Isto aqui é Rio de Janeiro

Dirigir no Rio de Janeiro, decididamente, não é simples. Não basta ter carteira de habilitação válida, nem que o motorista seja um ás do volante.

O que é muito importante é que ele saiba interpretar as placas de sinalização e que nunca, jamais, em tempo algum, se fie apenas nos GPS da vida.

Nada contra o GPS, que fique bem claro. Em condições normais, ele é um auxiliar e tanto. Mas o Rio é uma cidade cheia de meandros e não há aplicativo que possa orientar com certeza por onde o motorista deve trafegar.

Moro aqui desde 1940 e tirei minha CH em 1956. Minha mãe dizia que eu montei no meu alazão – meu saudoso Fusca – e nunca mais apeei. É verdade. Amo dirigir.

Já dirigi na Europa e nos EUA e nunca tive problemas de orientação, por um simples motivo: tinha sempre comigo um bom mapa da região onde estava, que sempre estudei antes de me locomover de um lugar ao outro.  E mais importante que tudo: podia confiar nas placas de sinalização.

Também não é imprescindível que o turista saiba nossa língua. As placas não precisam ser bilíngues. Em Portugal, que já percorri de norte a sul, também tomei sempre o cuidado de ter comigo bons mapas e de cuidar de obedecer às placas muito eficientes das ótimas estradas portuguesas.

O que é fundamental é que as placas sejam claras, bem cuidadas e colocadas onde são mais necessárias.

Anteontem dois policiais da Força Nacional foram baleados ao entrar, por engano, em uma das subdivisões do Complexo da Maré. Vindos de outros estados, Roraima e Piauí, eles não conheciam o Rio e confiaram no GPS. Aconteceu com eles o que já aconteceu muitas outras vezes. Mal orientados, foram parar na favela Vila do João, onde os traficantes não perdoam: atiram para matar.

As placas de sinalização aqui no Rio não duram muito no estado em que foram colocadas pela CET- Rio. Ou são furadas à bala, ou são pichadas, o que as torna inelegíveis. Ou não são colocadas onde mais são necessárias: chamando a atenção para a entrada das favelas onde o tráfico impera. Tais placas deveriam ser repetidas algumas vezes, bem antes desse acesso fatal, o que permitiria ao motorista seguir pelo bom caminho.

Mas não serve que sejam iguais às outras placas. Essas deveriam ser em vermelho e letras garrafais para alertar quem não conhece a cidade. Ou quem a conhece mas não a conhece inteiramente: o Rio não é uma aldeia.

Na verdade, o ideal é que não houvesse lugares onde o mal triunfe sempre sobre o bem. Mas já que isso, aparentemente, é inevitável, ao menos que a cidade procure dar mais proteção a quem a visita.

Ou a quem nela vem trabalhar, como é o caso de Hélio Vieira de Andrade, o soldado roraimense que, gravemente ferido, não resistiu e acaba de falecer no Hospital Salgado Filho, segundo ouço na Globo News.

Não há alegria pelos Jogos Olímpicos que abafe a tristeza pela morte do jovem Hélio ou que console pelo sofrimento de sua família.

Que o policiamento agora reforçado na Vila do João permaneça para além do encerramento dos Jogos Olímpicos. Pelos cariocas, pelos brasileiros, pelos visitantes estrangeiros.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 12/8/2016. 

Um comentário para “Isto aqui é Rio de Janeiro”

  1. Vi a notícia ontem na TV, que tristeza. Na hora pensei em um primo meu que está lá trabalhando ~nessa~ Força Nacional. Fiquei mais triste ainda ao pensar na mãe de Hélio, que estava com ele no hospital.

    O duro do Brasil é que muita coisa ruim poderia ser evitada com atitudes simples, como é o caso das placas de sinalização, principalmente numa cidade como o Rio.

    PS: Mais um ótimo e conciso texto de Maria Helena RR de Sousa, bem diferente de um outro que uma prima me mandou, “escrito” pela governadora de Roraima. Uma coisa longa e demagoga, pela qual só passei os olhos; e olha que leio de tudo, mas não deu pra perder meu tempo com aquilo.

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