Essa expressão genuinamente brasileira existe, tá no dicionário e é empregada como sinônimo de confusão, balbúrdia, bagunça, situação descontrolada.
Lembro que foi um radialista daqui de onde moro, e que sempre cobria os jogos de futebol no estádio local, quem usou essa expressão publicamente. Não vou saber agora qual era o time adversário ao nosso naquele dia, mas sei que, em dado momento do jogo, deu uma encrenca daquelas. Era jogador dando voadora em jogador, era jogador chutando a bunda do juiz, era bandeirinha levando bandeirada na cabeça, técnicos se estapeando, cartolas, parentes e amigos dos jogadores entrando na briga. Um furdunço generalizado.
De lá da cabine de transmissão da rádio local, o narrador chama o repórter de campo e pergunta: como está a situação aí embaixo, Joel? Ele, no ar, responde: “Tá um verdadeiro cu de boi”!
Não era, certamente, uma expressão apropriada para se usar na rádio, mas era a que mais desenhava o momento.
E essa é a mesma expressão que vou usar agora para comentar sobre o fim da sessão da CPI desta última quarta-feira: um verdadeiro c* de boi.
Depois de passar horas ouvindo o depoimento de Roberto Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, acusado de ter participado do rumoroso caso de propina na compra de vacinas, o presidente da Comissão, senador Omar Aziz, perdeu as estribeiras e deu voz de prisão ao meliante, digo, ao depoente.
Aí a casa pegou fogo. Os senadores governistas berravam (especialmente o senador Fernando Bezerra) que a prisão era inconstitucional, injusta, indevida e outros in.
Alguns senadores oposicionistas, inclusive, ficaram contra a decisão. Os mesmos que em outras oportunidades pediram a prisão de vários depoentes.
A torcida do Omar concordou e afirmou que ele estava no seu direito, já que os depoentes prestam juramento de dizer a verdade, somente a verdade durante a inquirição – diferentemente de um acusado que pode mentir durante o julgamento porque, pela lei, ele não é obrigado a produzir provas contra si mesmo.
E o que o senhor Roberto Dias fez do começo ao fim foi falar mentira, somente mentira. Com provas explícitas de áudios que envolviam o depoente, Omar Aziz mandou executar a primeira prisão de um mentiroso que passou por lá.
Dias contou que tinha ido tomar um chopps (aqui na minha terra a gente fala tomar um chopps e comer um pastéis. Nóis é caipira da gema), e de repente, aparece seu colega de trabalho, o coronel da reserva Marcelo Blanco, levando a tiracolo Luiz Paulo Dominguetti (outro mentiroseti que depôs semana passada), se dizendo representante da Davati Medical Supply, e que tinha um verdadeiro negócio da China pra oferecer ao governo brasileiro: 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca pela bagatela de U$ 3,50 cada.
Roberto Dias não mencionou, mas Dominguetti entregou que ele aproveitou a oportunidade e pediu para acrescentarem um dólar a mais em cada dose, para o choppinho, sacumé?
De posse dos áudios com as conversas dos envolvidos marcando esse encontro “casual”, Omar Aziz ficou muito puto e cuspiu fogo pra cima do farsante. Também aproveitou para mostrar a sua – e a nossa – revolta à “ala podre do Exército” que se submete ao capitão genocida.
Isso rendeu uma nota de repúdio das Forças Armadas, que deram uma de tia do Zap e distorceram a fala do senador.
Essa nota tem o claro intuito de intimidar Aziz e a quem quer que seja que não ache natural ver as Forças Armadas envolvidas em política e muito menos em falcatruas. Ameaçar um senador que está em busca da verdade e acobertar o “gordinho preferido” do presidente ou qualquer outro fardado metido na lama bolsonarista não é o que se espera das instituições protetoras da Nação.
Já temos bastante c* de boi pra encarar. Não precisamos de mais um.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 9/7/2021.