Vai melhorar (4)

Assim que o impeachment passar de vez, assim que Dilma Rousseff deixar de ser presidente afastada e sumir na lata de lixo da História, assim que cessar a possibilidade macabra de ela voltar à Presidência da República, deverá haver uma enxurrada de dólares entrando no país. Cerca de US$ 50 bilhões.

Essa informação foi dada por Lauro Jardim no Globo do domingo, 19 de junho. Uma pequena nota na sua coluna dominical:

“De acordo com a expectativa do comandante da subsidiária brasileira de um grande banco estrangeiro, o mercado está em ‘modo de espera’: aguarda apenas o impeachment passar de vez em agosto para que seja despejada uma enxurrada de dólares em investimentos diretos, em bolsa e bonds. Algo como US$ 50 bilhões.”

A informação – importante, preciosa, animadora – passou praticamente despercebida. O país de fato parece mais preocupado com o noticiário incessante sobre corrupção, os milhões desviados – a enxurrada de notícias envolvendo gente do PMDB que afasta das manchetes a situação em que 13 anos e tanto de lulo-petismo enfiaram o país.

Também não houve grande divulgação ou qualquer badalação em torno de uma notícia em tudo por tudo excelente: a de que o Senado aprovou uma nova lei que torna mais rígida a nomeação de dirigentes das estatais.

O Estadão sequer deu a notícia na primeira página. O Globo deu uma pequena chamada em um coluna – mas, no caderno de Economia, trouxe uma boa reportagem, assinada por Manoel Ventura e Cristiane Jungblut.

Diz a matéria:

“O texto proíbe que parlamentares e dirigentes de partidos políticos participem da diretoria e dos Conselhos de Administração dessas empresas. Outra proibição é que pessoas que, nos últimos 36 meses, participaram de atividades político-partidárias, de campanhas eleitorais e de organização sindical, ocupem esses cargos. Fica vedada, ainda, a indicação para cargos na diretoria e nos conselhos de administração das estatais ministros e ocupantes de cargos de confiança no setor público. (…)

“O texto retomado pelo Senado dá o prazo de dez anos para que as empresas com ações listadas na Bolsa de Valores se preparem para entrar no Novo Mercado da Bovespa – o que exige 25% de suas ações em circulações no mercado. Fazem parte do Novo Mercado empresas com boas práticas de governança e que respeitam direitos dos sócios minoritários.

“A nova legislação obriga, ainda, que as empresas públicas adotem regras para aumentar a transparência, como a divulgação periódica de balanços e notas explicativas do resultado, com detalhes de custos operacionais, inclusive remuneração da diretoria e distribuição de dividendos. As empresas também terão de criar uma auditoria interna, com canal de recebimento de denúncias e um Código de Conduta e Integridade.”

***

É de imensa importância essa lei. Como diria o jovem Roberto Carlos, daqui pra frente tudo vai ser diferente. Daqui pra frente nenhum Sérgio Gabrielli vai poder presidir uma Petrobrás. Nenhum João Vaccari Neto vai poder ser conselheiro da administração da Itaipu Binacional.

Não é pouca coisa, de forma alguma.

A Câmara dos Deputados havia suavizado muito o que a lei dispunha, mas o texto original foi restabelecido quando voltou ao Senado, numa grande vitória do governo Temer. A lei já foi para a Presidência da República, para ser sancionada.

O relator do projeto, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), disse que as mudanças na gestão das estatais são um avanço para o setor público do Brasil: “Significa que, nas estatais, não vai poder ter mais políticos, afiliados, sindicalistas. Vamos ter um conselho profissional, composto por conselheiros independentes e por profissionais com experiência. A operação Lava-Jato só mostrou como nós estávamos atrasados e errados em fazer essa festa com as estatais.”

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Más notícias dão muito mais Ibope que as boas notícias. Mas a verdade é que o país estava muito em falta de boas notícias na economia. Todas as notícias sobre economia, ao longo dos pavorosos 5 anos e 4 meses de Presidência Dilma Rousseff, foram ruins. Ao ser afastada por decisão da maioria absoluta dos votos na Câmara dos Deputados, ela deixou o país na maior crise econômica de sua história, com crescimento negativo, inflação alta, desemprego alto e ascendente, contas públicas em frangalhos e dívida em nível assustador.

Não vai ser nada fácil sair da crise. O cidadão comum vai demorar a perceber melhora no seu dia-a-dia.

Mas porém todavia contudo já começam a aparecer sinais de que, agora que o lulo-petismo já não dirige mais o país, as coisa vão melhorar.

A perspectiva de que investidores estrangeiros estão apenas esperando a confirmação do impeachment para despejaram uns US$ 50 bilhões é uma excelente notícia.

A nova legislação para despolitizar, desaparelhar e profissionalizar a administração das empresas públicas é outra notícia extraordinária.

