Me perdoe quem gosta, mas particularmente não consigo encontrar onde está a graça em algumas atividades. Talvez seja por falta de informação – ainda não me informaram por qual motivo fazem isso e onde está a parte boa.
Aí vão algumas delas: escalar montanhas, acompanhar eclipse, ver e soltar fogos de artifício, soltar e correr atrás de balões.
O povo das montanhas normalmente morre, ou por conta de congelamento, amputam alguma saliência, que nem sempre é o dedo!! Gezuis!! Se perdem ou morrem de fome, se alimentando com aqueles envelopinhos; enfim, se ferram. Não sei de que meridiano do cérebro vem esse prazer em se ferrar. Ainda que volte com vida e a tal saliência, não me disseram qual é a parte boa, se é olhar lá de cima com falta de ar e não ver nada por conta do nevoeiro ou ficar sem encontrar a sogra aquelas semanas.
Costumam dar um baita trabalho e despesas para o pessoal do resgate. Se eu fosse da equipe do resgate, eu diria, minha senhora, não vale a pena buscar seu marido, por muito menos a gente lhe arruma outro, inclusive com bom senso. Se ele te amasse mesmo, nunca teria deixado sua casa para embarcar numa missão suicida dessas.
Os noticiários de eclipse são soberbos. Infelizmente nunca pelo substancial motivo que foi confirmar em 1919 a teoria da relatividade de Einstein, com uma foto das estrelas durante o dia na cidade de Sobral.
Nenhum jornal deixa de engordar o tempo de TV com essa marola de eclipses. Acho incrível, pois eles sabem que esse fenômeno acontece a cada 254 anos, 3 meses, 9 dias e 16 minutos e por isso eu devo ficar com a cabeça para fora de janela as 3h47 da manhã esperando esse acontecimento? Afinal, não quero perder essa oportunidade de cravar na minha lápide: “Hoje estou aqui, mas em 2016 eu assisti ao eclipse Aécio. E você, viu?” Ainda sugerem que quem estiver nesse horário entre Rarotonga e Kalamazoo poderá ver a Lua em tons de turmalina e fúcsia.
Não menos gerador de acidentes é “A Famosa Queima de Fogos”. Esse clássico já deu problema nos quatro cantos do mundo e continua como a vedete das aberturas ou encerramentos de eventos. Até o Bateau Mouche, aquela pitoresca embarcação símbolo da genialidade da engenharia, carregava quase o triplo de sua capacidade, tinha um deck feito artesanalmente em cimento, escotilhas mal vedadas, motor de lambreta e, entre outros vários motivos, diz a lenda que virou porque todos correram para o mesmo lado, para ver… Guess what?? A queima de fogos!
Não poderia esquecer de comentar sobre a tradicional guerra das espadas que acontece no interior da Bahia, onde “gente” sai com queimaduras de oitavo grau ou perde um olho. É muita diversão, né?
Quando eu tinha uns 12 anos, uma loja de fogos a duas quadras de minha casa pegou fogo. Os estampidos não paravam mais. Fiquei no quintal sentado no balanço, comendo jabuticabas, sem lavar, direto da árvore, vendo e ouvindo meu show particular em 4D! Sim, o aroma de fogos caramuru sobressaiu ao do Panetone Visconti que costumeiramente perfumava o bairro.
Para mim aquilo sim foi um espetáculo, e espontâneo. Sabe a diferença entre novela e teatro?
Me fez lembrar quando meus pais levaram meu irmão e eu para assistir a primeira montagem de peça “Missa Leiga” nos anos 70. Não entendi nada, tinha uns cinco ou seis anos, fiquei ali comendo bombons Danúbio, mas achei uma doideira brava aqueles caras vestidos naqueles trapos e com velas acesas parecendo o Ku-Klux-Klan sem as fronhas na cabeça. Sentamos em uma arquibancada de madeira improvisada e achei que ia virar fogueira lá dentro.
Na Disney tem toda noite. Quando chega o fim do dia e penso que vou pegar o carro antes de todos, voar pro hotel, tomar um banho e sair para comer alguma gororoba da tradicional cozinha americana, o pessoal diz: peraí, tem a queima de fogos!!
Acabo acompanhando pelo reflexo do meu relógio enquanto conto os segundos para acabar.
Na próxima viagem vou perguntar: Vocês são adeptos à queima de fogos? Se falar sim, escolho outras companhias para viajar. Não me pegam mais. Tem gente que acha incrível e já ouvi falar até que dá sorte. Só se for para quem vende. Ô troço chato e repetitivo, pior que Cirque du Soleil. Quem viu cinco minutos viu tudo.
Quanto aos balões e correr atrás deles… Transpira bom senso. Não sou capaz de reproduzir em palavras, é pura emoção.
Pensar que pode cair em algum imóvel e incinerar a conquista de uma vida inteira deve ser muito recompensador para quem solta! Fazer o quê?
E assim caminha (e corre) a humanidade. Atrás dos balões!
Agosto de 2022
Texto super divertido!!!
Sempre me traz muitas recordações. Texto ótimo
Boa Fábio,
Mais uma boa leitura …
Abraços
Mais um texto excelente, parabéns ao mestre Fábio, que nos representa!
Muito bom ler seus textos. Você mistura a realidade, com suas experiências e sempre com uma boa dose de diversão! Eu adoro!
Adorei a Reflexão com Ótimas Ironias! Muito Obrigado meu xará por compartilhar sua inteligência e sua brilhante forma de ver o mundo! Parabéns e Muito Obrigado!