Se alguém me perguntasse qual é o mais profundo desejo que tenho na vida, não hesitaria muito. Na verdade, nem sequer um pouco. A coisa que mais desejo na vida é que minha filha seja feliz.
Que o mundo dê a ela o respiro que ela merece, pessoa maravilhosa que é, para que possa trabalhar em paz nas 10 horas ou mais que trabalha todo santo dia, e curtir o marido que ela ama e a filha, sorte grande na loteria que ganhou assim como eu ganhei com a existência dela.
Mas por que não está no meu desejo mais profundo que minhas outras duas meninas – a mulher e a neta – sejam felizes? Fácil: porque elas são. Porque a vida delas está boa. Minha filha é que está enfrentando barra pesada, com muito piano para carregar.
Tenho outro profundo desejo. Acho que ele vem logo depois do primeiro, só milésimos de milímetros de diferença: que minha partida seja rápida, com um mínimo de dignidade.
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Vixe: ficou sério, sisudo, pesado – e na verdade eu queria apenas fazer um textinho leve, levianinho, à toa, falando do sonho de consumo que tenho.
É um sonhozinho de consumo nada grandioso. Pequenino. Acessível. Humildezinho, simples. Pobre, mas limpinho.
Nada grandioso, tipo ver, como diz a canção de Steve Earle, “todos os filhos de Abraão deitar suas espadas para sempre em Jerusalém”.
Nem tipo ver – algo ainda mais improvável que imaginar judeus e árabes em santa paz – meu país em edição revista e corrigida, com alguns poucos partidos políticos que representem as idéias básicas de como deve se organizar a sociedade, com um Congresso dedicado ao bem comum e não ao bolso dos que lá têm assento, um Estado de tamanho correto, nem tão inchado nem tão mínimo, e presidentes que se alternem segundo o pêndulo da vontade da sociedade mas que respeitem, todos, as normas básicas da democracia, inclusive a que determina que agente público não pode roubar, nem confundir o que é do Estado com o que é do governo ocasional.
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Nada, nada dessas coisas grandiosas.
Meu sonho de consumo, pequetito, tadinho, é apenas que eu gostaria de ter, no 50 Anos de Filmes, a íntegra (ou a íntegra da parte mais importante) da filmografia de François Truffaut, de Woody Allen, de Alfred Hitchcock e de Marilyn Monroe.
Se não der pra ter dos quatro, pelo menos de um.
Não estou longe demais de completar qualquer um dos quatro.
A rigor, faltam apenas quatro filmes de Marilyn, dos que ela realizou após 1952. Dos quatro, tenho três em DVD, então é baba – basta achar tempo para ver cada um deles, e tempo para escrever sobre eles, e aí ir atrás do único que não tenho.
Há oito filmes em que Marilyn faz pequenos papéis, lançados entre 1950 e 1953. Esses não me parecem fundamentais. Se conseguir escrever sobre aqueles quatro feitos após 1952 já vou poder me considerar um vencedor.
Não faço questão de ter a glória de ter escrito sobre todos os 53 longa-metragens que Hitchcock dirigiu na vida. Muitos dos iniciais, da fase inglesa, posso perfeitamente passar sem. Agora, dos que ele fez depois de 1939, gostaria de ter todos no meu site. Falta muito. Faltam oito realizados entre 1939 e 1948. E, dos feitos após essa data, ainda faltam três.
Diacho, três só. Dá pra fazer, uai.
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Dos quatro artistas que são meu sonho de consumo ter tudo no 50 Anos de Textos, Woody Allen é o que tem mais títulos a serem incluídos no site.
Já escrevi sobre 39 filmes do cara. Cacete – 39 filmes! E são textos grandes, imensos, que não têm fim.
Hoje, neste momento, falta escrever sobre oito filmes de Woody Allen. Daqui a pouco serão nove, porque o cara faz um filme a cada ano, sem parar.
Minha maior esperança de concluir a filmografia de um ídolo é do maior de todos eles – François Truffaut.
Truffaut só teve tempo de realizar 24 filmes, em sua curtíssima vida. Três curta-metragens, 21 longas. Uma das mais maravilhosas obras de um diretor já deixadas para a humanidade.
Só me falta escrever sobre 4 desses 24 filmes.
Parece fácil, parece simples demais.
É ver o filme, escrever, postar no site – pronto.
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Quem sabe, quem sabe? Se eu pelo menos parasse de ver outros filmes, além dos desses quatro artistas aqui. Se ao menos tudo pudesse ser feito rapidinho, vapt-vupt. Se ao menos os textos se escrevessem sozinhos…
Se ao menos fosse simples escrever sobre Les 400-Cents Coups e Jules et Jim…
9 e 11/8/2017
Que linda essa foto! É mesmo emocionantes a gente vê o amor entre o pai e a filha. Ótima foto, ótima!
Quanto aos filmes, desejo que você consiga realizar seu sonho. Que não é tão pequenino assim… E que seria um presentão para seus leitores.
Vejam só que rapaz bonito, magro e cabeludo na foto. E a menina é linda, claro. Compartilho da paixão por Truffaut e Hitchcock. Mas não sabia dessa adoração pela Marilyn e por Woody Allen. Ainda bem que você tem algumas metas, ao contrário da nossa dobradora de metas inexistentes, caro Sérgio. Dizem que isso faz a gente viver mais tempo, só de teimosia.