O que foi dito pelo Palácio do Planalto logo após ser surpreendido pelo panelaço do último domingo não convence sequer o mais crédulo e fanático petista. Acusar a classe média, a burguesia e a oposição de querer um terceiro turno eleitoral, e desqualificar a barulhenta manifestação, é mero discurso para consumo interno.É a única e quase desesperada linha de defesa ao alcance das mãos de uma presidente isolada de tudo e todos.
Dilma e seus estrategistas sabem muito bem que o panelaço foi a ponta do iceberg de um estado de espírito existente em diversos segmentos da sociedade.
A ira dos brasileiros vem crescendo desde as eleições e tende a se avolumar cada vez mais. Não é difícil entender as razões.
No mundo conectado de hoje, ninguém muda de discurso, da noite para o dia, impunemente. A transparência passou a ser um valor a partir do qual os brasileiros julgam seus políticos.
Ora, a presidente adotou durante a campanha o discurso de Alice no País das Maravilhas. Fez mais: acusou seu adversário, afirmando que, se vencesse, ele promoveria desemprego, recessão, aumento de juros e o diabo a quatro.
Pois bem: eleita, Dilma deu um cavalo de pau na economia, e fez tudo o que disse que seu adversário faria. Legitimamente, os brasileiros, mesmo parte dos seus eleitores, se sentiram logrados, vítimas de grossas mentiras.
Perceberam que o país não vivia em um conto de fadas, como vendia a candidata Dilma, mas em um filme de terror, uma crise econômica gravíssima, na qual recessão e inflação andam de mãos juntas.
A ira do povo aumentou ao constatar que a presidente vinha com mais uma história da carochinha: a conversa de que a crise econômica era produto da situação externa e da seca, que ela repetiu no pronunciamento na TV no Dia da Mulher, na tentativa de transferir responsabilidades, de livrar a cara de seu governo.
Aí já era demais! Foi contestada até mesmo por Marta Suplicy, hoje prestes a ser mandada para a fogueira da inquisição petista: “Tentando se apoiar na ultrapassada justificativa da crise internacional, Dilma negou, mais uma vez, a gravidade e dimensão da atual crise econômica, as responsabilidades do seu governo e as consequências de seus desdobramentos para o povo brasileiro”.
Mas qual a gota d´água que transbordou no panelaço ?
A corrupção na Petrobras.
Ou melhor, a insistência do governo de diluir sua gravidade, de transferir responsabilidades, de tergiversar. De vir com escapismo do tipo “estão querendo privatizar a Petrobrás”, de ver conspirações onde inexistem, de manipular, chantagear e alardear que há um golpe em curso; de desqualificar a classe média, tachando-a de fascista.
O iceberg tem, portanto, uma base objetiva. No domingo mostrou a sua ponta. Nesta terça-feira veio à tona mais um pouco: Dilma e o PT foram vaiados no Salão Internacional da Construção em São Paulo.
Essa é a verdadeira dimensão da crise: a cada dia aumenta o fosso entre a presidente e o povo.
Corremos sério risco de ter uma presidente, por quatro anos, aprisionada nas redomas do Palácio do Planalto. Que reina, mas não governa.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 11/3/2015.
A BURGUESIA GOURMET precisa do povo! Sem povo
nào vai haver impeachment.