2016 deverá vir a ser lembrado como o ano que apanhou demais sem merecer.
O ano injustiçado.
Nos últimos meses, e com vigor crescente à medida em que nos aproximávamos do seu fim, falou-se mal demais de 2016. Nove de cada dez manifestações no Facebook e no Twitter sobre o ano eram pau, porrete, tacão.
O ano que não termina nunca. O ano que já vai tarde. O ano que não vai embora.
Os brasileiros parecem ter feito de 2016 o seu annus horribilis, para lembrar a expressão usada por Elizabeth Alexandra Mary da casa de Windsor, em discurso em 24 de novembro de 1992, marcando o 40º aniversário de sua ascensão ao trono de rainha da Grã-Bretanha. “1992 is not a year on which I shall look back with undiluted pleasure”, discursou ela. “In the words of one of my more sympathetic correspondents, it has turned out to be an annus horribilis.”
1992 não é um ano para o qual olharei com impoluto prazer. Nas palavras de um dos meus mais simpáticos correspondentes, ele se revelou um annus horribilis.
A rainha tinha motivos de sobra para chamar 1992 de annus horribiilis. Para dar só algumas poucas provas disso, basta lembrar que naquele ano as Ilhas Mauricio, até então o último domínio da Commonwealth na África, aboliu a monarquia; anunciou-se que o segundo filho de Elizabeth II, Andrew, iria se separar de sua mulher, Sarah Fergusson – e a casa de Windsor sempre teve pavor de divórcios; a princesa Anne, a segunda filha, se divorciou do capitão Mark Phillips; e – talvez pior que todas as anteriores – em junho foi publicado o livro Diana: Her True Story, que, entre outras coisas, revelava o caso do príncipe Charles, o primogênito, o herdeiro do trono, com a feiosa Camilla Parker-Bowles.
Sim, a rainha tinha motivos de sobra naquele 1992.
Mas acho que os brasileiros não têm motivo para odiar dessa maneira 2016.
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Sim, as notícias do mundo não foram nada boas. Se pensarmos em termos globais, sem dúvida 2016 foi, sim, um annus horribilis. A guerra na Síria. O drama permanente dos refugiados. O drama dos refugiados tonificando o lado horroroso do ser humano em diversos países europeus, que assistem, chocados, ao crescimento da extrema direita xenófoba, nacionalista, isolacionista, populista.
O Brexit – a decisão plebiscitária dos britânicos de abandonar a União Européia.
A eleição de Donald Trump para a Presidência da maior potência econômica, militar e política do planeta – a arrematada insensatez de um número menor de votos populares que da outra candidata de colocar no Salão Oval da Casa Branca um louco, insano, prepotente, maníaco, charlatão, ilusionista. Entregar a um irresponsável a chave do botão das ogivas nucleares.
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E, sim, houve uma razzia do Ceifador. O Anjo da Morte pareceu mais ativo do que nunca este ano. Saiu por aí com uma disposição férrea de levar embora o maior número possível de pessoas interessantes, inteligentes, artistas de todas as áreas.
O site de O Globo fez uma relação de 50 nomes importantes das artes que o mundo perdeu ao longo de 2016.
O anúncio seguido de tantas e tantas perdas, em todas as áreas do conhecimento humano, seguramente foi importante para que tivéssemos todos essa sensação de que 2016 foi um annus horribilis.
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E há, at last but not at least, a crise econômica em si, a pior de todas as crises econômicas que este país já enfrentou em seus 516 anos de História.
A economia do país chegou ao fundo do fundo do fundo do poço mais profundo. Estamos em recessão desde o início de 2014. São quase 24 meses seguidos de diminuição do Produto Interno Bruto. A taxa de desemprego chegou em novembro ao número recorde de 11,9%, segundo o IBGE anunciou no antepenúltimo dia do ano. São 12,1 milhões de desempregados.
E ainda vai piorar. As previsões são de que mais 1 milhão de trabalhadores perderão seus empregos em 2017, antes que finalmente o ciclo recessivo chegue ao fim.
Sim, o horror dos horrores.
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Mas estamos assim por causa dos 13 anos de governo do PT.
Mais exatamente, mais precisamente, por causa dos 4 anos do segundo governo Lula e dos 5 anos e 5 meses de absoluto desgoverno Poste.
No final do primeiro governo Lula, o Poste, então ministra-chefe da Casa Civil, qualificou de algo como grotesco o plano dos então ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, de instituir um teto para o aumento dos gastos públicos.
Segundo o Poste, que se tem como a melhor economista que jamais habitou este planeta ou qualquer outro, gasto público é vida.
