Pertinho da minha casa há uma ruazinha especialmente charmosa, bonita, gracinha. Tem uma única quadra, e é planinha, planinha, o que é uma absoluta raridade neste meu bairro, construído em cima de morros altos – Perdizes tem mais ruas íngremes do que San Francisco, só que sem a vista da baía. Deveria figurar no Guinness.
A ruazinha especialmente charmosa tem duas mãos de direção, mas isso não causa problema algum, porque pouquíssimos carros passam por ela – praticamente só os moradores. E são poucos moradores, porque a rua só tem casas.
Casas simpáticas, classe média sólida – nem imponentes, abusadas, metidas, nem pequenas, mal cuidadas, frágeis. Não: casas agradáveis, simpáticas. Meio termo. Como deveriam ser as casas de todas as pessoas no mundo inteiro.
Chama-se Pelágio Lobo, e fica entre as ruas Bartira e Caiubi. A quadra que fica entre essas três ruas e a Campevas é outra raridade, hoje, no bairro: é uma quadra inteira só de casas.
Mas é por pouco tempo. Metade das casas da Rua Pelágio Lobo, metade das casas dessa quadra sensacional, está condenada. Não contei, não sei ao certo, mas são seguramente umas 12 casas que vão sumir – essas aí marcadas na foto acima. A rigor, já estão sumindo.
Placas anunciam que vão ser construídas ali duas torres de apartamentos, em um terreno de 4.300 metros quadrados. Um terreno de 4.300 onde até a semana passada existiam umas 12 casas sólidas, simpáticas. Talvez até mais.
Vão sumir. Já estão sumindo: faz uma semana que passei pela Pelágio Lobo fotografando as casas que vão sumir, estão sumindo.
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E daí?
Não, e daí nada. É assim mesmo. Não há o que fazer. A cada mês casas agradáveis, simpáticas, são derrubadas para dar lugar a prédios, não só em Perdizes, mas na cidade inteira, não só em São Paulo, mas em praticamente todas as cidades de médias para grandes no Brasil.
É assim que é. Dado da realidade – não há como lutar contra dado da realidade.
Não tenho direito algum de reclamar: moro em prédio. Morei em prédio nuns 48 dos meus 50 anos de São Paulo, e não saberia viver fora de apartamento.
Então, daí nada.
Só quis registrar.
É assim mesmo, não há o que fazer, é assim que é, é dado da realidade.
Mas é triste.
6/9/2019
Um comentário para “Vão sumir”