As panelas de dona Dilma

Mentir é das artes mais difíceis e trabalhosas. Não é para qualquer alfinete, não. Quem quer ser um mestre na arte de enganar tem que ter, em primeiro lugar, uma memória fabulosa e, em segundo lugar, respeitar o infeliz a quem mente.

Acima de tudo, tem que ser diligente, estar sempre atento e não saber o que é preguiça, já que a mentira obriga o mentiroso a estar sempre fiando outras mentiras para sustentar a primeira que engendrou.

O grande erro dos políticos brasileiros é não ler, não estudar, não se aventurar entre os clássicos da literatura e querer, com sua rala cultura, fazer aquilo que Lincoln já advertia ser impossível e é: enganar a todos o tempo todo.

Vejam o PT e sua mentira mais usada: a vida que deu aos pobres. Quem nasceu, por exemplo, no último quartel do século 20 com certeza acredita que antes do PT aqui era o nada. Que os brasileiros nem sorrir sorriam, eram uns infelizes de pai e mãe. Antes do PT, era o breu!

Talvez nem acreditem que antes do PT o MDB, que pariu o PMDB, foi o partido no qual os brasileiros apaixonados pela liberdade e ansiosos pelo fim da ditadura mais confiaram.

Não os culpo. O PMDB, inerte, aquele que entra calado e sai mudo, não inspira que se acredite que já foi o berço de políticos que amavam mais o Brasil do que o Poder. De alguns que até abriram mão do Poder para preservar um país mais decente e com um futuro mais digno.

Lêem Juca Kfouri, o jornalista do futebol, e acreditam quando ele garante que o repúdio demonstrado em várias cidades e bairros deste enorme Brasil ao engodo que foi a campanha e a consequente eleição de dona Dilma à Presidência da República foi “contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade”.

Gente diferenciada como dona Dilma, a filha de imigrante que deu certo. Ficam em êxtase diante da foto da presidente em sua modesta cozinha familiar, onde se vê, numa prateleira ao fundo, o xodó das cozinhas de todo o Brasil, o radinho.

Vestidinha com um simples blazer, a presidente da República tem nas mãos uma frigideira de onde despeja numa travessa o macarrão na manteiga que preparou para os seus.

Não sei o que a minha nonna diria de um macarrão que saiu da panela para uma frigideira, mas sei o que eu digo das panelas de dona Dilma: um luxo, um sonho dourado, são panelas Le Creuset!

Mas, acreditem, é uma típica cozinha pós-PT. Até no detalhe das orquídeas em vez da tradicional comigo-ninguém-pode.

zzzzanta

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/3/2015. 
A foto é de um programa eleitoral de Dilma Rousseff na TV. 

6 Comentários para “As panelas de dona Dilma”

  1. Amanha, 15 de março, enfim a elite gourmet vai às ruas. A macarronada está pronta, feita pela nona, com sabor e temperos já vistos antes.

  2. Panela Le Creuset. Ideal para cozinheiros modernos, que apreciam, além
    do sabor, a apresentação do prato.

    Desaconselhada para panelaços e manifestaçoes.

  3. Panela Le Creuset, Miltinho, é caríssima. É coisa da elite da elite. Coisa que só os neo-milionários do PT (com dinheiro roubado do povo trabalhador) podem comprar.
    Um abraço.
    Sérgio

  4. SERGIO a elite precisa do povo, as panelas do povo, sào de aluminio, baratas e barulhentas.

  5. Há, em 2016, o confronto entre os “Brasil Maravilha” (governistas) e os “Brasil Desgraça” (50anosdetextos.com.br). Eu, no caso, passo ao largo de tais grupos, e digo que é preciso reavaliar se a reeleição dela foi um engodo! Os observadores internacionais não parecem ter reclamado – talvez por ser maçons, sei lá – mas o que se viu, no Brasil, foi um esboço de “preocupação” com os nossos deserdados, por questões eleitorais. Mas o PT, assim como o PTB do Vargas, é um partido tradicional, que demonstra “sensibilidade” com questões sociais porque dá mais voto, ou porque mantém a ordem, no caso do Vargas. Agora, o “socialismo” petista é substituído pelo amor aos gráficos – e quem ama gráfico demonstra claro desprezo pela população.

  6. Ao Sérgio Vaz (mesmo que irrite, leia até o fim):

    Há, de fato, diferença brutal entre o avaliar os gráficos e o AMOR AOS GRÁFICOS, marca do governo recém-nascido e herança delfínica da ditadura.

    O que tivemos, fora do varguismo e do petismo, foram governos completamente alheios às subjetividades presentes na vida das pessoas. Eles sentam-se à mesa e analisam mil tabelas e gráficos, chamando a isto “governar” – mas sem nunca terem visto à sua frente um esgoto a céu aberto.

    Nordestinos pobres – ex-miseráveis – votam no PT porque trabalharam toda uma vida, e chegam à velhice, sem ter visto uma lata de leite em sua dispensa – e agora vem o Bolsa-Família. Isto é resumido como se fosse mero assistencialismo, clientelismo ou outros ismos. Não é. É a vida das pessoas.

    (sou de classe média)

    A falta de qualidade do PT não justifica – nem em tempo de crise extrema – a volta do amor aos gráficos. Avalie-se os gráficos, sem ser viciado neles. Ponto.

    Por favor, envia-me resposta.

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