E foi a política econômica seguida a partir desse embate do Poste com Palocci e Paulo Bernardo que levou a economia do país até o fundo do fundo do fundo do poço em que ela está.
Não se sai do fundo do fundo do fundo do poço do dia para a noite. Sequer de maio para dezembro.
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Mas então vamos lá: ao longo de 2016, o Brasil livrou-se do Poste.
Só isso, apenas e tão somente a colocação disso na coluna azul, de rendimentos, de coisa positiva, já deixa o balanço entre perdas e ganhos do país em 2016 estável, no zero.
O presidente da Câmara não é mais Eduardo Cunha.
O ministro da Fazenda não é mais Guido Mantega – é Henrique Meirelles, o que é mais ou menos trocar óleo de fígado de bacalhau pelo melhor uísque da praça.
O presidente da Petrobrás já não é mais a Graça Foster – é Pedro Parente, o que é mais ou menos trocar um gole de água quente com sal por um gole comprido da primeira cerveja estupidamente gelada do dia.
O presidente do BNDES não é mais Luciano Coutinho – é Maria Silva Bastos Marques, o que é mais ou menos trocar o lugar mais distante do palco na Arena dos Porcos pela segunda fila de um teatro de boa acústica para ouvir um show de – diga lá seu cantor-cantora preferido/a.
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O BNDES não vai mais financiar obras em Cuba, na Venezuela, no Equador, na Bolívia, de tal forma que as empreiteiras amigas do Lula, de Mantega e do PT de uma maneira geral poderiam pagar altas propinas e ainda garantir um bom lucro favorecendo os ditadores ou proto-ditadores aliados da quadrilha.
A Petrobrás não vai mais comprar refinarias nos Estados Unidos, no Japão, que são ferro-velho puro, e dão prejuízos bilionários, mas enchem de grana a quadrilha que estava no poder.
A Petrobrás passa a ser uma empresa, e não mais, como nos 13 anos de lulo-petralhismo, joguete a serviço dos interesses da quadrilha.
A Petrobrás – que a rigor deveria ser privatizada, vendida para grupo privado, para encher o Tesouro de dinheiro a ser bem aplicado em educação, saúde, infra-estrutura – foi confiscada da quadrilha que havia tomado posse dela e estatizada. Voltou a ser uma empresa estatal.
Cacete: a Eletrobrás, a Petrobrás, o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, todas essas estatais que haviam sido privatizadas e pirateadas pelo lulo-petralhismo, voltaram a ser do Estado brasileiro!
É bem verdade que deveriam quase todos elas ser privatizados de maneira correta, vendidos para a iniciativa privada. Mas o fato de terem sido tomadas de volta da quadrilha que os assaltado já é uma maravilha!
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Nas eleições municipais de outubro, o PT e seus partidos satélites levaram uma surra fantástica, extraordinária, histórica, amazônica, satúrnica.
O ano em que o povo ferrou o PT nas urnas não pode, de forma alguma, ser considerado um ano horroroso.
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O governo Michel Temer conseguiu, em menos de oito meses (a enumeração abaixo foi feita por Reinaldo de Azevedo):
“a – aprovar uma PEC de gastos que, quando menos, impedirá o Brasil de virar um Rio de Janeiro de dimensões continentais:
b – aprovar na Câmara a medida provisória do ensino médio, depois de enfrentar um cipoal de mistificações e desinformação;
c – aprovar a MP do setor elétrico, área especialmente devastada pelo governo de Dilma Rousseff, a dita especialista;
d – aprovar o projeto que desobriga a Petrobras de participar da exploração do pré-sal –e contratos já foram fechados sob os auspícios do novo texto;
e – aprovar a Lei da Governança das Estatais, que é o palco principal da farra;
f – apresentar uma boa proposta de reforma da Previdência, que vai, sim, enfrentar muita resistência;
g – no BNDES, ultima-se o levantamento do estrago petista, e o banco se prepara para retomar financiamentos.”
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Esses temas acima são amplos demais. Tomemos um tema específico, um exemplo de como o país melhorou, neste ano em que 9,9 de cada 10 pessoas dizem que foi um ano horrível.
Em junho, o presidente Temer editou um decreto determinando que um avião da FAB ficasse disponível apenas e tão somente para a tarefa de transportar órgãos para transplante. Segundo reportagem do Globo da terça, 27/12, o número de órgãos transportados chegou a 148, contra apenas 5 entre janeiro e a data do decreto.
Uma outra bela medida, que passou despercebida neste final de ano: na sexta-feira, 23/12, o Diário Oficial publicou uma medida provisória, de número 759, que regulariza a propriedade em favelas e similares. Belo editorial do Globo da quarta, 29, mostra que com essas medida os empreendedores de baixa renda passarão a ter acesso ao crédito a custo mais baixo, porque passarão a ter algo para dar em garantia ao emprestador. O editorial explica a imensa importância que essa medida deverá ter.