Em dois editoriais publicados nesta semana agora, o Estadão demonstra que a economia está parando de piorar, e que “o Brasil começa a voltar ao século 21, ao jogo da globalização e da multiplicação de acordos comerciais, depois de 13 anos de atraso e de reclusão num mundo imaginário onde ainda se agita a bandeira do terceiro-mundismo”.

Aí estão os dois editoriais que mostram que vai melhorar.

Parando de piorar

Editorial, Estadão, 19/6/2016.

A economia está parando de piorar. Ainda incerto, este diagnóstico é o mais otimista, depois de dois anos de recessão, num país com mais de 11 milhões de desempregados e pouquíssima esperança de mais contratações nos próximos seis meses. Apesar de todas as más notícias, sinais ainda fracos de estabilização começam a acumular-se. Pela primeira vez desde janeiro do ano passado, empresários industriais mostram algum otimismo quanto à evolução da demanda, segundo sondagem recém-divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). De maio para junho melhoraram os principais índices de expectativas – em relação ao volume de exportações, da demanda interna, das compras de matérias-primas e da contratação de empregados. As demissões continuam, mas em maio a redução do nível de emprego nas fábricas paulistas (0,57%) foi a menor do ano, na série com ajuste sazonal, de acordo com números da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na maior parte do País a indústria opera com enorme sobra de capacidade. O nível de utilização ficou em 64% em abril e, em maio, 2 pontos abaixo do registrado um ano antes. Mas um animador dado concreto apareceu depois de um longo período de estagnação das vendas e da produção. Os estoques estão praticamente ajustados, isto é, muito próximos do nível planejado pelas empresas. Qualquer melhora na demanda funcionará, portanto, como um estímulo à produção. Como há muita folga, as fábricas poderão atender à nova procura sem precisar de maior capacidade produtiva.

A disposição para investir continua muito baixa. O indicador subiu ligeiramente em maio e atingiu 41,2 pontos, mas qualquer número abaixo de 50 tem um significado negativo. A baixa propensão a aplicar dinheiro em máquinas, equipamentos e instalações é explicável pela enorme capacidade ociosa, pela expectativa ainda muito cautelosa de melhora dos negócios e, naturalmente, pela incerteza política.

Mas a indústria ainda tem bom espaço para elevar a produção sem precisar de maior capacidade. A retomada do investimento fixo dependerá de um cenário econômico e político mais claro e, muito especialmente, do deslanche das concessões na área de infraestrutura. Gastos com ampliação e modernização da capacidade industrial deverão ganhar impulso de modo mais gradual.

Como ocorre geralmente nas fases de recuperação da economia, a expansão do emprego deverá ocorrer depois de uma sensível melhora dos demais indicadores. Dois dos principais indicadores de expectativa dos empresários da indústria estão acima de 50: volume de exportação (52,5) e demanda (51). Abaixo da linha divisória entre o positivo e o negativo continuam as previsões de compras de matérias-primas (48,5) e de aumento do número de empregados (45,3). A maior demora na recuperação do emprego é uma tendência conhecida em todo o mundo. Nas primeiras fases o aumento da produção é conseguido com o pessoal já empregado.

Também a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou nos últimos dias alguns dados ligeiramente positivos. O Indicador Antecedente Composto da Economia subiu 2,5% em maio, na quarta alta consecutiva. O Indicador Coincidente, relativo às condições atuais, ficou estável. Os dois dados sugerem, segundo o pesquisador Paulo Picchetti, da FGV, um estancamento da queda. Mas antes de falar de uma reversão do quadro econômico, ressalvou, será preciso avaliar a evolução das condições políticas.

Os primeiros lances da nova política econômica, incluída a proposta de limitação dos gastos públicos, foram bem recebidos pelo mercado. Mas o quadro político ainda é preocupante, embora se considere baixo o risco de um retorno do desastroso governo da presidente Dilma Rousseff. A demora na aprovação de novas medidas econômicas dificulta a restauração da confiança e, portanto, a melhora das perspectivas. Enquanto isso, os sinais de estabilização, mesmo fracos, provavelmente continuarão sendo as melhores notícias.

De volta ao século 21

Editorial, Estadão, 23/6/2016.

O Brasil começa a voltar ao século 21, ao jogo da globalização e da multiplicação de acordos comerciais, depois de 13 anos de atraso e de reclusão num mundo imaginário onde ainda se agita a bandeira do terceiro-mundismo.

Um sinal disso é a tentativa de entrar nas negociações de um acordo para liberalização de serviços, já avançadas na Organização Mundial do Comércio (OMC). O ingresso brasileiro, com grande atraso, dependerá das potências participantes, mas a mera disposição de entrar no processo é um forte sinal de mudança.

O mercado de serviços, com transações anuais de cerca de US$ 4 trilhões, nunca esteve entre os interesses da administração petista, voltada para políticas de 40 ou 50 anos atrás.

