O governo em seu labirinto

A gigantesca manifestação de domingo deu um nó na cabeça do governo e desorientou a militância virtual do PT, que nunca antes na história deste país poderia imaginar a existência de uma tão enorme elite branca de olhos azuis, preconceituosa, racista e fascista.

Quem poderia imaginar que tanta gente no Brasil odeia ter que viajar de avião sentado ao lado de um pobre?

A sociologia de porão saiu procurando chifre em cabeça de cavalo e, como não poderia deixar de ser, encontrou algumas exibicionistas com os seios de fora a alguns gatos pingados pedindo a volta dos militares. Abriram a lente sobre as patologias sociais e tentaram ampliar as exceções para transformá-las em regra.

A possibilidade estatística de que existam alguns pontos fora da curva numa multidão de 2 milhões de pessoas é bastante considerável.

Nas marchas chapa branca da sexta feira anterior estavam todos disciplinadamente de vermelho repetindo palavras de ordem decoradas, mas quem estivesse procurando patologias sociais com lente de aumento encontraria muitos madurinhos, muitos chavezinhos, muitos guevarinhas, tão anacrônicos quanto a turma da “intervenção militar”.

Sociedades abertas e democráticas são assim mesmo. Conviver com as diferenças faz parte do jogo.

Assim como faz parte do jogo bater panelas enquanto dois ministros são designados para ir à televisão e interpretar shakesperianamente as suas versões particulares de democracia. To be or not to be, versão Cardozo e versão Rossetto. Quem foi que disse que o blábláblá deles tinha mais substância do que o barulho de colheres batendo no fundo das panelas? No fundo, no fundo, as panelas tinham mais a dizer do que eles.

Depois das tentativas naturais de esticar e de encolher a Avenida Paulista. Onde cabem 3 milhões de festivos LGTBs e 2 milhões de cantores de “Feliz Ano Novo” e não mais de 210 mil opositores do governo, chegou-se a um consenso que mais milhão menos milhão, essa foi a maior manifestação pública nas ruas do Brasil depois da campanha das Diretas Já. Isso não é pouco, mas pode não ser nada, se você cair na conversa de que, afinal de contas, todos estavam lá porque foram manipulados pela mídia.

Mídia essa que, na concepção democrática do presidente do PT, jornalista Ruy Falcão, deveria ser devidamente castigada com o corte de anúncios oficiais por ter se atrevido a noticiar o que estava acontecendo, sem tirar nem pôr.

Mas o governo, mais inspirado do que nunca, não parou de desfiar o seu rosário de desastres – o maior número de bobagens acumulado em tão curto espaço de tempo.

Após a constatação de que apenas 13% dos brasileiros acham o governo bom, deixou-se vazar um documento interno do Planalto criticando a política de comunicação, escancarando o esquema de manipulação dos blogs sujos e exortando o governo (ou o partido, o que dá na mesma) a iniciar uma grande virada a partir da aplicação maciça de recursos de propaganda na desastrada administração Haddad, em São Paulo, onde se localiza, na visão do estrategista que escreveu o documento, a maior resistência ao governo no país.

Mal o documento confidencial e interno começava a ser discutido, quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, depois de um áspero bate-boca com o ministro da Educação Cid Gomes no plenário, sentiu-se autorizado a anunciar a sua demissão ao País, antes mesmo que a presidente o fizesse. De fato, ela estava muito ocupada em anunciar o enésimo pacote anticorrupção do governo petista, que criminaliza o que sempre foi crime e que não salvou nem salvará a Petrobrás do saque organizado com participação do próprio PT.

A sensação de apertem os cintos que o piloto sumiu espalha-se pelo país, ao mesmo tempo em que o governo não consegue achar a saída de seu labirinto.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 20/3/2015. 

5 Comentários para “O governo em seu labirinto”

  1. Os 2 milhõews na paulista representam exatamente 3,9% dos 51 milhõews que perderam as eleiçoes demoxcraticas. O que VAIA não analisa e o conteudo das manifestações preferindo compara-las as quantisdades de LGBTs e cantores de festa de virada de ano.Enquanto gays, lesbicas e festivos sabiam porque estavam na rua.
    Tucanos, somente tucanos, para fazer númwero,levaram as crianças para passear na avenida fechada para o lazer dominical. A gente se ve na GLOBO.Os números são incontestáveis.

