Numa tentativa de intimidar os deputados no dia em que iriam votar a PEC do voto impresso, seu sonho de consumo, Jair Bolsonaro resolveu passar um micão e promover um desfile de tanques de guerra para fazer fumaça. Nesse caso, literalmente. Pelo menos um dos veículos soltou muita fumaça escura, o que gerou um monte de comentários e de memes por parte dos internautas.
O jornalista Claudio Dantas disse que o desfile era só mais uma “uma cortina de fumaça” da Presidência; outros disseram que os sucatanques estavam fazendo fumacê na frente do Planalto para acabar com os insetos perniciosos que infestam a Praça dos Três Poderes. Houve quem chamasse o desfile de micareta do picareta. Enfim, não faltaram piadas. E não se pode dizer que eram sem motivos. Bolsonaro mais uma vez estampou manchetes do mundo todo com essa palhaçada inútil e ridícula.
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Mas teve quem gostou (sempre tem). Alguns gados pingados presentes à praça se arriscaram a pedir intervenção militar, ou porque não sabem o que isso significa ou só para ganharem um sorriso de aquiescência do presidente. Ele, que sonha com generais batendo continência à sua figura patética, que delira em mandar e desmandar no país sem a presença de um Supremo para atrapalhar seus planos, fica feliz com essas reações públicas. Chega a achar que a população inteira o apóia nesse seu desvario.
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Depois de esgotado todo o estoque de piadas sobre o assunto, Jair enfiou a viola no saco e foi pra casa, onde teve de amargar uma derrota promovida pela Câmara dos Deputados quando viu que sua PEC estava indo pra PECquepariu.
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Outro que se deu mal durante a semana foi o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros. Foi lá depor na CPI cheio de arrogância para tentar salvar sua pele, mas levou uma invertida dos senadores, que apresentaram provas explícitas de suas mentiras.
Teve bate-boca acirrado e ele acabou sendo “chutado” da CPI pelo presidente da Comissão, senador Omar Aziz, que encerrou a sessão sumariamente, não permitindo que Barros despejasse mais do seu sobrenome no ambiente.
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Em seguida teve entrevistas coletivas dos dois lados. Os senadores da ala investigativa declararam que Ricardo Barros vai voltar à CPI como convocado e vai ter de dançar miudinho para explicar todas as tramóias em que se meteu na tentativa de compra da vacina Covaxin, com uma boa dose de propina adicionada.
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Já a turma do passa-pano pro presidente se aboletou ao lado do Barros como que formando uma tropinha de choque para responder às perguntas da imprensa. O líder do governo, espumando, cantou de gado e disse que não vai permitir que a CPI o trate dessa maneira e vai provar que ele tá mais limpinho que bumbum de anjo.
Depois deram a palavra para o Bartholomeu Guimarães dos governistas, o senador Luiz Carlos Heinze. Toda vez que é “acordado” repete seu bordão pandêmico: “tratamento precoce”. Repararam? Ele só pensa naquilo, mesmo depois de todas as provas de que não existe tratamento precoce contra vírus. Pena que ele não seja tão engraçado quanto o Bartholomeu encarnado por Ronald Golias.
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Outra palhaçada foi a interpretação canastrona da deputada Flordelis, cassada pela Câmara. Disse que sai de cabeça erguida e que não vai pagar pelos erros dos outros.
Cuidado, moça! Você pode bater a cabeça na porta do presídio e ainda ficar com a fama de caloteira.
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Para completar as balelas da semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que até dezembro a população vai poder tirar as máscaras.
Ele não disse, porém, como o governo está se preparando para atender aos doentes dos meses seguintes.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 13/8/2021.