Emponderamento é a mãe!
Talvez por achar que palavra também é moda, o portal do Estadão da quinta 16 traz este título para matéria sobre o São Paulo Fashion Week: “Estado faz manifesto contra assédio na SPFW com frases de emponderamento.”
Se a memória não falha, foi Graciliano Ramos que lia um texto quando engasgou com uma palavra. A versão que conheci é de que estava ajustando o escrito de alguém, na redação de um jornal (o autor de Vidas Secas trabalhou no carioca Correio da Manhã). Súbito, diz em voz alta:
– Outrossim? Outrossim? Outrossim é a mãe!
Sua indignação era compreensível. Muita palavra usada em textos burocráticos, amadores ou pretensiosos, soa falso no jornalismo. É o caso desse esdrúxulo emponderamento, que dói nos ouvidos. Sem se falar que tem 14 letras, inviáveis para a escrita enxuta como a dos jornais.
Surgiu de repente, como foi o caso, há muitos anos, do extrapolar. Muita gente, mesmo na imprensa, em vez de exceder, passou a extrapolar. Extrapolar é a mãe.
O que está resistindo em nossos tempos (já citei aqui) é outra palavra desnecessária como cobra em criação de minhoca. Disponibilizou, também com quatorze letras. O governo disponibilizou. Por que não cedeu (cinco letras), doou (quatro), deu (três)?
Queria ver um amante dos modismos receber uma página para fechar e se deparar com um título a ser feito em três linhas de três toques. Conta-se que aconteceu em um jornal de Brasília. Na matéria o presidente Juscelino Kubitschek pedia ajuda para a capital do País. Eis o título:
JK:
BSB
SOS
20/3/2017
(O administrador sou eu mesmo, Sérgio Vaz. E empoderamento e disponibilização são a pqp.)
Se ocorreu no Pará ou em São Paulo, não sei dizer exatamente. Reza a lenda que há também o “três de dois”. O diagramador não gostava do editor e o desafiou a escrever o título do assassinato em três linhas de dois toques cada. A vítima morrera com um tiro no peito. Minutos depois, sai o título: UM SÓ AI