  2. OS DONOS DO PODER.

    “A comunidade política conduz, comanda, supervisiona os negócios, como negócios privados seus, na origem, como negócios públicos depois, em linhas que se demarcam gradualmente. O súdito, a sociedade, se compreendem no âmbito de um aparelhamento a explorar, a manipular, a tosquiar nos casos extremos.
    Dessa realidade se projeta, em florescimento natural, a forma de poder, institucionalizada num tipo de domínio: o patrimonialismo, cuja legitimidade se assenta no tradicionalismo – é assim porque sempre foi.” (Raymundo Faoro)

  3. A pesquisa do Datafolha, que deu apenas 13% de aprovação a Dilma, mostrou claramente que a rejeição é igualzinha entre os mais pobres. Dos que ganham até 2 salários mínimos, 15% aprovam e 60% a consideram ruim ou péssima. É na faixa 2 a 5 salários mínimos que está a maior reprovação, 66%, com apenas 10% de aprovação. Ao contrário da propaganda mentirosa petista (desculpem o pleonasmo), nas faixas de maior renda Dilma está até um pouco melhor do que imaginávamos: entre 5 e 10 salários mínimos, tem 13% de aprovacão e 65% de ruim ou péssimo. Entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, a aprovação é de 14% e a reprovação é também de 65%. A diferença é que as pessoas mais pobres normalmente são menos politizadas, e, portanto, menos dispostas a se manifestar, apesar de insatisfeitas. A classe média, incluindo estudantes, sempre foi a responsável pelas manifestações históricas do passado. A pesquisa mostrou também a enorme queda da popularidade de Dilma no Nordeste, onde chegou a conseguir 70% de votos em alguns estados. Lá, a aprovação desabou para 16%. Só resta mesmo ao PT tentar impedir que a TV, o meio de comunicação mais popular, noticie as manifestações ou as descobertas da Polícia Federal, Receita Federal e do Ministério Público. Aqui no Centro-Oeste, a rejeição é de 75%. Em Brasília deve ser maior ainda. Na visita a Goiânia, fecharam completamente o acesso ao público num perímetro de quilômetros do local onde ela iria discursar. Só deixaram passar os ônibus com militantes, que foram trazidos de longe para aplaudir. Dilma não pode mais sair às ruas, depois que a grande maioria dos brasileiros virou “elite branca cheia de ódio manipulada pela globo”. Está usando a artimanha de discursar à tarde em locais fechados, para aparecer para milhões à noite no Jornal Nacional. Com a crise econômica, com um novo tesoureiro indo para a cadeia, com o milionário José Dirceu voltando para a Papuda, fica difícil usar de novo o mesmo truque de atacar a imprensa e o judiciário.

  4. lUIZ, o combativo, está de volta às ruas, heroicamentwe a bordo de seu Passat marrom.
    Conseguirá a elite branca cabeça de ovo reverter as eleições?
    Estou torcendo por mudanças,… afinal os trabalhadores superaram um regime militar de 20 anos, 5 anos de Sarnewy, 4 de Collor, 8 de FHC e 12 de PT.
    Tomo a ousadia de me apropriar do texto cabeça de ovo.
    “A diferença é que as pessoas mais pobres normalmente são menos politizadas, e, portanto, menos dispostas a se manifestar, apesar de insatisfeitas”.
    Politizados só nós os branquinhos?

  5. O Sr. Vaia parece sentir-se bem, vivendo aqui. Talvez se sinta cercado de democratas. Fascista, para ele, é exceção. Eu, no caso, me sinto muito deslocado aqui:

    – Democracia, para mim, é quando o povo decide, ou quando as facções enbtram em acordo (não conheço um que concorde comigo);

    – Tenho visto, nas ruas e na Net, indivíduos hostilizando e ameaçando o outro por opiniões! Amizades rompidas! (eu poderia tranquilamente fazer um churrasco com o Vaia, Vaz, Maria Helena etc.)

    Os que querem uma ditadura são mesmo exceção?

    – Tenho visto o Zé de Abreu e a Sabatella hostilizados por fascistas – como se o Abreu fosse obrigado a bancar o almoço/jantar de petistas, ou de sair de um restaurante fino!

    – O embrião de era neofascista, inaugurada pelo Bush (“politicamente correto”, Patriot Act etc.) indica tendência a atitudes e opiniões mais à moda de Mussolini.

    Esta é a minha percepção do que me rodeia. Mas, se o Vaia vive num conto-de-fadas democrático, nada há a fazer…

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