No último dia 4/10, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, acabou virando notícia por ter usado um termo agora considerado racista, em entrevista a duas jornalistas negras da GloboNews.
Ele começa a entrevista saudando a apresentadora Aline Midlej e a comentarista Flávia Oliveira com um boa noite, seguido do comentário: “Estou com inveja branca de vocês por estarem aí no Rio”.
Em seguida percebeu ter falado algo hoje em dia proibido, e pediu perdão às duas dizendo que o que tinha dito era politicamente incorreto – e recomeçou a entrevista.
Elas aceitaram o pedido de desculpas, meio que constrangidas, segundo as matérias que li a respeito.
Não sei há quanto tempo essa frase foi inserida na lista do politicamente incorreto. Só agora tive conhecimento e, honestamente, não consigo reconhecer ali uma conotação racista.
Na paleta de cores do Universo, cada uma delas tem sua representatividade individual sem nenhuma relação com a cor da pele de cada indivíduo.
Não consegui enxergar insulto de racismo numa “inveja branca”. Pra mim, isso é só uma invejinha saudável, sem raiva, já que o branco simboliza a paz, a pureza.
Fui até procurar no dicionário o que significa racismo e encontrei isso: racismo consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Nada a ver, portanto, com a frase de Barroso.
Esse é um assunto importantíssimo, e precisa ser tratado com a devida seriedade, mas daí achar que tudo é racismo deixa até o ser mais notadamente antirracismo do mundo pisando em ovos. Não se sabe mais o que pode e o que não pode ser dito sem parecer ofensa.
Embora muita gente não concorde, acho racismo, por exemplo, quando se vai preencher uma ficha e aparece lá: cor.
Pra mim fica parecendo que a cor colocada no espaço vai determinar se a pessoa preenche os requisitos aos quais se destina o questionário.
Tinha um amigo jornalista já falecido que também se incomodava com isso. Tanto que, quando teve de preencher esse campo, escreveu azul. A pessoa que leu perguntou: por que azul, senhor? Porque eu gosto! Ótima resposta, que eu traduzi por: o que interessa a você a cor da minha pele?
Se a gente começar a procurar chifre em cabeça de cavalo em tudo o que se ouve por aí, logo ninguém mais conversa com ninguém.
Nem pensar em usar expressões como “ficar vermelho de vergonha” perto de um indígena. Ele pode se ofender e retrucar: o que você disse, cara pálida? Aí quem se ofende é o cara pálida.
Também melhor não dizer pro Hiroshi tirar aquele sorriso amarelo da cara. Vai achar que é preconceito contra os orientais.
E se for sair pra uma festinha não comente com ninguém que você vai com seu pretinho básico. Pode ser mal interpretada.
O que precisa ser entendido é que brancos, pretos, amarelos, vermelhos e até os azuis, como queria meu amigo, são seres humanos que colorem a vida, mas parece que essas patrulhas querem desbotar o que foi pintado um dia pelo grande mestre.
Vão caçar sapos, caras! Opa! Melhor usar outra expressão antes que a Sociedade Protetora de Animais caia de pau em mim.
Xiiii! Cair de pau acho que também não pode. Os pudicos da goiabeira vão achar que tem conotação pornográfica na frase.
Ah, sei lá. Façam alguma coisa que realmente contribua para o bem de todos. Uma sugestão: vão atrás dos políticos que, esses sim, promovem a segregação racial a céu aberto, gastando os tubos com cartão corporativo além de se refestelarem com todas as outras benesses que seus cargos permitem, enquanto o povo, de várias raças juntas e misturadas, se estapeia na porta do caminhão do açougue pra conseguir pegar um osso!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 8/10/2021.