Feliz o Quê?

Fim da noite de Natal e só agora me lembrei de que não escrevi o texto para a coluna esta semana.

Acho que ainda dá tempo, mas escrever sobre o quê? Eu queria estar imbuída de sentimentos ternos e fraternos como recomenda a data, mas só me vem um grande emputecimento diante dos fatos.

Como desejar um Feliz Natal para aquele monte de famílias que já perderam um parente para a Covid-19?

Como desejar Feliz Natal para aquelas que ainda vão perder seus entes, sabe-se lá quantos e quando — porque insegurança é o que não nos falta.

Com tantas vacinas correndo o mundo, o Brasil continua na rabeira esperando por uma atitude efetiva e definitiva do governo que traga um pouco de esperança de vida. Até agora não se sabe ao certo quando vai começar a vacinação no Brasil.

Vemos o México, o Peru e tantos outros países recebendo as primeiras doses enquanto nosso comandante segue inaugurando obras inacabadas, pintura de relógios, marcando presença em formatura de cadetes e fazendo lives chamando o governador João Doria de “calça apertada”.

Como levar a sério um presidente que tá mais preocupado com a contenção das bolas escrotais de um governador do que com a vacinação da população? E, pior, que sai por aí dizendo que a melhor vacina é o vírus, e que, para serem salvos, é bom que sejam contaminados? (Só na cabeça de um parvo poderia passar tal teoria.)

É de chorar! Assim como é de chorar os quase 200 mil mortos, ou mais, pela Covid-19. Segundo Nelson Teich, o ex-ministro que passou como um meteoro pela Saúde, o número é ainda mais alarmante se forem consideradas as subnotificações.

Eita, ferro!

Quem aqui se anima a desejar Feliz Natal, que, aliás, já passou e quase nem se notou? Este ano nem mesmo o vozeirão da cantora Simone esteve presente nos supermercados anunciando que “Então é Natal, o que você fez?, o ano termina e nasce outra vez”. Tampouco dava pra perceber pelos panetones expostos nas prateleiras, porque atualmente panetone e melancia dão o ano inteiro.

Eu, na verdade, só descobri que já era véspera de Natal quando a balconista do açougue do Pão de Açúcar me perguntou: você já pegou seu peru, dona Vera? Ainda assim levei um tempo para saber se ela estava se referindo à data ou era apenas uma brincadeira de fundo sexual.

Mas quando estiverem lendo esta coluna o Natal já terá passado, portanto não preciso repetir aqui o jargão de todos os anos.

Vou esperar pela próxima semana, e aí sim, desejar um Feliz Ano Novo, com a recomendação de que queimem as roupas usadas na última passagem de ano, que joguem suas calcinhas e cuecas vermelhas ou amarelas na água sanitária, que não se preocupem em comer animais que ciscam, que não percam tempo comprando romãs a 30 paus o quilo e que não desgastem os joelhos pulando as sete ondas. O ano de 2020 provou que nada disso funciona.

No lugar, tomem vacinas, fiquem em casa e rezem para que alguém com juízo tome providências para que cheguem a todos, vindas elas do Reino Unido, da Rússia ou da China, pelas mãos de um calça apertada ou não. Ainda que seja sob o risco de virarmos jacaré, né, mané? (Pena que ainda não inventaram uma vacina para impedir que idiotas saiam por aí pronunciando tamanha imbecilidade.)

Ho, Ho, Ho!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 26/12/2020. 

2 Comentários para “Feliz o Quê?”

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *