A Globo me fez de bobo

Assisti, ontem, uma das mais belas lições do jornalismo brasileiro, o Jornal Nacional da Rede Globo.

De há muito, tenho ouvido o mantra que caracteriza um esquerdista, um petista ou um simpatizante dessa ORCRIM, ou as palavras de ordem correspondentes “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!” ou “A Globo te faz de bobo!”

Ontem (17/3), essas palavras de ordem ressoaram e ecoaram diversas vezes, livres de qualquer censura ou admoestação. Elas foram cantadas a capella e a plenos pulmões por dezenas de membros do coral estrategicamente convidado para executar a trilha sonora daquele espetáculo público bizarro em que se tornou a posse de Lula no ministério da Casa Civil.

Em contrapartida, um performer solo que se expressou contra aquela pantomima bradando “Vergonha, vergonha!” foi prontamente identificado, brutalmente imobilizado, calado, chutado e expulso daquele recinto fétido, ao som da obra-prima do coral “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”

Naquele momento surpreendente, um dos mais brilhantes intelectuais do PT, o deputado Sibá Machado – vê-se nas imagens transmitidas ao vivo – dá voz de prisão ao mal-vindo mico. “… preso! Tá preso!”, esquecendo-se aquele prócer de fazer o mesmo com outro indivíduo que não deveria estar presente: Paulo Maluf, este convidado e bem-vindo, com direito ao registro de sua presença no recinto, a despeito de ser fato notório que ele tem emitido em seu desfavor mandado de prisão contra si expedido pela Interpol! Meu país me constrangeu.

Poder-se-ía dizer que a Globo somente mostrou as manifestações contrárias a sua própria marca porque aquela bizarrice era exibida ao vivo, surpreendida que teria sido por algo que não estava no roteiro.

Mas à noite, em playback , a Globo me fez de bobo: não só mostrou, quase que na íntegra, a fala de Dilma, como, insatisfeita, ainda mostrou a manifestação do coral bradando contra si própria a canção mais cantada naquela ocasião: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”

Aliás, nesta atual crise, as edições do JN têm sido de uma qualidade impressionante, não só pela primorosa técnica e criatividade na utilização de tecnologias da comunicação, mas, também, pela abrangência da cobertura, e, principalmente, pela divulgação das divergências expressas em explicações, pontos de vista e opiniões dos envolvidos nas notícias e seus advogados ou representantes.

18/3/2016

(*) Volney Amaral, advogado, de Maceió, publica o Blog do Volney Amaral.

5 Comentários para “A Globo me fez de bobo”

  1. Que alegria ver um artigo do meu amigo Volney no 50 Anos de Textos. Vocês precisam conhecer o Blog do Volney Amaral, onde ele conta deliciosas histórias. Muitas delas lembranças da infância, passada numa cidade que também tem um Cristo Redentor de braços abertos e vista para Niterói na outra margem. Para quem não conhece, a cidade natal de Volney chama-se Pão de Açúcar e fica em Alagoas, às margens do rio São Francisco. Outra coisa: o Volney é testemunha ocular da veracidade da história que eu contei sobre o suicídio do meu celular no balde de gelo do vinho, no restaurante Palato, de Maceió. Seria ótimo ver publicadas no 50 Anos algumas das histórias hilárias escritas pelo meu amigo Volney.

  2. Ao que parece, por constrangimento, por medo do patrulhamento, ninguém tem dado destaque a essa postura da Globo descrita pelo Volney. O Jornal Nacional reserva sempre longos minutos para o governo apresentar sua versão dos fatos. É lógico que a imprensa tem o dever de ouvir o outro lado, mas às vezes a Globo até exagera. Nenhum outro órgão de comunicação libera tanto espaço para o PT e o governo nos irritar com o seu imenso repertório de mentiras. O problema é que a única imprensa que não desagrada ao PT é a subserviente e elogiosa. De preferência editada pelo governo, como em Cuba e Coréia do Norte, onde ter opinião diferente da ditadura é crime.

  3. Delação não delatada pela REDE GLOBO.
    “Presidente do STJ negociou para libertar réus da Lava Jato, diz Delcídio.”

    A REDE GLOBO assumiu a liderança do GOLPE, com isto anônimos seguidores foram encorajados a assumir a fiel subserviência.

    Todos somos bobos, o povo e os coxinhas.

    Temos um reality de qualidade duvidosa eficientemente editado.

  4. Elogios à prática editorial da Rede Glóbulo Branco…
    Nunca antes este site desceu tanto.

    O Jornal Nacional não é a GloboNews, de jeito nehhum (esta última mantém uma certa dignidade).

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