Vamos mudar o disco?

Meu candidato era Eduardo Campos. Não havia, em meu amor ao Brasil, a menor dúvida que ele saberia nos tirar do enguiço em que estamos. Quando ele se uniu a Marina Silva, tive um princípio de dúvida. Que consegui ultrapassar diante da tragédia: se Eduardo Campos confiou nela para sua vice, esta eleitora também confiaria.

Fiz mais do que isso: escrevi para seu comitê para oferecer, graciosamente, meus préstimos. Podia escrever cartas, dar telefonemas, de algum modo ajudar. Isso foi em 10 de setembro. Não recebi uma palavrinha, nem de aceitação, nem de recusa. Não me aborreci, imaginei que andassem muito atarefados.

Vieram as entrevistas, as sabatinas, os debates. E as propagandas na TV… O PT exagerou, foi tão agressivo, tão grosseiro e tão mentiroso, que mais aumentava minha vontade de ver Marina Silva no Planalto.

Mas acontece que Marina começou a errar muito: dizia hoje uma coisa que amanhã desdizia. Parecia uma marionete e não uma política de ideias firmes, cujo programa fosse a última palavra.

A campanha petista foi ficando cada vez mais feia. A campanha tucana também mirava em Marina. Os marqueteiros de ambos os partidos pareciam ter uma idéia fixa: impedir que a candidata do PSB crescesse. Mas sempre com uma grande diferença entre o nível das duas.

Chega o debate da Rede Record e fui surpreendida por um Aécio Neves firme e determinado. Foi o melhor debatedor.

E no último debate, o da Globo, a melhor e mais consistente oposição ao PT foi de novo a de Aécio Neves. Sem sombra de dúvida, ele se mostrou o mais capaz para enfrentar um segundo turno e também para administrar a ‘massa falida’ que o PT nos deixará como legado.

Foi uma campanha estressante para o eleitor consciente. O medo da máquina petista me assombrava. Sofrimento tolo. Vejam a que ponto o PT minguou: a maior prova do derretimento do partido foi sua derrota em São Bernardo do Campo, já que ali ele foi sonhado e ali vive seu nome mais ilustre, fundador, criador, militante-mor e alma do PT.

Lula não disse uma palavra desde a fragorosa derrota de seu PT que perdeu muito mais que uma vitória no primeiro turno: perdeu o ‘poste’ com o qual sonhava iluminar São Paulo, perdeu uma cadeira cativa no Senado Federal, perdeu em seu estado natal e foi derrotado pelo PSDB no berço do sindicalismo paulista.

Mas para o PT não bastou: seu presidente Rui Falcão resolveu jogar sal na ferida do partido. Em vez de se dedicar à luta pela vitória de dona Dilma, o que faz essa figura quase inacreditável? Lança a candidatura de Lula para 2018!

Agora estamos em pleno desenrolar do segundo turno. Novas campanhas, novos debates, novas propagandas por este Brasil afora.

Novos silêncios constrangedores e novos ataques mentirosos. Marina Silva adia definir sua posição, e isso justifica plenamente minha decepção com ela: apesar de suas palavras contra a velha política, é isso que ela está fazendo, usando o velho toma lá da cá da política do século passado.

E o PT volta às origens: ricos contra pobres, nordestinos contra sulistas. Estamos em 2014, o Lula já pode ser bisavô, dona Dilma levou uma boa lambada, mas eles não mudam o disco.

Dá uma canseira ouvi-los…

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 10/10/2014.

Um comentário para “Vamos mudar o disco?”

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *