Marina enroluda, mas definida

Cada dia é de um jeito, claro. Há dias em que Marina faz a chamada via Messenger pontualmente às 11h30, ou apenas 1 ou 2 minutos depois do horário combinado. Há dias em que Marina não sabe muito bem do que quer brincar. Demora um pouquinho a se definir.

No sábado 16 de maio, dia da telenetada número 38, demorou quase meia hora para ligar. Segundo expressão brilhante da mãe, a quem perguntei por que o atraso, se era por causa da limpeza dos potinhos da Mel, ela estava “atrasada com a enrolação que Deus lhe deu”.

Perfeita expressão de uma característica da pequena. Ela é enrolada. Enroluda, como gostamos de dizer.

Quando afinal ligou, quase meio-dia, estava perfeitamente definida quanto ao tema: nos informou de cara que era o aniversário da Linda.

E foi aniversário da Linda o tempo todo – quase 2 horas de brincadeira. Ela preparou a aniversariante com todo cuidado – cabelos, roupa. Depois começaram a chegar os convidados, as meninas também todas muito bem cuidadas.

A primeira a chegar foi a Clidleby, que há muito tempo não víamos – e a vovó não se conteve: – “Marina, só você para inventar esse nome para uma boneca!”

Sem dúvida.

Pronuncia-se Clídoubi. Proparoxitona. Clíííídoubi. Como acho que é um nome puxado para o inglês, acho que a boa grafia seria essa, Clidleby, com “le” funcionando com em “trouble”, ou “table”. Fica mais elegante.

(Marina tem uma tendência a inventar palavras que parecem ser da língua inglesa. Hoje mesmo ela nos apresentou um bonequinho que não conhecíamos que vira uma bolinha – e o nome dele é Borrow.  Bórou, ela diz – portanto Borrow. Exatamente como o verbo que significa tomar emprestado de. Ou, em paulistês, emprestar de. Paulista não diz “eu peguei emprestado do banco tantos mil”, ou “fiz um empréstimo no banco de tantos mil” – diz emprestei do banco tantos mil. Mas isso aí já seria parênteses dentro de parênteses.)

A vovó perguntou se a Clidleby não havia trazido presente, e aí… pronto. Danou-se. Ou tornou-se mais divertida a brincadeira.

A pequena levou uns bons 5 minutos, talvez mais, talvez uns 8, ou mesmo 10, preparando, com carinho e cuidado, os presentes levados pela Clidleby para a Linda. Porque é assim: não é um presente, são vários. E tudo tem que ser cuidadosissimamente bem embrulhado.

A convidada que chegou a seguir também trouxe presentes – e a organização dos presentes dela também levou um bom tempinho.

Do lado de cá, a vovó se ofereceu para fazer salgadinhos. Enquanto Marina ia recebendo os convidados para a festa de 3 anos da Linda, a vovó ia preparando salgadinhos com a massinha Play Doh – lindíssimos salgadinhos, pastéis, coxinhas, bolinhos de queijo, torta… Mandei foto para a Marina e a mamãe verem.

***

Como nas festas de crianças de hoje em dia, quer dizer, de antes da pandemia, houve uma sessão de maquiagem das convidadas. A gente sabe disso porque, naqueles velhos tempos pré-pandemia, levamos a Marina a umas duas ou três festas de aniversário de coleguinhas dela, e vimos como funcionam as coisas.

A pequena disse que não iria demorar, saiu do nosso campo de visão e foi atrás da mãe pedir ajuda. Pouquinho tempo depois, estava de novo diante de nós com uma pequena vasilha de água e um conjunto de lápis aquarela.

Primeiro maquiou a própria aniversariante, a Linda, cuidadosamente, meticulosamente, com um unicórnio. Marina adora unicórnios – e a gente havia mencionado que, numa das festas a que fomos com ela, tinha pedido para ser maquiada com um unicórnio.

Depois maquiou a Clidleby com uma borboleta.

Quando chegou a vez da Júlia, bonequinha linda de pele negra, maquiou-a com uma onça. Esperta, danadinha: cores claras sobre rosto escuro.

Ficaram lindas, todas elas.

O mundo gira, a Lusitana roda, el tiempo passa, todo cambia – e quando estávamos aí com mais de uma hora e meia de brincadeira, que é o tempo em geral das netadas, e a mamãe estava indo pegar a comida encomendada na portaria, a vovó e o vovô encaminharam que seria a hora do tchau.

Marina reclamou: – “Mas a mamãe ainda não voltou com a comida! Por que a gente não pode brincar mais?”

De uma coisa não se pode reclamar: Marina não se cansa de brincar. Sempre, sempre quer mais.

Às vezes, quando chega a hora do tchau, Marina se irrita, faz cara feia, choraminga, inicia um chilique.

Pode alguém em sã consciência achar um absurdo uma criança de 7 anos de idade que está há 60 dias trancada em casa ter momentos de irritação, cara feia, chilique?

Hoje Marina não fez nada disso. Diante de nossos argumentos de que era hora, ligou o teclado na música que acompanha todo dia o tchau, e nós nos despedimos.

Coisa mais fofa do mundo.

16 e 19/5/2020

A foto do alto foi feita na sexta-feira, 15/5, pelo papai Carlos Bêla. Não tem diretamente nada a ver com esta Agenda do Vovô aqui – mas como não botar no 50 Anos de Textos tamanha beleza?

A foto da pequena com a Linda no colo e algumas das convidadas da festa, todas maquiadas, é da mamãe Fê Bêla. Foi feita depois que dissemos tchau, e a festa dos 3 anos da Linda continuou.

 

2 Comentários para “Marina enroluda, mas definida”

  1. Que foto mais linda a sua com a Mel, Marina. E o seu vestido é uma graça! Parabéns pela Linda. Um beijo da sua amiga Maria Helena.

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