Fora Dilma

zzzzfranca

Apoiar a presidente Dilma Rousseff e atacar o ajuste fiscal que ela precisa fazer. Defender a Petrobras e condenar os corruptos, como se eles nada tivessem a ver com o governo de plantão. Frente a tarefas tão antagônicas, esquizofrênicas, pode-se dizer que as centrais sindicais até colheram êxito na última sexta-feira. Pelo menos, para os seus propósitos.

Ainda que percam em número de gente nas ruas para as manifestações deste domingo, conseguiram bater e rebater na tecla de que qualquer protesto contra Dilma é golpe, coisa da direita, da elite, da mídia mancomunada com os donos do dinheiro.

Danem-se os fatos, que diariamente escancaram os sofisticados esquemas do PT e de seus parceiros para garfar bilhões. Da Petrobras e de outras instâncias do Estado. Até o mensalão virou troco perto do que a Lava Jato apurou até agora.

É essa corrupção institucionalizada, como bem definiu o delator Pedro Barusco em depoimento na CPI da Petrobras, o ponto de união entre os diferentes motes dos que ocupam as ruas neste domingo. Até da bestial meia-dúzia que prega intervenção militar.

Hoje, repúdio à corrupção é sinônimo de “fora Dilma”, “fora PT”.

É também, sem ferir preceitos legais, pedir o impedimento da presidente, algo previsto na Constituição. Cassar mandatos, aliás, tem ocorrido com frequência para afastar chefes do Executivo que surrupiam o Estado, que abusam do poder político e malversam o dinheiro público.

Dados da Confederação Nacional dos Municípios apontam que 107 prefeitos foram cassados em 2013, outros 210 entre 2009 e 2012, a maior parte por atos lesivos à administração. Em bom português, roubalheira. Foram cassados em ritos legalíssimos solicitados pelas câmaras municipais e depois de vencidos todos os trâmites judiciais.

O governador eleito do Maranhão Jackson Lago (PDT) também foi cassado. Perdeu um processo por compra de votos, iniciado por Roseana Sarney (PMDB), segunda colocada no pleito de 2008, que assumiu o mandato no lugar do vitorioso. E um presidente da República, Fernando Collor de Mello, renunciou pouco antes de ter o seu impeachment aprovado.

Definida a legalidade, tem-se a oportunidade.

Dilma Rousseff está iniciando o seu segundo mandato, que lhe foi renovado pela maioria, ainda que com pequena margem. Como a lei brasileira não contempla o instrumento do recall, que permite reavaliar o eleito, o fato de a presidente ser alguém incapaz de conduzir o país não é suficiente para impedi-la de governar.

Mas o caso de Dilma é de outra ordem: ela mente, com plena ciência da mentira. Ao fazê-lo, enquadra-se no Inciso 7 – “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo” – do Capítulo V da lei que define os crimes de responsabilidade e regula o processo de julgamento de impedimentos.

Diante de uma crise econômica seriíssima, debilitada politicamente, com a popularidade no chão, vaiada, Dilma teria de se reinventar. Ou sucumbir. Parte significativa dos petistas parece preferir a segunda hipótese. Lula e o exército de Stédile à frente.

Além dos que estão nas ruas hoje, há muitos que torcem pela imolação de Dilma – e não o fazem por querer um país melhor.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 15/3/2015. 

A foto é da manifestação neste domingo, 15/3, em Franca, interior de São Paulo. É de autoria de Igor do Vale/Folhapresss. 

 

3 Comentários para “Fora Dilma”

  1. A FOTO que ilustra o texto é significativa da elte branca, soft, que procura o impedimento da presidenta eleita com 54 milhoes de votos. os que elegeram Dilma nào aparecem na foto. reparem que nào há um negro, um mulato, um cafuso, um nordestino, somente a elite branca, influente e formadora de opiniào. REPAREM BEM♥

  2. Brasília já foi uma cidade petista. As seguidas vitórias do PT somente aconteciam graças aos votos da imensa classe média da cidade. Os pobres votavam nacionalmente na ARENA, no PDS, em Collor e nos conservadores em geral. Era considerado chique e politizado votar nos candidatos a Governador, Deputados Distritais e Federais do PT e de outros partidos de esquerda. Somente os pobres, os despolitizados e os raros conservadores votavam de forma diferente. Sexta-feira, dia 13, o PT conseguiu reunir 600 pessoas em seu protesto dentro da plataforma inferior da Rodoviária de Brasília. Não foram para a Esplanada, bem ali do lado, porque sua presença nem seria notada na magnitude da Praça dos Três Poderes. No domingo, dia 15, a Esplanada esteve lotada com 50 mil cidadãos de todas as classes sociais, sem a liderança nem a presença de qualquer partido ou político. O principal grito não foi “fora Dilma”, mas sim “fora PT”. Vale a pena lembrar que em Brasília Dilma ficou em terceiro lugar no segundo turno, com 23% dos votos.

  3. Corrigindo o meu comentário acima, Dilma ficou em terceiro lugar no primeiro turno, em Brasília.

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