Para definir a postura do nosso (nosso por imposição, não por opção minha) presidente em evento recente do qual participou, recorri ao dicionário para pesquisar a primeira palavra que me veio à cabeça: Patacoada.
Encontrei lá: substantivo feminino que indica jactância ridícula, impostura, disparate, mentira, e seus sinônimos: bazófia, fanfarronada, gabolice.
Vem bem a calhar (embora eu classifique o ato como filhadaputice extrema) para retratar o episódio circense – onde, infelizmente, é o povo que representa o papel de palhaço – apresentado na última quarta-feira quando o pitbull condenado a quase nove anos de prisão Daniel Silveira foi indicado para acumular cinco funções na Câmara dos Deputados: membro titular na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), nos grupos de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, Esporte e Cultura e suplente na Comissão de Educação.
Péra! De que Justiça poderia tomar conta se ele mesmo não obedece à lei? (Alguns deputados também se fizeram essa pergunta e chegaram à conclusão de que aí já seria demais da conta o titular do colegiado, no caso um condenado, avaliar se os projetos de lei da casa estão de acordo com a Constituição. Mas como é o partido do pitbull que decide quem bota lá, o mais provável é que ele fique mesmo.)
E os deputados se divertiram no evento que poderia ser chamado de tapa na cara do STF. A festa da graça, mas não de graça, entusiasmou a plateia governista que, em êxtase, aplaudiu e gritou palavras de ordem. Teve até um deputado mais animado que arriscou um “Chupa, Xandão”, mostrando que essa turma não tem o menor respeito pela Corte Suprema ou por quem quer que seja.
E para a palhaçada ser completa a festa de torcida organizada contou até com a presença do seu protetor, o outro valentão que gosta de afrontar as instituições, Jair Bolsonaro, que, para mostrar como se sente orgulhoso de seu ato, levou o decreto emoldurado para presentear o meliante, digo, parlamentar. (Talvez sirva para decorar sua cela quando essa patacoada terminar.)
Além de “causar” com o decreto da graça a um condenado, Bolsonaro, voltou a insistir na falta de credibilidade das urnas eletrônicas. As mesmas que o elegeram e elegeram também toda a quadrilha, ops, clã Bolsonaro, a torcida organizada, todos os governadores, prefeitos e vereadores do país. Defende que os votos tenham uma contagem paralela pelas Forças Armadas.
Fico aqui imaginando a turminha do pijama que até agora estava contando comprimidos de cloroquina e de Viagra tendo de se deslocar para os postos de votação e ficar atrás do eleitor fiscalizando o número que apertou.
Outra patacoada da semana vem dos tuiteiros bolsonaristas. Foi só anunciarem a compra do Twitter pelo ricaço das direitas Ellon Musk que os véios da Havan já botaram as manguinhas de fora anunciando um estrondoso aumento de seguidores. Com ele vieram as bias beijos, as carlas zambestas e outros. Todos esperançosos de que vão poder usar e abusar das fake news daqui pra frente.
E isso, não há dúvida, eles sabem fazer muito bem!
Mas as notícias da semana também trazem patacoadas divertidas. Uma publicação desta quinta-feira pelo site R7 conta que o japonês Akihiko Kondo está com problemas de relacionamento com sua mulher. Ele se casou em 2018 com um holograma de uma cantora pop e agora reclama que o dispositivo usado para conversas deixou de funcionar. A matéria não esclarece se outros dispositivos para outras coisas ainda funcionam.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 29/4/2022.