Pedalou, sim. Mas não foi pelos pobres

Que as palavras ditas por Lula, Dilma et caterva não têm qualquer valor, isso a gente já sabe faz muito tempo. Mas eles estão exagerando demais da conta.

O que eles dizem não tem lastro. São como notas impressas em épocas de hiperinflação, como na Alemanha da República de Weimar, na Argentina por tantas vezes nos últimos 50 anos, como no Brasil antes do Plano Real que o PT combateu.

As frases que eles dizem não têm lastro, não têm valor. Estão tão longe de qualquer tipo de realidade quanto o Sol de Plutão, ou mais. Tanto que vão se desdizendo, de acordo com o momento. Ah, eu não sabia de nada desse negócio de mensalão, fui apunhalado pelas costas. Daí a pouco: mensalão jamais existiu e vou passar os próximos meses a provar isso.

Usar a imagem roqueira de que é uma metamorfose ambulante é uma bela desculpa para essa coisa das afirmações que não têm lastro, que não têm valor, que não significam nada. Hoje se diz queijo, amanhã se diz batata, depois café, e tudo bem, a gente é metamorfose ambulante mesmo, uai.

Então, voltando ao ponto: que o que Lula, Dilma e companheirada dizem não tem qualquer tipo de lastro, de contato com algum tipo de verdade dos fatos, isso já é sabido.

Mas não é que agora eles estão exagerando mais do que exagero de antes?

Faz menos de um mês que a Advocacia-Geral da União entregou ao TCU um documento de mais de mil páginas para defender o governo Dilma Rousseff da acusação de ter cometido pedaladas fiscais – manobras contábeis para tentar esconder crimes contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Mais de mil páginas de documentos para tentar comprovar que não houve irregularidade, não houve pedalada fiscal.

E aí, na terça-feira, 13 de outubro, vem o Lula rosnar, em congresso da CUT, que (vai literal, segundo transcrição feita em reportagem de minha amiga Elizabeth Lopes no Estadão de quarta, 14) “ela fez as pedaladas para pagar o Bolsa Família, ela fez aas pedaladas para pagar o Minha Casa Minha Vida”.

Com um discurso diante da companheirada, Lula desmentiu as mil páginas do outro Luís Inácio, o Adams, da AGU!

Ele admitiu que houve as pedaladas!

Mas – garantiu – foi para o bem! Foi para dar o dinheirinho dos pobres!

A gente fez mesmo o que a Lei de Responsabilidade Fiscal diz que é crime, mas e daí? Primeiro que esse negócio de responsabilidade fiscal é coisa de coxinha, de zelite de zôio azul que não gosta de pobre na faculdade e no avião. Segundo que é isso aí, fizemos foi pro bem.

Ora, roubar de banco, por exemplo, não é roubar, é desapropriar em nome do povo. Não era esse o discurso dos companheiros de Dilma na luta armada?

Ser contra a lei em nome do povo não é errado: é distribuir riqueza, é promover a justiça social.

Só que o que Lula disse é mentira. Embuste, burla, encravação, fraude, impostura, logro, ludibrio, peta, balela, carapetão, mendácia, patacoada, patarata, pulha, engodo.

Por a mais b, Miriam Leitão mostra por que as pedaladas fiscais não foram para favorecer os pobres. Foram para favorecer, isso sim, os ricos.

Aí vai o artigo.

         A quem se destina

         Artigo de Míriam Leitão em O Globo de 15/10/205.

A maior parte das pedaladas fiscais não foi feita para beneficiar os pobres, mas sim os muito ricos através dos subsídios para as grandes empresas no Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES. No Banco do Brasil, os atrasos são dos empréstimos para empresas do agronegócio. Nesses dois bancos se concentra a maior parte da dívida.

O grande empresariado bateu palmas e fez fila para pegar recursos do PSI. O programa gerou essa dívida de R$ 24,5 bilhões acumulada com o BNDES. Mas o custo não é só esse. O PSI é com taxa supersubsidiada. Mas todos os empréstimos do BNDES são com taxas mais baixas do que as que o Tesouro paga. Foram transferidos para o banco, para que ele emprestasse, outros R$ 500 bilhões. Sobre essa dinheirama há custos que continuarão pesando no bolso do contribuinte nos próximos anos, talvez décadas.

