Nunca houve governo tão incompetente (14)

Dez anos depois de ter sido o cenário inaugural do escândalo do mensalão, os Correios experimentam mais uma crise marcada pela ingerência política que corrói estatais. Lucro em queda vertiginosa, preços controlados artificialmente, recorde de queixas por atrasos de encomendas, empregados com salários descontados para cobrir um déficit bilionário no fundo de pensão.

Esse é o panorama que sai do balanço referente a 2014 que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) divulga nos próximos dias. A versão já submetida ao conselho de administração da estatal registra um lucro líquido de magros R$ 9,9 milhões. A queda foi de 97% em relação aos R$ 325 milhões registrados em 2013. A comparação é ainda pior em relação a 2012, quando o lucro chegou a R$ 1,1 bilhão.

Em 2014, os Correios deixaram de arrecadar R$ 482 milhões porque o governo impediu a estatal de reajustar os preços dos seus serviços monopolistas, como cartas e telegramas. A empresa foi vítima de uma intervenção parecida com a que provocou prejuízos à Petrobras com o controle dos preços dos combustíveis. Os Correios só não tiveram o primeiro prejuízo em décadas no ano passado graças a uma manobra contábil que tirou das contas o provisionamento de R$ 1,08 bilhão de uma dívida reivindicada na Justiça pelo Postalis, o combalido fundo de pensão dos funcionários que hoje cobra até de aposentados contribuição extra para cobrir um déficit de R$ 5,6 bilhões.

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Foi justamente a provisão da dívida com o Postalis que reduziu o lucro dos Correios em 2009, até então o mais baixo na história recente da empresa: R$ 117,5 milhões. Naquela época, a empresa, que havia sido fatiada no início do governo Lula entre PTB e PMDB, continuava sob influência deste último. E se mostrava uma fonte inesgotável de escândalos. Depois de ter sido o estopim do mensalão com o flagrante do diretor Maurício Marinho (indicado do PTB) recebendo propina, outro caso nascente nos Correios abalou o PT. Em setembro de 2010, a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, pediu demissão para poupar a campanha presidencial da ex-chefe, Dilma Rousseff, depois que um diretor dos Correios foi acusado de tráfico de influência em favor de negócios envolvendo filhos dela.

Traumatizado, o PT decidiu tirar a ECT do balcão de troca de apoio no Congresso logo no início do governo Dilma e deixá-la exclusivamente sob o controle do partido. Para dirigir a estatal, o escalado foi Wagner Pinheiro, do grupo de petistas originários do Sindicato dos Bancários de São Paulo que dá as cartas nos fundos de pensão de estatais desde o governo Lula. Entre 2003 e 2010, ele dirigiu a Fundação Petros, da Petrobras, que entrou no alvo da Operação Lava-Jato depois que um ex-auxiliar do doleiro Alberto Youssef apontou a influência do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, num negócio suspeito da entidade. Vaccari, que é do mesmo grupo político de Pinheiro e está preso em Curitiba, nega.

Quando se transferiu da Petros para os Correios, Pinheiro iniciou a reformulação dos estatutos para permitir a criação de novos cargos comissionados preenchidos por indicados políticos de outros órgãos e estatais, como Banco do Brasil e Caixa, ou de sindicatos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT.

As novas regras também facilitaram os critérios para a nomeação de diretores regionais. Segundo levantamento da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), dos 28 diretores regionais nos estados, 16 são filiados ao PT. É o caso de José Amengol Filho, diretor regional dos Correios em Minas Gerais, que é cotado agora para uma vice-presidência. Ele ganhou notoriedade na eleição de 2014 ao ser citado pelo deputado estadual mineiro Durval Ângelo (PT) num vídeo. O parlamentar discursa ao lado de Wagner Pinheiro, dizendo que a reeleição de Dilma teria “dedo forte dos petistas dos Correios”. Em outras regionais, como as de Santa Catarina e Mato Grosso, diretores também promoveram reuniões e distribuíram cartas a funcionários pedindo votos para o PT. Pinheiro, que também viajou o país em campanha por Dilma, defendeu a ação deles alegando que teriam sido atividades fora do expediente e sem uso de recursos públicos.

— Há diretores regionais que passaram a vida toda como sindicalistas. É um critério claro. Não conhecem a operação e não estão preparados para a gestão. Isso afeta a empresa, que sempre foi lucrativa — diz Luiz Barreto, presidente da Adcap, entidade que vem denunciando o aparelhamento ao governo e ao Ministério Público. — Queremos que os gestores sejam os melhores quadros dos Correios e que a empresa seja propriedade do Estado, não de um governo.

Em dezembro de 2014, o número de reclamações de extravio e atrasos de encomendas dos Correios ultrapassou, pela primeira vez, 1 milhão em um mês. A ECT argumenta que esse número representa menos de 0,1% dos 36 milhões de volumes (incluindo cartas) que entrega diariamente. Dados de relatório interno obtido pelo GLOBO que considera apenas encomendas registradas mostram que as queixas quase dobraram em um ano: de 296 mil na primeira quinzena de maio de 2014 foram para 596 mil no início deste mês.

