Simplesmente Dilma

Dilma Rousseff se rendeu ao Fórum Econômico Mundial que até então seu governo preferia esnobar. Lendo um discurso bem escrito, ainda que de lastro duvidoso, a presidente jogou fichas que devem ter arrepiado seus colegas da América bolivariana: definiu o Brasil como o País das oportunidades e convidou os investidores do mundo inteiro para participar dos lucros desta terra prometida.

Em alguns momentos, parecia até mesmo acreditar na parceria com a iniciativa privada, de que ela discorda e retardou ao máximo, e nos números que recitava: equilíbrio das contas públicas, inflação sob controle, investimentos de R$ 62 bilhões em mobilidade. Em outros, a plateia poderia jurar que ela acabara de ser eleita. Que estreava não em Davos, mas na presidência do País. “Sobretudo, é necessário – e estamos determinados a promover – forte aumento de investimento em infraestrutura, em educação e inovação”, anunciou ela, como se tivesse tomado posse ontem e seu time não estivesse em campo há mais de uma década.

Agradou como nunca aos empresários que costuma maltratar, embora eles conheçam o profundo abismo entre o discurso e a prática.

No dia anterior, Dilma dedicara-se a agradar Joseph Blatter, presidente da Fifa, na visita de cortesia que fez à sede da entidade, em Zurique. Lá, como todos os ditos foram de improviso, Dilma foi Dilma, saindo-se com a máxima: estádios são obras relativamente simples.

Simplicidade que custará ao País a bagatela de R$ 8 bilhões, quase o triplo dos R$ 2,8 bilhões orçados inicialmente. Que fará com que os estádios da “Copa das Copas” sejam os mais caros de todos os mundiais. E com um legado pífio: dos 100 projetos para as 12 cidades-sede, só 21 foram entregues, 14 adiados para sabe-se lá quando, e os demais, com muita reza, podem até ser concluídos a tempo.

A frase de Dilma reflete didaticamente seu governo: se obras simples como as dos estádios demoram até sete anos, as complexas têm aval para ficar para as calendas.

A transposição do Rio São Francisco que o diga. Iniciada em 2007 e prevista para 2012 a um custo de R$ 4,7 bilhões, deve ultrapassar R$ 8,2 bilhões. Conclusão, se acontecer, só em dezembro de 2015. O asfaltamento da Transamazônica segue no mesmo diapasão. No segundo semestre de 2013 as obras prometidas para 2011 começaram depois de uma manifestação que paralisou a rodovia em Palestina do Pará. Hoje, seguem devagar e só naquele trecho. As pás eólicas do Nordeste continuam sem gerar energia por falta de linhas de transmissão. A ferrovia norte-sul….

É preciso mais do que um discurso bem redigido para fazer o Brasil de Davos existir. Simples assim.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 26/1/2014. 

3 Comentários para “Simplesmente Dilma”

  1. Obras simples demoram, obras complexas um dia acabam. A ponte RioNiterói, os metrôs de SP/RJ, a usina de Iaipu, o RodoAnel, as rodovias modernas que cortam o interior de SP, demoraram mas as obras se concluíram e mostraram suas necessidades apesar do alto custo. Concluídas ninguém mais atenta para o custo, somente ignorantes petistas que pretendem desenterrar ações passadas como o cartel para aquisição de trens. A Dilma é passageira, muitas das inconclusas obras tiveram início no regime militar, exemplo da Transamazonica. Usina de Belo Monte, energia eólica, transposição do São Chico, rodovia em Palestina-Pará, são obras iniciadas, e se concluem lentamente, para a satisfação de ricos empreiteiros e sangria dos cofres públicos, mas ficarâo prontas com Dilma ou sem Dilma. Quando prontas emprestarão seus benefícios ao nome de políticos que se auto intitulam amigos do povo.

    “O tempo não para” dizia Cazuza.

    “Para tudo (turn, turn, turn)
    Há uma época (vire, vire, vire)
    E um tempo para todo o propósito, debaixo do céu.
    Um tempo para construir, um tempo para quebrar
    Um tempo para dançar, um tempo para lamentar
    Um tempo de espalhar pedras, um tempo de ajuntar pedras”.
    dizia Pete Seeger

  2. E COMO UMA INDIGESTA SOBREMESA FOI SABOREAR UM NECRÓFILO IDEOLÓGICO…FIDEL!

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