Duas estações

Inverno

Ninguém desejaria nada do que aconteceu a Bolsonaro e a Ciro. Mas, já que aconteceu, a verdade é que a facada e a próstata projetaram os candidatos no noticiário.

Já Alckmin não teve nem mesmo um resfriado, e Marina sequer bicho de pé. Andrade, com aquela cara de quem acabou de acordar, vende saúde.

Bolsonaro segue em sua sina de vítima. Ainda não recuperado da facada, recebeu uma tijolada do vice, o general Mourão, que quer o fim do 13º salário. Essa é de aleijar qualquer candidato, mas o paciente reage bem, sem ajuda de aparelhos.

A reação, como se viu no noticiário, deve provocar outra peculiaridade destas eleições: o vice transparente. Você sabe que existe, mas não verá mais até as eleições – se chegar lá.

Primavera

Da janela do apartamento no Guarujá, em um quarto andar, vejo à minha frente os galhos de um chapéu de sol. Estes galhos nasceram de três outros, que por sua vez se originaram do tronco, formando uma das árvores gigantescas da Rua Petrópolis.

Há 20 dias, um vento forte derrubou todas as folhas amarelecidas que havia na árvore. Mas quando isso aconteceu já os galhos estavam salpicados de brotos de um verde vivo, vigoroso. De lá para cá, espicharam e já estão com dez centímetros.

Ficou bonita a profusão desses rebentos empinados em cima dos galhos, apontando para o céu. A moradora do apartamento, Iara, minha irmã, diz que está aproveitando para desfrutar a vista. Pois em dez dias, pouco mais, a árvores estará copada.

As folhas impedirão que se veja a rua, lá embaixo. Sumirão da vista carros e ônibus, e os ciclistas habituais da cidade, que costumam entrar neste trecho da Rua Petrópolis pela contramão.

E surgirão… os morcegos. Feios, mas inofensivos. Vêm à noite servir-se das cucas, pequenos frutos que então proliferam na árvore. Se alguma criança se assustar com eles sempre se pode dizer que são sobrinhos do Batman.

Setembro de 2018

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