas ocorreram há mais de 20 anos, mas eu sempre tirei de letra essas situações e transformei essas pessoas em amizades e relacionamentos que se mantêm até hoje. Sou eternamente agradecido.

 

Apenas finalizando, não fique triste. Por hoje é só, outro dia eu conto mais causos macabros e nunca desista, em breve novos e pertinentes temas.

 

Dhanyavaad

 

Março de 2023

11 Comentários para “Buscando encontrar um alívio na alma, os temas de hoje são:”

  1. Histórias reais com pitadas de risos, cores e um eterno paraíso que é essa louca aventura do viver!
    Gostei!
    Parabéns Fábio!
    Mm

  2. Parabéns Fábio, suas crônicas são hipinotizantes, nos prende a atenção do princípio ao fim. É importante a sua descrição do seu trabalho dia a dia, relatando as situações e “tantas emoções “. Continue escrevendo suas crônicas são muito aguardadas

  3. Fabio, mais uma crônica tão agradável de se ler que nos faz correr os olhos mas com medo que termine logo. Essa sua arte de narrar o dia a dia de atendimento a exóticos clientes/amigos nos leva a crer que o maior desafio do seu trabalho é a história que resultará dele e seu envolvimento. Parabéns! E nós ficamos torcendo para cada vez mais.

  4. Fabião… kkkkk vc está cada vez melhor na sua verdadeira versão Fábio De Domenico.. show …

  5. Demais Fabio! Parabéns por descrever esses clusters ou bolhas tão bem! Faltou os malucos da Riviera. Kkkk

  6. Como sempre hilário ,fazia tempo que não escrevia,não nos abandone…bjo

  7. Fabião, mais um excelente texto, parabéns!
    Sendo um dos seus clientes, conheci o Azulão, carrão! Desejo que aumente o número de patrocinadores para diminuir a distância entre as publicações, são ótimas! A espera do próximo, abração

  8. Ótimo!! Muitas risadas! Obrigado por compartilhar essas histórias conosco!! Realmente impressionante como algumas pessoas são extremamente engraçadas em seus hábitos… Obrigado por nos compartilhar sua visão de Mundo. Muito Legal!! Parabéns

  9. com a dose de glicose que o Spot ingeriu, poderia ter usado a furadeira deboas kkkkkkkkk Muito bom Fábio ter viajado nesses seus perrengues, é pra suspirar e rir ao mesmo tempo, mão na testa e Poutz!!

  10. Como de costume, diversão e leveza nessas estórias colecionados ao longo de anos lidando com seres humanos, que muitas vezes chegam a beira da psicose com seus hábitos e ou manias. PARABÉNS!

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *