Há 40 anos nascia na Ceilândia, a próspera cidade satélite da capital do maior país da América do Sul, uma menina bonita que chegou para alegrar a casa dos felizardos papais Vicente e Maria das Graças. Recebeu o nome de Michelle.
Maria das Graças, porém, logo cedo, entregou a menina para que a avó cuidasse da educação dela.
Dona Maria Aparecida se esmerou na tarefa. Até mesmo escondia da neta as “cabecinhas de merla”, um subproduto da cocaína que vendia nas ruas.
Tampouco lhe mostrava os relógios e o vales-refeições que obtinha praticando pequenos furtos que garantiriam sua sobrevivência.
Mas por esses delitos o pobre senhora foi presa e mais tarde, lá na cadeia, tentou subornar um agente penitenciário para facilitar sua fuga. Mas isso só fez aumentar sua pena.
Quando a pequena Michelle estava com seis aninhos, a polícia descobriu que sua mãe tinha dois registros civis: um verdadeiro e um falso. No falso Maria da Graça decidiu ficar 9 anos mais nova e 13 centímetros mais alta. Por quê? Isso não ficou muito claro. Talvez para se esconder dos assassinos do seu pai, ou talvez para não parecer que tinha algum envolvimento com João Batista Firmo Ferreira, familiar envolvido com milicianos da favela em que morava com sua mãe. Ele estava envolvido na venda ilegal de terrenos dando, como sargento aposentado da PM, total apoio à quadrilha que conseguia seus intentos através de ameaças e até mesmo de eliminação de quem não dançasse sua música.
Bom, isso tudo é só pra conhecer um pouco mais da menina que saiu do submundo do crime para entrar num mundo de crime de categoria A. Subiu na vida, enfim!
Teve a sorte de se casar com alguém que também praticava ilícitos mas que nunca tinha sido preso pelos seus atos. Ele não só não foi preso como chegou a ser o chefe de uma Nação inteira.
Aí sua vida mudou. Entrou de cabeça na religião e, colocando Deus acima de tudo, não mediu esforços para apoiar seu marido na alegria e na tristeza, na saúde e na facada. Sua função era desmentir todos os “boatos” que envolviam o esposo e os filhos que ele teve com as duas ex-esposas.
Foi humilde, sempre praticando o bem. Como primeira-dama fez uma campanha de inverno para aquecer os necessitados e se empenhou com afinco na empreitada. Chegou a arrecadar 148 agasalhos para os pobres, em 2021.
Já em 2022, sempre pensando nos menos abastados, mandou esvaziar o espelho d’água do Palácio do Alvorada para retirar as moedas depositadas no fundo que tinham sido jogadas pelos turistas. Para isso, infelizmente, teve de sacrificar as carpas que habitavam aquelas águas. Mas deve ter se desculpado depois com a força maior que rege sua vida, acreditando estar praticando o bem.
Hoje, ela se divide entre o Brasil, onde mantém um relacionamento com o Partido Liberal comandado por Valdemar da Costa Neto, e o Estado da Flórida, no EUA, onde está morando seu apaixonado marido, impedido, por enquanto de voltar pra cá por pendengas legais.
(Está esperando que sua defesa lhe dê garantias de que não vai ser preso ao chegar, por tentativa de golpe e até mesmo por contrabando de jóias).
Sendo assim, com passaporte diplomático na mão e seu maquiador a tiracolo, Michelle partiu nesta última terça-feira para encontrar seu amado no outro lado do Equador.
Depois do longo período de separação, o imbrochável declarou que se sentia feliz e “aditivado” com a chegada dela.
O amor não é lindo?
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 17/3/2023.