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Sabe a refinaria Nansei Sekiyu, da ilha de Okinawa, que a Petrobrás do tempo do lulo-petralhismo comprou, e nela foi obrigada a enterrar uma fortuna absurda para deixar o monte de ferro-velho em um estágio mínimo de funcionamento?
É provável que o prezado eventual leitor não saiba – ainda mais agora, que se aproxima o momento de encher a cara para esquecer este annus horribilis que foi 2016.
Pois é, mas a refinaria Nansei Sekiyu é um caso bem parecido com o da refinaria que ficou muito mais conhecida dos brasileiros, a de Pasadena, no Texas – aquela porcaria que foi comprada cara e deu um prejuízo bilionário (de bilhão de dólares, não de reais) à Petrobrás, mas rendeu um dinheiro absurdo de propina para todo o lulo-quadrilhismo.
No dia 29/12, faltando poucas horas para o ano acabar, a Petrobrás sob nova direção ficou livre daquele abacaxi. Vendeu, passou pra frente.
Não foi manchete dos jornais, e você, prezado eventual leitor, talvez até já estivesse começando a beber para comemorar o fim deste ano de merda, mas sabe qual Bolsa de Valores teve maior alta, ao longo dele mesmo, o ano de merda de 2016? Pois é: a Bovespa. A Bolsa de São Paulo. Difícil entender? Não, não, não, bem ao contrário, facílimo de entender. O ano começou com o Poste na Presidência. Depois do Poste, tudo melhorou, e então a Bolsa – zupt! – subiu feito um foguete.
Sem o Poste, tudo fica melhor demais da conta.
A Bovespa subiu 39% ao longo do ano. A segunda bolsa que mais se valorizou ao longo do ano foi a de Toronto – 18,3%.
A moeda que mais se valorizou em relação ao dólar ao longo de 2016 – tcham tcham tcham tcham! – foi o real. O dólar perdeu 17,7% do seu valor em relação ao real, ao longo do ano. Começou o ano valendo R$ 3,95; fechou os negócios na quinta, 29/12, a R$ 3,252.
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Claro, e ainda tem a Lava-Jato.
Dia sim, o outro também, algum dos grandes jornais manchetava que alguém estava tentando acabar com a Lava-Jato. A Lava-Jato terminou 2016 muito bem e tudo indica que entrará muito bem em 2017.
Ah, já que falamos em Lava-Jato, teríamos que falar do Judiciário. A insanidade que foi Lewandowiski agredir a Constituição, fatiar a sentença contra o Poste – a mulher foi impichada, mas não perdeu os direitos políticos, o que não dá para entender. E aí vem o Marco Aurélio de Mello e faz voto monocratático contra a mais mínima lógica, jogando uma montanha de gasolina em cima da fogueira que já estava ardendo de insegurança no país. E aí o pleno do STF conserta a asneira, mas é acusado por meio mundo de se prostrar diante do criminoso Calheiros…
Mas, colocado na planilha de vitórias e derrotas, de créditos e saques, no fim o STF, tenho absoluta certeza, se sai bem demais.
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Nada disso quer dizer que estamos no melhor dos mundos. Claro que não estamos.
Mas quer dizer, sim, que a percepção majoritária que impera nas redes sociais não reflete a verdade dos fatos.
2016 não foi um annus horribilis como tanta gente acha.
2016 foi o ano em que o Brasil se livrou do lulo-quadrilhismo.
2016 só foi o annus horribilis para os lulo-quadrilhistas. E se foi horrível para eles, foi uma maravilha para o país.
30/12/2016
A foto no alto é de Daniel Teixeira/Estadão, da maior manifestação de toda a História do Brasil, em 13 de março, em que mais de 4 milhões de brasileiros foram às ruas exigir o fim da corrupção e do mandato do Poste.
No dia 31/12, o Estadão publicou um editorial e dois arquivos que, creio, parecem dar razão ao que escrevi acima:
O ano da maturidade, editorial.
Servaz, você está enganado. As medidas do governo são contra os trabalhadores. Escondem o jogo da elite para prejudicar os pobres, só interessam a esse pessoal do sul que não gosta de nordestino. É uma armação apoiada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, por Sérgio Moro e pelo Supremo. Querem acabar com Lula, mas não conseguirão. Aquela imagem que abre seu artigo é fotomontagem. Lula se lança candidato no começo do ano, e volta ao poder em 2018 para salvar o Brasil.
(Deus me perdoe…)