Anotações de um confinado, volume 2

Se minha situação fosse de preso na penitenciária, teria uma pequena vantagem. A leitura de livros abate tempo de pena. Livros, tenho. Mas o tempo de reclusão está nas mãos de nossas autoridades da área de saúde. Bem, espicho o olho para os mirrados salvados da mudança de minha casa para um apartamento.

Mexi um pouco com eles, virei folhas. Dei um alô para alguns companheiros de tantos anos (Faulkner, Gabriel Garcia Marquez; Guimarães Rosa emprestei e não devolveram), e então comecei a reencontrar gente bem próxima. Sim, coleguinhas jornalistas. Só para lembrança, resolvi relacioná-los, citando o nome da obra, depois o autor.

A ilha roubada – Sandro Vaia; A prisão, Percival de Souza; A Regra do Jogo, Cláudio Abramo; Arte/sorte, José Roberto de Alencar; A Velha Chama e a Negra Solidão (mais recente entre outros que tenho do autor), Fernando Portela; Avenida Central, Wanderlei Midei; 50 Anos de Filmes, Sérgio Vaz; Diário de um confinado, Mauro Ribeiro; Feminismo no Cotidiano, Marli Gonçalves; Histórias de Remorsos e Rancores (entre outros que tenho), Luiz Ruffato; Histórias que os jornais não contam mais, Anélio Barreto; jornal da tarde – uma ousadia que reinventou a imprensa brasileira, Ferdinando Casagrande; O assalto dos 500 milhões, Edson Flosi; O Desatino da Rapaziada, Humberto Werneck; O Padre e a Partilha, Mário Marinho; Serpente Encantadora, Telmo Martino. Um porto para Elizabeth Bishop, Marta Góes. Na estante também está A Nua Sem Rosto e o Beato Pecador, deste que vos escreve.

Diário de um Confinado narra o confinamento de Jânio Quadros em Corumbá, em novembro de 1968. Em nota ao leitor, Mauro Ribeiro cita os enviados especiais dos jornais de São Paulo e Rio. Entre eles Sérgio Rondino e Moisés Rabinovich, do Jornal da Tarde. Armando Barreto, de O Estado de S. Paulo (o nosso grande Barretinho das lentes). Valdir Sanches, da Folha de S. Paulo.

Despropósito, concorrer com três pesos pesados!

Como abri o volume do Mauro Ribeiro, minha mão escorregou quase sem querer para outro que estava bem ali. Telmo Martino. Não resisti; registro três notas.

“Cuba já deve ter perdido toda e qualquer esperança de conseguir alguma variedade. Até os visitantes são sempre os mesmos. Fernando Morais, dando uma folga ao seu charuto de pilha, está lá outra vez.”

“Vera Fischer, uma atriz em dúvida, e Perry Salles, uma dúvida de ator, vão a Cannes tentar fazer o que nem o Cine Ipiranga conseguiu: vender o filme Intimidade”.

“Maria Bethânia suspendeu, por dez dias, as apresentações de Pássaro da Madrugada para ir lavar igreja na Bahia. Essa é a desculpa oficial. Mas há a versão de que a interrupção foi motivada pela notícia de que havia oito atores tentando imitá-la freneticamente no palco do Teatro Anchieta. Esses atores formam o elenco de Um Ponto de Luz, um novo interminável de Fauzi Arap. A peça está sendo usada pelos espectadores como se fosse uma viagem de metrô. Cada intervalo é aproveitado como uma estação de desembarque. No segundo intervalo, os espectadores fazem uma espécie de criação coletiva da hora do rush.”

O bom Senhor nos livrou de termos atraído a atenção do Telmo.

Março de 2020

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Anotações de um confinado, volume 1.

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