Em nota, a direção dos Correios negou aparelhamento e disse que “filiação partidária ou sindical não são critérios” para ocupar cargos. Lembrou que o balanço da estatal foi aprovado sem ressalvas por auditoria externa independente e que a queda no lucro se deve a quatro fatores: provisionamento de R$ 1 bilhão para benefícios de saúde dos funcionários (que não era feito antes), despesas de R$ 235 milhões com um plano de demissão incentivada, queda na receita com investimentos financeiros e adiamento do reajuste das tarifas. Para a direção da ECT, a comparação do lucro não reflete a “expansão sustentável de seus negócios” e dos investimentos, que somaram R$ 2 bilhões desde 2011.

(*) Esta reportagem de Alexandre Rodrigues foi publicada em O Globo de 31/5/2015.

Editorial do Estadão demonstra como Dilma é “impermeável ao bom senso”

4 Comentários para “Nunca houve governo tão incompetente (14)”

  1. Nunca houve governo tão incompetente (14), FALTAM 1310 DIAS PARA O FIM.

    O homem, quando perfeito, é o melhor dos animais, mas é também o pior de todos quando afastado da lei e da justiça, pois a injustiça é a mais perniciosa quando armada, e o homem nasce dotado de armas para serem bem usadas pela inteligência e pelo talento, mas quando destituído de qualidades morais, o homem é o mais impiedoso e selvagem dos animais.

  2. Esse “dedo forte do PT nos Correios ” afetou em muito meus três últimos anos de trabalho, antes da aposentadoria. O setor de fiscalização de encomendas postais internacionais da Receita Federal, oficialmente denominado Collis Postaux, funcionava dentro dos centros de triagem dos Correios, nas capitais dos estados. Um belo dia, o “dedo forte do PT” teve a brilhante idéia de centralizar as triagens internacionais em apenas três cidades: São Paulo e Rio de Janeiro – com seus Collis Postaux já imensamente congestionados – , além de Curitiba. Coisa de amadores ocupando cargos por indicação política. Logo após fecharem os demais centros de triagem estaduais, o sistema inteiro entrou em colapso. Os clientes de Manaus, Recife e Brasília, por exemplo, passaram a ter suas encomendas fiscalizadas a milhares de quilômetros de suas residências. Isso tornou impossível reclamações ou providências relativas a isenções, erros nos cálculos dos impostos, falta, troca ou devolução de mercadorias. Também não havia como resolver essas questões por telefone, considerando que estamos falando de milhares de pequenas encomendas. O pessoal treinado da Receita e dos Correios nos demais estados, naturalmente, não foi deslocado para essas três cidades. O resultado foi um enorme congestionamento na liberação de encomendas, causado por uma incrível sobrecarga de trabalho. Um cidadão previdente, que importasse em outubro um presente de Natal para o filho, tinha muita sorte se o recebesse depois do Carnaval. Os atrasos eram sempre atribuídos à Alfândega, pois os contribuintes não tinham conhecimento da engenhosa inovação implantada pela administração petista. As reclamações na Ouvidoria da Receita Federal se multiplicaram. Empresas privadas de transporte de encomendas internacionais são autorizadas a calcular e pagar antecipadamente os tributos e depois cobra-los dos destinatários. Mas às vezes cometem erros, como o recolhimento de impostos sobre objetos que dispõem de isenções ou imunidades tributárias, caso dos livros ou das importações realizadas por embaixadas e consulados estrangeiros. Isso antes era facilmente resolvido pelo destinatário no Collis de sua cidade. Com a mudança, um gaúcho que enviasse um objeto para o exterior para conserto, ou troca em garantia e tivesse o imposto recolhido de novo , por engano, no retorno, teria que pegar um avião para ir resolver o problema. O importador nem mesmo tinha como saber se a sua encomenda estava armazenada no Rio, São Paulo ou Curitiba. Muitos somente localizavam as mercadorias depois de muito tempo, já oneradas por uma caríssima taxa de armazenagem de três ou quatro meses, o que tornava mais econômico abandona-las. O recebimento ou envio de encomendas por parte de brasileiros residentes no exterior virou um caos. E coitado daquele viajante internacional que decidisse enviar parte de sua bagagem por encomenda postal. O mais engraçado de tudo é que a Receita Federal, anos antes, quando os Correios eram exemplo de eficiência, havia centralizado em Brasília o trabalho de Ouvidoria para assuntos de residentes no exterior. No momento em que os e-mails mal humorados começaram a chegar aos borbotões do Japão, da Austrália e dos EUA, o pobre do Ouvidor da Alfândega de Brasília era ninguém menos do que eu. Devo ressaltar que a função de Ouvidor era um “bico”, desempenhada nos momentos de folga das atividades principais. Me aposentei com pena de abandonar essa minha desolada clientela, já que tinha desenvolvido um certo known how para encontrar agulha em palheiro e descascar abacaxis tributários à distância. Mas desde aquela época já sabia a solução para esse desastre: basta tirar o “dedo forte do PT” e colocar de volta nas posições de gerência os profissionais concursados dos Correio

  3. Como constatamos nào só os trababalhadores de pouca, baixa e nenhuma renda sofrem com os mandos e desmandos petistas.
    O texto demonstra que importadores de panelas passam pelos dissabores de panelaços com atraso. Fazem barulho depois.

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