Com o país brilhando no combate à pandemia (afinal, o que são 180 mil brasileiros mortos?), estourando a boca do balão no quesito desemprego (afinal, o que são 14 milhões de desempregados?), nadando de braçada com o alto poder aquisitivo do povo (afinal, quem deixou de consumir óleo de soja a 9 reais o litro ou a farinha a 6 reais o quilo, ou a carne, ou o feijão, ou o arroz, ou a batata, ou…?), só resta comemorar.
Mas comemorar como?
Quem sabe com uma bela exposição das roupas presidenciais e primeira-damais usadas no dia da posse?
Très chic, deve ter achado nosso presidente. Pensou em como seria legal enfeitar a entrada do cafofo com um vitrinão exibindo suas melhores roupas. E, pra festa ficar ainda mais animada, era de bom tom convidar os estilistas que produziram as peças e os ministros, já que eles não têm muito o que fazer numa tarde de segunda-feira.
E assim, com direito a faixa inaugural e tudo, o Brasil assistiu ao espetáculo mais chique da temporada, protagonizado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, o que se esquiva de responder ao inquérito sobre sua interferência na PF, a primeira-dama Michele, também conhecida como Micheque (tadinha! ganhou esse apelido por pura maldade desse povo que deve estar morrendo de inveja por não ter recebido nenhum cheque do Queiroz), e da filha Laura, que, como sempre, esbanja alegria toda vez em que aparece ao lado dos pais.
Foi uma festa pra ninguém botar defeito. Todos engalanados para o evento como manda o figurino, para saírem bem na foto. E saíram. O mundo todo pôde ver a família feliz que reina no mundo encantado onde tudo é cor-de-rosa. Ô, Glória!
(Esse evento me lembrou outro, talqualmente exuberante, ocorrido em 2004 no Palácio da Alvorada, quando a então primeira-dama, Marisa Letícia, despertou o olhar da imprensa para o símbolo do PT plantado no jardim. As flores vermelhas podadas em forma de estrela emprestavam, conforme devia achar, um toque chique e elegante ao gramado verde da residência oficial do presidente.)
Para completar toda essa alegria reinante no país, no dia seguinte o nosso (nosso?) ministro (ministro?) da Saúde (Saúde?) apareceu ao vivo, devidamente invermectinado e cloroquinado, pós-covid, para animar os corações e mentes de todos nós. Disse que não faltará panetone no Natal nem pescado na Semana Santa e que o presidente “não mediu e nem mede” esforços para que também não faltem vacinas de várias origens para a população.
Apresentou alguns números de possíveis compras, que, segundo ele, serão realizadas “se tiver demanda”. (Alguém me passa o número do Ministério da Saúde, por favor, para que eu possa encomendar a minha?)
E como esta semana só tenho boas notícias para repassar pra vocês, aqui vai mais uma:
Nesta quarta-feira, a Camex (Câmara de Comércio Exterior) editou a decisão do ilustríssimo senhor presidente da República, Jair Bolsonaro, de ZERAR a Alíquota do Imposto de Importação de Armas, que até então era de 20%.
Gente, que maravilha! Já pensaram na delícia de poder comprar armas no Brasil como se fosse num free-shopping? Querem notícia melhor que essa? Ainda que a isenção seja só para revólveres e pistolas, já temos motivos suficientes para sair comemorando com uma salva de tiros!
Pum, pum, pum, pum, pum, pum…
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 11/12/2020.