De oito a dez ministros devem sair do governo até 2 de abril, data limite para candidatos às eleições de outubro deixarem seus cargos. À exceção da ministra da Agricultura Tereza Cristina, cuja atuação destoa dos demais colegas, eles não farão falta. O mais grave, talvez, esteja por vir: como o presidente Jair Bolsonaro sempre trocou auxiliares péssimos por piores, uma dezena de mudanças de uma só vez apavora.
Na lista dos que pretendem disputar governos de Estado estão os ministros da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, que Bolsonaro jogou em São Paulo para garantir palanque na terra de Lula e João Doria, e o da Cidadania, João Roma, na Bahia. Onyx Lorenzoni, do Trabalho e Previdência, que já pulou em vários galhos – Casa Civil, Secretaria-Geral da Presidência e Cidadania -, disputará o Rio Grande do Sul.
Para o Senado, além de Teresa Cristina, candidata por Mato Grosso do Sul, Bolsonaro terá o ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, no Rio Grande do Norte, Gilson Machado, do Turismo, em Pernambuco, Flávia Arruda, do Governo, no Distrito Federal, e a única remanescente da turma hard do bolsonarismo-raiz, Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, no Amapá.
Assim como o ex José Sarney, maranhense que escolheu o Amapá para garantir mandato depois da Presidência da República, Damares, paranaense de Paranaguá, dirá que é amapaense desde criancinha, capacitada para representar o estado em que ela crê que terá mais facilidade para se eleger. Pobre Amapá, explorado por candidatos que desconhecem sua identidade, e prestes a ser condenado às meninas de rosa e aos meninos de azul.
Há ainda o ministro-astronauta, Marcos Pontes, candidato a deputado federal por São Paulo, e a turma dos ex-ministros, a mais radical de todas, que deixou no governo sucessores tão ou mais cruéis do que eles.
O ex Meio Ambiente Ricardo Salles, aquele defensor da passagem da boiada que o seu sucessor, o discreto e quase anônimo Joaquim Álvaro Pereira Leite, tem conseguido tocar, quer chegar à Câmara. E o ex Educação Abraham Weintraub vai antecipar sua saída do Banco Mundial para disputar o governo paulista. Não terá o endosso formal de Bolsonaro, mas contribuirá com seu comportamento agressivo e vocabulário chulo na tarefa de desconstruir adversários do patrão.
No caso de Weintraub, ele e seus substitutos escancararam a escolha bolsonarista por currículos rasos e inadequados, quando não falsos, como o do quase ministro Carlos Decotelli. O atual, Milton Ribeiro, é mais um expoente desse inferno de deseducação. Suas prioridades estão no ensino domiciliar, na religião, na pregação homofóbica e no banimento das diversidades.
Ribeiro soma-se a Marcelo Queiroga, o médico que assumiu o Ministério da Saúde depois do general trapalhão Eduardo Pazuello, que pode disputar a Câmara ou o Senado pelo Amazonas.
Os substitutos foram bem-vindos, mas rapidamente se mostraram tão ou mais sabujos do que seus antecessores. Queiroga chegou ao cúmulo de propagandear o kit-Covid, com a tal da cloroquina, rechaçada pela ciência e que país algum adota. Até o ex Donald Trump, idolatrado pelo bolsonarismo, desistiu da droga, despachando lotes volumosos dela para o Brasil e outros países quinto-mundistas.
Seja pela posição anti-vacina do capitão, pelas encrencas que se meteu na defesa do indefensável ou por apelos do chefe, Queiroga parece ter desistido de disputar votos. Mas, na mesma toada de Bolsonaro, que empreendeu seus filhos na política com lucros para ele e a prole, deve lançar o seu caçula, Antônio Cristóvão Neto, de 22 anos, na disputa à Câmara pela Paraíba.
Tudo é tão absurdo em tempos bolsonaristas que os indicativos de que o ministro da Saúde continuará o mesmo é quase um alívio. Embora péssimo, Queiroga é um mal conhecido, e a permanência dele não abre a porteira para algo ainda mais assustador.
Entre os apoiadores radicais e os neo-aliados, a briga para emplacar substitutos é ferrenha. Pelos critérios do presidente Bolsonaro, vencerá a batalha quem oferecer os piores currículos.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/3/2022.