A decisão de entrar nas negociações de serviços, uma preocupação típica das economias mais desenvolvidas, é apenas um dos sinais de renovação da política de comércio exterior e, naturalmente, de desenvolvimento econômico. Outro sinal importante aparece na revisão das funções e da gestão da Agência de Promoção de Exportações (Apex-Brasil).

A nova concepção da diplomacia comercial fica patente no Decreto Presidencial 8.788, publicado ontem (22/6). A agência, segundo o texto, “deverá dar atenção especial às ações estratégicas que promovam a inserção competitiva das empresas brasileiras nas cadeias globais de valor, a atração de investimentos e a geração de empregos, e apoiar as empresas de pequeno porte”.

A ideia de inserção competitiva nas cadeias globais de valor é uma enorme novidade, assim como a ênfase na atração de investimentos. A definição anterior das funções da Apex-Brasil, de 2003, recomendava atenção especial somente “às atividades de exportação que favoreçam as empresas de pequeno porte e a geração de empregos”. Era um conceito muito mais limitado e muito menos ambicioso, sem nenhum vínculo explícito com a integração do Brasil nos processos mais modernos de produção e de intercâmbio.

A limitação do País – e do Mercosul – a uns poucos acordos com mercados em desenvolvimento, às vezes muito pequenos, e à promoção de relações do tipo “Sul-Sul” foi perfeitamente compatível com essa visão restrita e anacrônica do comércio internacional.

Fora da emperrada e afinal fracassada Rodada Doha de negociações multilaterais, o Brasil e seus parceiros de bloco só se envolveram num empreendimento ambicioso: um projeto de livre-comércio com a União Europeia.

Iniciado nos anos 90, esse projeto continua sem conclusão. Isso se deve em boa parte à pouca disposição do governo argentino de fazer as concessões normais numa negociação comercial. O governo brasileiro também hesitou em mais de uma ocasião e, afinal, os próprios europeus acabaram dando prioridade a outros projetos. A discussão com os europeus continua.

“Temos de melhorar nossas ofertas”, disse nessa quarta-feira o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Daniel Godinho, realçando a importância de avançar na abertura de mercados, incluído o brasileiro.

No mesmo pronunciamento, ele defendeu uma revisão dos objetivos internos e da ambição do Mercosul quanto à sua posição no mundo.

A nova concepção da política de comércio exterior, da diplomacia comercial e dos caminhos do desenvolvimento está refletida em várias alterações administrativas iniciadas nas últimas semanas. Uma delas é a entrega da presidência do conselho da Apex-Brasil ao ministro de Relações Exteriores, José Serra, um defensor de amplas mudanças na política do Mercosul e da presença em acordos bilaterais.

Ontem (22/6), o ministro José Serra participou de reunião do presidente interino Michel Temer com ministros da área econômica. Também esse detalhe pode ser uma indicação de novos critérios, com uma política econômica menos voltada para o protecionismo e para benefícios aos favoritos do poder e mais empenhada na busca da modernização e da competitividade.

24/6/2016

Leia também: Vai Melhorar (3).

4 Comentários para “Vai melhorar (4)”

  1. Para MELHORAR é necessário que as pessoas desenvolvam a percepção que as informações publicadas tenham a perspectiva de que é uma crise de transformação, que implica a implosão de um sistema corrompido e o decorrente período de instabilidade antes da consolidação de um novo modelo politico.

    É um desafio especialmente relevante para a imprensa porque pode ajudar a restabelecer a confiança do público nos jornais, revistas e telejornais, condição essencial para estes veículos sobrevivam aos traumas do ingresso na era digital.

    O que estamos observando, no entanto, é a grande mídia nacional procurando ficar em cima do muro.

  2. Rogerio Cardozo – um brasileiro qualquer.

    Eu não sou formado em faculdade mas dá para ver que a imprensa comete alguns erros quando fala em economia: O Brasil é um país com muitas empresas industriais e de serviços e comercio .Não existe PIB negativo como se fala na TV , o que existe é que as empresas deixaram de fabricar/vender menos do que num determinado período , assim o PIB hoje esta 3% menor que no mesmo periodo do ano passado .Outra : a industria deixou de vender 23% de carros em relação ao mesmo período do ano passado isso quer dizer que ela esta vendendo 77% do que vendeu no mesmo período do ano passado , outra coisa a industria de carros só vai recuperar esses números exportando pois o mercado interno vendeu muito ,mas muito nos últimos 10 anos .Então tem muita coisa que esta sendo jogado para baixo pela imprensa que tem que ser melhor analisado e também hoje a bolsa de SP tece uma movimentação positiva de 7 bilhões de reais , porque todas bolsas do mundo subiram , na crise politica que estamos é muito bom esses números .E é bom falar que no mundo toda a uma saturação em todos mercados , mas tem industrias que se crescer alguns porcentos estaremos falando de muito dinheiro.

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