No happening do 5º Congresso do PT, em Salvador, o ex-presidente Lula festejou, com a agressiva insolência de sempre, a crise das empresas de comunicação.
Ele disse que o setor é o que mais desemprega no Brasil atualmente. Em seguida citou o número de demissões de jornalistas na Folha, no Estadão, e disse que a Abril teve que abrir mão da metade do prédio que ocupa. Acusou esta última de “editar a revista mais sórdida que se publica neste país”.
Lula disse que “pelo jeito as pessoas não querem mais ler as mentiras que eles publicam”.
Ao publicarem a notícia da fala do ex-presidente, os jornais estariam, sim, mentindo. Ou pelo menos, reproduzindo as mentiras contidas na fala de Lula.
Talvez as pessoas não queiram mais ouvir as mentiras que o ex-presidente e a sua sucessora contam.
O setor da comunicação não é o que mais desemprega no país atualmente. Graças à extraordinária habilidade com que o governo Dilma aplicou a sua “nova matriz macroeconômica” e às pedaladas fiscais que agora terá que explicar ao TCU, o desemprego bate forte na indústria automobilística, na construção civil, nas telecomunicações; só as empresas envolvidas na Operação Lava Jato tiveram que demitir 10 mil pessoas na construção naval.
O prazer sádico com que Lula anunciou aos delegados do Congresso – onde o PT fez de tudo menos lavar a sua própria roupa suja – as demissões de jornalistas foi saudado pela platéia com os tradicionais gritos de “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
Uma festa insana, onde delegados do Partido dos Trabalhadores festejaram aos gritos a demissão de trabalhadores.
Com a obediência devida à inspiração do supremo líder, o secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo, Jilmar Tatto, resolveu adaptar a palavra de ordem do chefe ao seu peculiar e delicado senso de humor. Ao receber repórteres da Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo para uma entrevista coletiva, tripudiou: “vocês ainda não foram demitidos?” (O internauta e jornalista Renzo Mora sugeriu apropriadamente no Facebook que os repórteres deveriam ter respondido: “E o sr. ainda não foi preso?”)
De resto, a performance do supremo líder diante da platéia do 5º Congresso, sublinhada pela tonitruante rouquidão que se acentua nos ataques às “elites” e à imprensa, e que sempre termina com o complemento “deste país”, nada mais fez do que reafirmar aquilo que todo mundo já sabe: o PT, a partir do seu andar de cima, até os militantes amestrados cujos cérebros baldios decoram e repetem palavras de ordem, não suporta a liberdade de imprensa.
Uma visceral incompatibilidade de gênios, muito embora a construção de toda a narrativa mitológica em torno da reencarnação do pai dos pobres tenha contado desde sempre com a prestimosa colaboração da mídia independente, que carregou nos ombros como se fosse uma imagem santa o andor do metalúrgico rebelde de Vila Euclides.
Além do reflexo da crise da estagnação da economia, presenteada pelas heterodoxias econômicas do trio Dilma-Mantega-Arno Agustín, a indústria da comunicação passa pela crise da transição das plataformas de papel para as plataformas digitais, mas nem o PT nem Lula têm qualquer espécie de colaboração a oferecer na solução desse dilema, mesmo porque não o entendem.
Por eles, seria melhor que tudo desaparecesse, e que as mídias se transformassem em porta-vozes em defesa de seus desatinos e caprichos. Uma imprensa “yes man”, que não publique fatos, que não investigue, que não questione, que não indague, que não conteste, que se ajoelhe aos superiores interesses do partido que pretende ser nosso farol e guia.
Por trás do discurso raivoso do chefe do PT comemorando a demissão de jornalistas está o incontrolável instinto liberticida de quem não suporta ser contrariado e desmistificado em público.
Os governos, os partidos e os caudilhos passam. A democracia sobrevive, mas só com a imprensa livre.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 19/6/2015.
O Lula comemora a demissão dos jornalistas e da crise que ataca os jornalões do PIG. Esquece a capacidade de reação dos trabalhadores entre eles os jornalistas que em resposta a crise dos patrões se multiplicam em plataformas digitais, resta saber quem sào os patrões. Quem vai dirigir os destinos da nova mídia?