A semana foi cheia de conversas que merecem uma certa reflexão da nossa parte para decifrá-las. Ou, pelo menos, tentar decifrá-las.
Na última terça-feira surgiu um áudio em que o general Augusto Heleno diz temer pela vida do presidente Jair Bolsonaro. Em seus devaneios, essa seria “a solução mais rápida” por parte dos adversários.
De onde teria surgido essa ideia estapafúrdia?
Refletindo sobre isso, poderíamos atribuir a um certo grau de senilidade, não tanto pela idade (apesar da aparência ele tem apenas 74 anos; jovem ainda pelos padrões atuais), mas pelo que já passou ao longo de sua carreira de militar. Afinal, ter sido um capitão da linha dura do Exército Brasileiro na época da ditadura pode ter afetado seus neurônios, que devem estar buscando até hoje os “comunistas” contrários ao regime. (Na época, todos que se manifestavam contra a ditadura eram comunistas, fossem eles ou não. A mesma classificação que a extrema direita faz hoje sobre quem não aceita o (des) governo do Jair. Se você não é bolsonarista você é comunista e ponto final.)
A segunda hipótese está calcada em suas próprias palavras: “Todos os dias tomo dois Lexotans na veia”.
Embora esse tranquilizante não seja considerado um dos mais fortes na farmacopeia da saúde mental, pode, com seu uso contínuo, causar demência em alguns usuários. Nesse caso, já estaria na hora de trocar o calmante por um antipsicótico antes que ele comece a conversar com pajaritos.
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O presidente também andou falando bobagens (nossa! O presidente falando bobagem? Que inédito) durante um encontro que teve com empresários na Fiesp, nesta última quarta-feira. Meio que se vangloriando do fato, contou que demitiu integrantes do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) após a construção de uma loja da Havan ter sido interditada porque uma peça de cerâmica, que indicava ser ali um provável sítio arqueológico de valor histórico, foi encontrada no terreno. Primeiro ele teve que pesquisar o que era IPHAN “com PH” porque, como declarou, “não sou tão inteligente quanto meus ministros”. (A julgar pelos seus ministros, Bolsonaro deve ter um QI abaixo do PIB.) Em seguida disse: “Ripei todo mundo do IPHAN”. Com essa fala arrancou aplausos e gargalhadas da seleta plateia.
Numa rápida reflexão sobre o episódio, podemos chegar às seguintes conclusões:
Um: O presidente é mesmo um ignorantão, e assume isso publicamente.
Dois: não tem a menor ideia do que representa o patrimônio histórico de uma Nação.
Três: é capaz de passar o trator sobre as leis e sobre a ética (como se soubesse o que é isso) em prol de um véio que bancou sua candidatura e que banca até hoje as mentiras saídas das máquinas de fake news do governo.
Quatro: constata-se que existem sim, empresários imbecis que apoiam atos ditatoriais de um presidente, que, teoricamente, deveria respeitar as leis e a democracia.
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Outro episódio que chamou a atenção nesta semana foi o da festa de confraternização da Caixa Econômica Federal comandada pelo seu presidente Pedro Duarte Guimarães. Desses bolsonaristas roxos que não medem esforços para puxar o saco do chefe, Guimarães humilhou funcionários ordenando que fizessem dez flexões de braço durante o evento, para agradar ao chefe.
Alguém pode ter dito pra ele que uma festa de confraternização de fim de ano seria um bom momento para reflexões sobre o trabalho em conjunto executado ao longo destes 365 dias passados.
Mas ele deve ter entendido flexões!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 17/12/2021.