Diagnosticado com Covid-19 desde o começo do mês, o presidente Jair Bolsonaro positivou em três testes para a doença.
A partir do primeiro, já começou a tomar o que ele decidiu ser o verdadeiro elixir da vida, a famosa e ineficaz (segundo estudos médicos feitos no mundo todo) cloroquina.
No dia 7 de julho, publicou uma live tomando sua terceira dose e se dizendo muito melhor.
Não satisfeito com a live, no último dia 19 apareceu no gramado do Palácio da Alvorada chacoalhando uma caixinha de cloroquina para seus fiéis seguidores, que repetiam o grito de guerra: “cloroquina, cloroquina, cloroquina!”, como se estivessem torcendo para um time de futebol.
Mais um tempo e eles começariam a cantar olé, olé, olé, olá, cloroquina, cloroquina , ou quando surge a cloroquina imponente, no gramado em que a luta a aguarda…. Ou ainda salve a Cloroquina, a campeã das campeãs…
Isso até lhe custou uma investigação por parte do TCU, que quer saber se a “propaganda” feita com tanto entusiasmo teve influência direta no consumo da droga por parte da população. A representação é do subprocurador Lucas Rocha Furtado e o relator será o ministro do Tribunal de Contas da União Vital do Rêgo. (Não posso ouvir esse nome sem pensar no tanto de bullying que essa pessoa deve ter sofrido ao longo da vida.)
Terça-feira, dia 21/7, Jair Bolsonaro se submeteu ao terceiro teste e esse também deu positivo, o que leva por água abaixo a teoria de que a Cloroquina cura a Covid-19.
E não só não cura como pode provocar uma baita arritmia em quem está fazendo uso dela, como afirmam os estudiosos. Tanto que, segundo o ex-ministro da Saúde (saudades dos tempo em que tínhamos um) Luiz Henrique Mandetta disse em entrevista, que o presidente faz três eletrocardiogramas por dia e tem uma ambulância na porta do Palácio da Alvorada, onde está quarentenado, à sua disposição, caso necessário.
O que significa que ele é louco mas não rasga nota de 100. E que confia (será que confia mesmo ou está só querendo se livrar do enorme estoque que o laboratório do Exército produziu?) desconfiando.
Ou, como se diz por aí, é só mesmo porque quem tem cu tem medo.
A partir dessas informações passadas por Mandetta, fica no ar a pergunta: as cidades que vão na contramão das recomendações mundiais da saúde, e adotaram o protocolo de distribuir o kit-cloroquina para os pacientes com suspeita da doença, estão dando essa assistência a eles? Claro que já sabemos a resposta.
A maioria nem nunca ouviu falar em eletrocardiograma, quanto mais fazer um como medida de precaução contra os efeitos colaterais da droga.
Mas, como tudo no Brasil anda na contramão, adivinhem quem apareceu passeando de moto nos gramados do Palácio da Alvorada nesta última quinta-feira?
Acertou quem falou que foi o garoto-propaganda Cloroquino de Jesus.
Mas até aí tudo bem, um passeio de moto não mata ninguém. O problema é que, em dado momento, Bolsonaro tirou o capacete e conversou, sem máscara, com os quatro garis que faziam a limpeza do local. E pra não dizer que isso é invenção da imprensa, a agência Reuters registrou tudim, com fotos que podem servir para uma futura indenização caso esses profissionais da limpeza venham a adoecer e até a morrer.
Conclusão: do começo do mês pra cá, nada mudou. O presidente continua positivo e inoperante.
E sobre exibir uma caixa de cloroquina para as emas que habitam o gramado do Palácio, nem vou comentar porque teria de acrescentar mais um adjetivo ao título.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 24/7/2020.
A foto é de Adriano Machado/Reuters.