O Reino Unido e o ocaso do Ocidente

A história mexe-se como pêndulo, dizem. E, mesmo que seja apenas consolo, é melhor crer nessa premissa. Hoje vimos a Inglaterra fechar suas portas para o mundo. E, ainda que seja pela opção da maioria em um dos países mais democráticos do planeta, é estranho ver ingleses preferindo erguer a derrubar muros.

Causa arrepios ouvir discursos que esbarram nas imbecilidades de Donald Trump nas ilhas que produzem a melhor música do mundo, a melhor literatura, o melhor teatro, os melhores atores, o melhor cinema.

Para quem assistiu a guerra fria concretar o muro de Berlim que os ingleses ajudaram a jogar no chão, tudo parece ainda mais insano.

É certo que a opção da maior parte dos votantes do Brexit vai impactar o Reino Unido, a Europa e a economia do mundo. Nada que não se reconstrua. O mais grave é a sinalização de retrocesso, o fechamento de fronteiras, o não à integração em um mundo que cada vez mais necessita de abertura, cooperação e entendimento entre as nações.

Reconheço que não tenho competência para tal análise, mas diante da decisão do Reino Unido, que tem como fundo o protecionismo exacerbado, o nacionalismo de ocasião e o bloqueio da imigração, parece que se aproxima o ocaso do ocidente.

Este texto foi publicado no Blog do Noblat, em 24/6/2016. 

3 Comentários para “O Reino Unido e o ocaso do Ocidente”

  1. Mary fez um ótimo resumo, que poder de síntese!

    Se ela diz que não tem competência para fazer uma análise, muito menos tenho eu.
    Li pouquíssimo sobre o assunto, e o pouco que li eram análises parciais. Então me atenho ao fato de que se o Trump achou bom, é porque só pode ser ruim.
    Mas como ela bem disse, que possamos acreditar em reconstrução e na premissa de que a História se move como um pêndulo.

    O pêndulo me fez lembrar uma das belas músicas do meu muso Jorge Drexler, em que ele fala justamente sobre imigração e abertura/fechamento de fronteiras; e em como todos os países disseram não para seus avós com um filho pequeno nos braços (o pai dele), fugidos da guerra – inclusive o Brasil, que vergonha! – e apenas a Bolívia disse sim.

    “Y el péndulo viene y va
    Y vuelve a venir e irse
    Y tras alejarse vuelve
    Y tras volver, se distancia (…)

    (…) Y los caminos de ida
    En caminos de regreso
    Se transforman, porque eso:
    Una puerta giratoria
    No más que eso, es la historia”

    Para quem ainda não conhece:
    “Bolivia” – Letra e música: Jorge Drexler

    https://www.youtube.com/watch?v=DH6oelGLCKI

  2. Retificando: eu quis dizer que não tenho capacidade pra fazer uma análise sobre o futuro do R.U. fora da U.E., e *também* que não tenho opinião formada sobre o Brexit, pois li poucas matérias, e elas eram todas parciais (e sinceramente, não sei como a U.E. funciona, nem sei dos contras, pois todos só falam dos prós).

    Vou fazer a advogada do diabo aqui: tem um vídeo no YouTube chamado “Brexit: The Movie”, de pouco mais de uma hora. Comecei a assistir a esse documentário hoje, e gostei do que vi. Pelo jeito não sou só eu que não sabe como a U.E. funciona. Os europeus também não sabem. Pretendo vê-lo aos poucos esta semana, mesmo que não concorde com tudo (com alguma coisa hei de concordar, a U.E. não é perfeita). Gosto de ouvir os dois lados.

    À primeira vista é triste, parece ter sido um passo para trás e é óbvio que vai fazer estrago, mas coisas boas também (re) nascem do caos, e às vezes é necessário desconstruir para fazer algo melhor. Pelo o que andei lendo, o que mais pega é a questão econômica (como diria a Glória Pires, “não sou capaz de opinar”) e a imigração. A Inglaterra tem um sistema de imigração que bate duro, porém uma vez legalizado, o estrangeiro tem muitos benefícios lá, então ela não é esse bicho-papão todo que estão pintando. Extremistas e radicais há em todos os lugares do mundo (e é lamentável ler relatos de que imigrantes já estão sofrendo bullying por conta da vitória do Brexit); mas imigração tem sido um problema global, e por mais que eu seja a favor da abertura das fronteiras, não sou ingênua a ponto de achar que essa é uma questão simples de ser resolvida.
    No mais, alguns acontecimentos se dão por conta do orgulho, ou para acabar com ele. Se foi um tiro no próprio pé, não vai ser “nada que não se reconstrua”, como a Mary bem disse. (Eu quero pensar assim, pois não estou gostando desse clima histérico que estão criando na imprensa internacional, como se tivessem uma bola de cristal). Por fim, “tudo que é sólido desmancha no ar”.

  3. A proteção do país, que o jornalismo do tipo veja chama de “protecionismo”, é uma TRADIÇÃO do Primeiro Mundo.

    Globalização eles querem fora de suas fronteiras. A “integração” dos mercados eles desejam, não para si, mas para a África, Paraguai, El Salvador etc.

    Por algum motivo que eu desconheço, a Mary Zaidan fica surpresa (!!!??) com uma velha TRADIÇÃO: os protecionismos europeus, alvos de queixa na OMC.

    Gostar de globalização é coisa de colônia. País que se respeita não gosta da globalização.

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