Para a cúpula dos 20 Mais, os países com destacada expressão cultural, decidiu-se que o mandatário da terra de Guimarães Rosa e Machado de Assis teria um assessoramento especial no tocante ao comportamento. A exortação partiu de um grupo de embaixadores, preocupado com as reações deseducadas do presidente da República.
Dois especialistas em etiqueta e boas maneiras foram destacados para a missão. Tratariam de mudar o homem rústico, de maus modos e palavreado chulo, para alguém que se enquadrasse, pelo mínimo que fosse, à figura de um estadista.
Trabalho (com perdão da literatice) hercúleo. O homem resistia. Temperamento e despreparo à parte – achava tudo veadagem -, preocupava-se com seu eleitorado. O que diria o público de suas lives, ou a turminha da saída do Palácio da Alvorada, se o vissem no noticiário da tevê como um bibelô falando bonito?
Por fim, acabou prometendo que faria o possível… O que não se esperava é que, durante o encontro, mais de um participante fizesse acerbas críticas ao brasileiro, por assuntos fora da agenda, como vacinas e Amazônia. À saída, a Imprensa o cerca:
– Presidente, o que o senhor achou das críticas que lhe fizeram? – pergunta uma repórter.
Os dois especialistas em boas maneiras, que integraram a comitiva, se entreolham, sorriso nos lábios, esperando desfrutar do êxito de seu trabalho.
– Evacuei para eles – diz Bolsonaro.
À sua maneira, foi fino.
Julho de 2021