Desculpem aí, Melquior, Baltasar e Gaspar, por ter me inspirado nos presentes que vocês levaram ao menino Jesus (Incenso, Ouro e Mirra) e ter adaptado aos “presentes” que o Brasil tem recebido de seu presidente, não só nesse Dia de Reis, como em todos os outros do ano.
Ele, numa versão malfadada dessa generosidade de vocês, até agora só nos trouxe Nonsense, Arma e Birra.
NONSENSE
Todos os dias a gente tem de ouvir nas lives ou nas “entrevistas” concedidas à sua claque no cercadinho uma série de frases sem sentido, que, justamente por não terem sentido, acabam provocando um caos dentro do seu próprio governo.
Nesta terça-feira, o sem noção disse: “O Brasil está quebrado e eu não posso fazer nada”.
Já deu pra imaginar um monte de investidores pondo as mãos na cabeça e gritando desesperados: “meu Deus! em que pau fui amarrar minha égua”!
Na outra ponta, já se via o ministro da Economia e sua equipe convocando o grupo Molejo para cantar com ele a Dança da Vassoura: Diga aonde você vai que eu vou varrendo… Aliás, tarefa difícil essa de varrer o lixo diário que o presidente espalha.
Tiveram de se virar nos trinta pra contar pra todo mundo que o Brasil só estava quebrado na cabeça oca daquele ser que ocupa o trono no Palácio do Planalto, e que até hoje não entendeu o que isso significa.
Horas depois o ministro Paulo Guedes apareceu pra passar um pano pro Bolsonaro e disse que o presidente só “reforçou o compromisso do governo com o teto de gastos”. Então, tá! Quer dizer que ele não falou nenhuma bobagem, né, Paulão?
Tanto falou que o próprio Jair, no dia seguinte, irônico, disse rindo: “Confusão ontem, viu? Falei que o Brasil tava quebrado? Não, o Brasil está bem, está uma maravilha”. E crau na imprensa.
Em outro ato de insensatez, Jair Bolsonaro se jogou ao mar no fim de ano para nadar com seguidores (há uma versão de que o diretor artístico do Planalto, junto com a equipe da produção, teria levado a claque de sunga para lá minutos antes do evento) e logo depois se deixou filmar com uma criança no colo, dizendo pra ela que o “tio” tinha entrado no mar com máscara pra não pegar (sic) Covid nos peixinhos.
ARMA
Em 9 de Dezembro de 2020, Jair Bolsonaro comemorava o fim da taxa de importação de 20% sobre revólveres e pistolas.
Em 6 de Janeiro de 2021, o governo anuncia que suspendeu a compra de seringas por causa dos altos preços.
Alguém desenha pra mim porque não consigo entender como um governo, em plena pandemia, se preocupa em assinar decretos que isentam alíquota de importação de armas e não se mexe pra comprar seringas ou vacinas!
No pregão eletrônico realizado no fim do ano, o governo conseguiu comprar menos de 8 milhões de seringas no lugar das 331 milhões de unidades planejadas. Por quê? Porque os preços estavam acima dos que o governo queria pagar, alegaram. O Palácio do Planalto, porém, não se importou em gastar, só neste ano, quase R$ 28 milhões — 17 vezes mais do que Temer gastou— com propaganda no exterior. (Também, não deve sair barato tentar apagar a imagem lá fora de um néscio que ocupa o cargo mais importante de um país.)
BIRRA
Esse terceiro “presente” já virou praxe para o presidente Jair Bolsonaro: a birra com a imprensa.
Bolsonaro acusa a imprensa de exagerar nos números de mortos e de infectados (bem que ele podia passar uma semaninha em Manaus, por exemplo, visitando hospitais) e agora acusa a mídia também de ter dado muita importância à sua fala sobre o Brasil estar quebrado.
Pô, cara! Fala merda e quer que a imprensa divulgue flores?
É só parar de bancar a Ofélia do Fernandinho — a grã-fina retardada que só abria a boca ‘quando tinha certeza’ —, que nada vai acontecer. (Não por acaso, ela participava do Zorra Total.)
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 8/1/2021.