Estado terminal

É chocante o relato feito pelo vice-presidente eleito Geraldo Alkmin sobre o estado de coisas encontrado por ele e a equipe do governo de transição, após um mês de busca de informações e documentos da gestão que dá seus últimos suspiros no Planalto Central. Alkmin foi governador de São Paulo por três mandatos não consecutivos, fora o período em que passou de vice a titular com a doença e morte de Mario Covas no início de 2001. Fala com conhecimento de causa, a experiência e seriedade que o tornaram um fenômeno político e administrativo sem paralelo desde a chegada dos portugueses a estas terras.

Ridicularizado por Paulo Maluf como nosso picolé de chuchu, Alkmin nunca perdeu a calma com seu adversário e outros da mesma estirpe, para usar uma palavra elegante. Seguiu ali na sua toada, colecionando eleições no estado mais rico e empreendedor da Federação. Conciliador até a raiz dos cabelos que agora já lhe faltam, o médico Geraldo Alkmin não falou para puxar briga com seu paciente, mas para fazer uma constatação do estado de saúde em que encontrou o governo terminal.

Foi didático, sereno, objetivo como um profissional da medicina deve ser ao dar tanto as boas como as más notícias. De boas, no caso, não tem nenhuma. Todas as políticas públicas trabalhosamente construídas desde o fim da ditadura de 64-84 pelos governos democráticos que se sucederam estão em escombros. Órgãos vitais para o desenvolvimento econômico sustentável, a proteção de nosso patrimônio natural e cultural e a participação da sociedade nas grandes decisões nacionais viraram pó. Faltam documentos, lançamentos, referências. A inflação voltou, os preços dispararam e o emprego virou bico – acrescento. O estado é de falência múltipla de órgãos.

O novo governo terá de fazer tudo de novo e muita coisa vai ficar para o próximo ou próximos mandatos, na suposição de que estarão vacinados contra verminoses, pragas e tumores plantados no organismo estatal entre 2018 e 2022. A ruína foi política de governo anunciada aos berros pelo então candidato da ultradireita em 2018 – “nós vamos destruir tudo que está aí” – e executada com a facilidade dos selvagens, sob palmas dos adeptos no Congresso Nacional e o olhar complacente de outros.

Foi tão grande a “competência” que, nas palavras de Alkmin, se o desempenho do próximo governo for mais ou menos já terá sido melhor que o atual. Vai pegar um bonde andando sem rodas e fora dos trilhos.

Consequências do voto irresponsável e maléfico da maioria alucinada do eleitorado em 2018. O que se colhe é o que se planta.

Nelson Merlin é jornalista aposentado. 

Dezembro de 2022

 

 

 

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