Não se xinga o povo de golpista

A presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e a turma do PT ainda não descobriram que não se xinga o povo, cansado de corrupção, de golpista. No panelaço do Dia Internacional da Mulher rotularam a manifestação como uma tentativa das elites de forçar o terceiro turno eleitoral.

A resposta veio velozmente. Neste domingo dois milhões de brasileiros foram às ruas e em São Paulo aconteceu a maior manifestação da história do país contra um governo.

Nem isso tirou o Planalto do universo próprio em que vive e da alienação na qual estão mergulhados o governo e a presidente.

Em vez de tomar um choque de realidade e calçar as sandálias da humildade, o governo fez exatamente o contrário, através dos ministros Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto.

O ministro da Justiça repetiu promessas de dois anos atrás, quando das jornadas de junho de 2013, como se elas respondessem a indignação manifestada hoje.

Palavras surdas frente ao clamor de 2013 e muito menos capazes de satisfazer aos sentimentos cívicos que brotaram nas ruas nesse 15 de março, de norte a sul, de leste a oeste do país. Em todos os andares da sociedade.

O outro, Miguel Rossetto, fez pior. Reproduziu a tese do golpismo, praticou o autoengano, ou tentou enganar a todos nós.

Duas questões preocupam em seu pronunciamento. A primeira é a insistência do Planalto de dividir o país entre os eleitores de Aécio Neves – os que fizeram as manifestações -, e os de Dilma.

Ora, é obrigação da presidente governar para todos os brasileiros, independente de como cada um votou na última disputa presidencial.

O dito do ministro desnudou o governo petista: só pensam em função de sua carteirinha partidária. Se consideram representantes do PT e não do povo. E tratam os outros como se fosse o “resto”.
A segunda questão é o apelo ao medo para levar a sociedade à paralisia.

Propositadamente Rossetto superestimou o peso da meia dúzia que prega intervenção militar, rechaçada pelos milhões que ocuparam as ruas.

Balela. As Forças Armadas sequer dão ouvidos às vozes isoladas que se comportam como viúvas da ditadura. Estão em sintonia com o amplo sentimento de civismo, de amor à democracia, expresso na já histórica jornada de 15 de março.

Em vez de criar fantasmas, o governo Dilma deveria cair na real para não ampliar o fosso que o aparta do povo brasileiro.

Esse é o xis do problema: não basta apenas o governo reconstruir a interlocução com sua base parlamentar.

Mais importante é criar pontes com a sociedade. E isto não é uma questão de marketing, é política.

Passa, obrigatoriamente, por um pedido de desculpas aos brasileiros por sua inépcia de não ter percebido o assalto à Petrobrás. Pelos erros primários e grosseiros cometidos na condução da economia; pelo discurso falso e ilusionista da campanha eleitoral.

Mas contar ao povo a verdade será a condenação do seu partido. Representaria a negação do que foi até agora o seu governo.

O jeito vai ser se encastelar no Palácio. Como fez nesta segunda-feira à tarde quando admitiu dar entrevista coletiva num horário em que a população estaria trabalhando e não poderia bater panelas. Não conseguiu. À noite, quando o Jornal Nacional repercutiu a fala da presidente, milhares de pessoas em diversas cidades mantiveram a marcação cerrada e fizeram mais um panelaço.

Como se nota, não fica impune o governante que xinga seu próprio povo de golpista.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 18/3/2015. 

2 Comentários para “Não se xinga o povo de golpista”

  1. AS RUAS NÃO LEVARAM EM CONTA S REFORMA POLÍTICA, UNICA FORMA DE ACABAR DE VEZ COM O LULO PETISMO.
    DEVE SER FEITA POR UMA CONSTITUINTE EXCLUSIVA PARA NÃO TERMINAR EM PIZZA.

    Meus amigos,

    Eis, a seguir, uma breve síntese que fiz das principais propostas constantes do PROJETO DE INICIATIVA POPULAR PELA REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA E ELEIÇÕES LIMPAS, defendido pela CNBB, OAB, com outras entidades de referência nacional:

    1) FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS ELEITORAIS:

    – fundo público + contribuição de pessoas físicas
    – proibição de financiamento por empresas

    2) FORMA PARA ELEIÇÕES DE VEREADORES E DEPUTADOS:

    – eleições em dois turnos
    – no primeiro turno o voto será exclusivamente no partido, que apresentará sua plataforma política e sua lista pré-ordenada de candidatos, da qual constarão homens e mulheres, alternadamente
    – a elaboração da lista de candidatos será em eleições primárias, com a participação de todos os filiados e acompanhamento da Justiça Eleitoral e do Ministério Público
    – o quociente eleitoral obtido no primeiro turno definirá o número de vagas parlamentares de cada partido a serem preenchidas no segundo turno
    – participarão do segundo turno os primeiros nomes da lista de candidatos, até o dobro do número de vagas obtidas pelo partido. Ou seja, se o partido obtever cinco vagas, disputará o segundo turno com os dez primeiros nomes de sua lista

    3) PLEBISCITO, REFERENDO E PROJETOS DE INICIATIVA POPULAR

    – propõe-se nova regulamentação, para que as grandes questões nacionais sejam decididas por meio de plebiscito ou referendo;
    – os projetos de iniciativa popular poderão ser subscritos por meio de formulário impresso, urnas eletrônicas e assinatura digital na internet e terá rito próprio de tramitação;

    Ainda quanto ao financiamento de campanha, oportuno lembrar que a OAB tem uma Ação de Direta de Inconstitucionalidade contra o financiamento de campanhas eleitorais por empresas, fundamentada no princípio constitucional inscrito no parágrafo único do art. 1º, segundo o qual “Todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição”. O Ministro Relator e mais cinco outros Ministros já acataram a argumentação da OAB, de modo que a maioria da Suprema Corte JÁ DECIDIU ser inconstitucional o financiamento por empresa. Atualmente, o processo está com o Ministro Gilmar Mendes, desde abril/2014. Urge que o devolva, para que o julgamento possa ser concluído.

    Enfim, fazendo coro com Winston Churchill, para quem “A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas”, cabe-nos, como cidadãos brasileiros, defender a democracia dos ataques que ela vem sofrendo, sendo expressão desses ataques as críticas generalizadas aos partidos políticos, aos políticos e às organizações sociais, como se fosse possível existir democracia sem tais instituições.

  2. Falta explicar, Alquéres:

    “As Forças Armadas (…) em sintonia com o (…) amor à democracia”

    Explicai o apelo e os votos do aspirante a ditador Bolsonaro frente à oficialidade, a clubes militares.

    Os milicos não chegaram de novo ao poder pela falta de apoio do poder econômico e de políticos – que aprenderam com a besteira que fizeram em 1964.

    Castello Branco, Hitler, o Marechal Tojo (Japão) etc. foram patrocinados por elites que pensavam que logo voltariam ao poder. Pensaram muito errado.

    Explica, Alquéres.

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