As despesas do Tesouro para carregar a dívida contraída para transferir recursos para o BNDES ou as contas da equalização de taxas de juros provam que a política econômica do PT se destinou aos mais ricos. O discurso demagógico de pedalada feita para favorecer os pobres é desmentido pelos fatos. O gasto com as grandes empresas foi infinitamente maior do que com os programas de transferência de renda.

Os governos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma adotaram políticas criadas pelo governo militar. Tudo foi refeito: política de escolha de grupos vencedores, dinheiro barato financiado com os impostos do resto da população, fechamento da economia para reduzir a competição, regulação tendenciosa que beneficiava alguns em detrimento de outros. Na economia, nada foi mais parecido com o governo militar do que os governos do PT.

Agora, Lula e Dilma estão usando mais uma vez o discurso populista para justificar o fato de o governo ter desrespeitado a Lei de Responsabilidade Fiscal, com o argumento de que o fizeram para atender aos pobres. Os números mostram o contrário. Das pedaladas de R$ 40 bilhões, R$ 6 bilhões foram de atrasos à Caixa Econômica para o pagamento de programas como Bolsa Família. A maior parte da dívida é com programas do bolsa empresário.

O governo Dilma prejudicou também os mais pobres quando foi leniente com a inflação. Deixou que a taxa ficasse tempo demais perto do teto da meta e segurou artificialmente os preços administrados para elevá-los após as eleições. O resultado foi inflação perto de 10%, queda do poder de compra das famílias brasileiras e encolhimento das vendas.

A inflação sempre atingirá mais diretamente os mais pobres, por isso a primeira política social é manter a taxa sob controle. A estabilização foi um poderoso instrumento de inclusão e permitiu que políticas sociais tivessem resultado, aumentando o movimento de retirada de brasileiros da pobreza. Quando o governo permite uma taxa que chega a este nível calamitoso de agora — com o PIB encolhendo 3% — a consequência direta é retirar renda da população, principalmente dos mais pobres.

Por ação, através dos programas de subsídio às grandes empresas, e por omissão, ao deixar a inflação subir, o governo está fazendo o oposto do que deveria fazer. Está usando mais recursos públicos para os ricos; tirando renda dos mais pobres através da inflação.

Por isso, a conversa do ex-presidente Lula e a nota do Planalto são mais do que demagógicas. São falsas. As pedaladas não foram feitas para pagar os beneficiários do Bolsa Família porque faltou dinheiro. Como já disse aqui, outros programas tiveram, em 2014, por razões eleitorais, um aumento súbito, que foi revogado no ano seguinte. Mas, além disso, os números mostram a quem se destina a maior parte dos subsídios e subvenções pagos pelo Tesouro: às grandes empresas.

A ilusão de que o PT pudesse fazer o ajuste fiscal, corrigindo os erros que cometeu, já se desfez. Os gritos de “fora Levy” na reunião da CUT mostram que não há o que o ministro da Fazenda possa fazer. O partido não aceita ajuda para corrigir a bagunça que fez porque não acredita em responsabilidade fiscal. Foi por isso que a lei foi ferida tantas vezes nos últimos anos. Na opinião emitida por Lula na CUT, o país deve continuar desajustado. Faltou dizer quem paga a conta da desordem petista na economia.

15/10/2015

Outros textos recentes sobre o desgoverno lulo-petista:

O Brasil não aguenta mais. A rejeição a Dilma é ampla, geral e irrestrita. 

Os governos Lula-Dilma revigoram o arcaísmo. 

2 Comentários para “Pedalou, sim. Mas não foi pelos pobres”

  1. Por este texto podemos identificar quem somos NOS e quem são ELES. Zelite zoio azul somos nós na oposição, eles são os pobretes do bolsa família, rolezinhos, etc… O governo faz cagadas em nome deles, mas que beneficiam a nós da classe média, pode? Em 2018 o governo será nosso e eles voltarão a ser felizes.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *