O jornal baiano A Tarde resolveu nos levar de volta aos dias grotescos da CENSURA. Com uma diferença: se a censura, na época da ditadura militar, tinha caráter político-ideológico (por mais estúpido e cretino que fosse), a onda de censura agora promovida por A Tarde diz respeito unicamente a interesses financeiros da empresa. Primeiro, censuraram a escritora Aninha Franco, que não aceitou a imposição e mandou o jornal à merda. Agora, me censuram. Pelo mesmo motivo – criticar governos do PT – e com a mesma consequência, já que também não aceito a censura e deixo, portanto, de escrever nas páginas da sentinela do conservadorismo baiano, hoje uma empresa em luta desesperada para sair da enrascada financeira em que se meteu.
Sobre a censura a Aninha Franco, com a proibição de texto escrito para sua coluna “Trilhas”, publicada em “Muito”, a revista dominical do jornal, a própria escritora esclareceu o ocorrido. Eis sua nota pública sobre o caso:
“Segunda, dia 9, como de hábito, enviei o texto da Trilha de 15 de junto, próximo domingo, às editoras da Muito. Pouco depois, recebi um telefonema da jornalista Nadia Vladi, sugerindo que eu ‘baixasse o tom’ dos textos, que eu falasse ‘mais de arte e menos de política’, que 2014 é ano de eleições e que o jornal A Tarde optou pela imparcialidade. Como eu não sou um aparelho eletrônico com botões de mais ou menos, ignorei a sugestão.
“Então, a diretora de redação do jornal, a senhora Mariana Carneiro, telefonou para repetir sobre a imparcialidade do jornal A Tarde nas eleições de 2014, e sobre o espaço do jornal não pertencer a mim, Aninha Franco, a ela ou a Nadia Vladi.
“Sei. O espaço do jornal que deveria atender o direito à informação e ao debate de ideias da sociedade, atualmente tende a pertencer à publicidade, sobretudo a Publicidade de Governo, e assim é preciso separar a sociedade dos formadores de opinião, como eu.
“Tudo bem. As Trilhas serão publicadas a partir de agora noutros espaços, neste domingo no Facebook, em tonalidade responsável, como sempre. Formadores de opinião não guardam tons ou imparcialidades.
“Têm opiniões.”
Pois é. Vieram com a mesma conversa pro meu lado. No meu caso, as “instruções” da tal da Mariana Carneiro foram passadas pelo jornalista Jary Cardoso. Me avisavam para não tratar de eleições, candidaturas e programas partidários, durante o período eleitoral. Na verdade, a chefia da empresa jornalística já vinha há tempos incomodada com minhas leituras críticas dos desastrosos governos de Dilma Rousseff e Jaques Wagner, e de falcatruas ideológicas do PT. Agora, sob o falso escudo da “imparcialidade”, tratava-se de impedir a publicação de análises críticas envolvendo o PT e governos petistas (estadual e nacional).
Não tomei conhecimento da “sugestão”. Enviei o artigo “O Pior Governo”, que deveria ser publicado na minha coluna de hoje, sábado, 16 de agosto de 2014. Jary me telefonou, depois de ler o texto, me dizendo que achava que eu não tinha entendido bem as “instruções” da censora-chefe Mariana Carneiro. Respondi que tinha entendido muito bem as tais “instruções”, mas que não iria obedecer. Falar de eleições, governos e partidos, em período eleitoral, é atitude lógica e direito genuíno do cidadão. “Se o jornal quiser publicar o artigo tal como está, tudo bem. Se não, assuma a censura” – disse, encerrando o assunto.
O artigo, é claro, não foi publicado. O PT persiste em seu desempenho prático de controle partidário da mídia, inclusive acionando computadores palacianos para alterar perfis de jornalistas na wikipedia. No plano local, baiano, o jornal A Tarde, como se não fosse feito por jornalistas, baixa o cangote e abana o rabo. Não dá. Tô fora disso. Envio aos amigos e amigas o texto censurado, pedindo que o divulguem e a esta nota.
Abraços,
Antonio Risério.
O PIOR GOVERNO
Antonio Risério
Deixando Collor de parte, já que ele não concluiu o mandato, podemos fazer a seguinte observação. A eleição de Tancredo marcou o início do processo de construção de um novo Brasil. De lá para cá, os governos que se sucederam entregaram, ao governo seguinte, um país melhor do que o que tinham recebido. O grau de contribuição de cada um, na produção de avanços na vida nacional, é variável. Mas sempre, na passagem do bastão, restou algum saldo positivo. A triste e solitária exceção, nessa paisagem, é o governo de Dilma Rousseff, quase sempre sinônimo de fracasso ou retrocesso.
Vejamos. Quando Sarney passou a bola, o Brasil tinha avançado no caminho da democracia. O Mercosul, em parceria com a Argentina de Alfonsín, tinha começado a se configurar. E, na dimensão legislativa, ocorreu um grande avanço histórico, no terreno dos direitos sociais, com a Constituição de 1988. Com a queda de Collor, Itamar, algo desacreditado, assumiu em meio à crise. Mas seu governo significou mais um passo firme no rumo da consolidação democrática. E, sobretudo, deu início ao processo de estabilização econômica.
Fernando Henrique nos conduziu à conquista plena da estabilidade econômica, fazendo o que parecia impossível: nocautear a inflação. O Plano Real se afirmou vitoriosamente. Além disso, FHC fez a agenda social avançar. Houve redução da pobreza, em consequência do próprio fim da inflação. Já perto do final de seu segundo mandato, a desigualdade de renda começou a cair, graças principalmente ao programa Bolsa Escola (que o PT tratava pejorativamente de “bolsa esmola”, embora fosse recriá-lo no Bolsa Família). E o Brasil assumiu novo protagonismo no sistema das relações internacionais.
Em seguida, veio Lula – e os avanços prosseguiram firmes. Lula alargou em extensão inédita as políticas sociais, ampliando como nunca o raio da inclusão e a dimensão do mercado interno, retirando milhões de brasileiros da pobreza, promovendo ascensão social. De Fernando Henrique, ele não só manteve o tripé macroeconômico, agora sob a regência do ministro Palocci, como aumentou o peso e estendeu o alcance das ações internacionais do país.
E Dilma? Bem, ela quebra toda essa cadeia de avanços, conquistas e realizações significativas. Seu governo meteu os pés pelas mãos na economia. Estamos hoje numa situação crítica, combinando a volta da inflação com um crescimento minúsculo, a caminho da recessão. A agenda ambiental só conheceu retrocessos, a política externa é atrasada e confusa, a Petrobrás entrou em parafuso, a reforma urbana foi abandonada, o salário mínimo murcha e assistimos à degradação total dos serviços públicos.
Assim, pela primeira vez na história brasileira pós-ditadura militar, um governo vai entregar, ao seu sucessor, um país muito pior do que aquele que recebeu. Pela primeira vez, nesse período histórico, será correto falar, com absoluta propriedade e absoluta justeza, de “herança maldita”. É o retrato acabado do pior governo que tivemos depois da reconquista da democracia.
* Como o próprio poeta, tradutor e antropólogo Antonio Risério pediu que sua nota e seu artigo censurado fossem divulgados, tomei a liberdade de publicá-los aqui. Agradeço ao José Nêumanne por ter me enviado os textos. (Sérgio Vaz)
O episódio mostra que há vários caminhos para se chegar ao controle social da mídia. O autoritarismo do século XXI é mais sofisticado, não aceita mais aquela velha imagem dos ditadores brutamontes. Aprenderam com Fidel e Che que ditadores também podem ser “pop”, ou mesmo rimar ditadura com ternura. Eles agora se vendem como portadores do monopólio do bem, os únicos defensores do povo, em luta contra o mal. Como pregam que somente com eles o povo finalmente chegou ao poder, o mal passa a ser representado por qualquer um que ousar se contrapor a um “governo popular”. É o mesmo fascismo de sempre, de Hitler e Stalin, Pinochet e Fidel, tentando implantar a censura, o partido único e a eternização no poder, sem a existência de fatores indesejáveis, como oposição ou liberdade de opinião. Só que agora um fascismo reciclado, envergonhado, adotando as mesmas práticas, mas com denominações e estratégias mais palatáveis, para não assustar os desavisados. E, como sempre, confiam que sua minoria de fanáticos vai contar com a colaboração dos muitos que se acovardam, baixam a cabeça e abanam rabo.
O texto de ANTONIO RISÉRIO foi publicado enfiem onde devia, sem censura alguma.
O Jornal da Tarde da Bahia nossos pêsames por se render aos dinheiros do planalto.
ANTÕNIO RISÉRIO desempregado deverá vender suas opiniões ao PIG, que iclusive remunera melhor.
Tsc, tsc… Miltinho, a Paulinha Toller cantaria para você aquela musiquinha: “Cê vai de mal a pior…”
Abração.
Sérgio
People are crazy and times are strange.
Os avanços “democráticos” não incluíram avanços na educação. Esta continua empregando mecanismos da pedagogia repressiva ou conservadora, com raras exceções.
Na escola, e em todos os lugares, usa-se uma lógica hobbesiana: a lógica da repressão, que impede, dentre outros, um PM de tratar humanamente um negro durante a noite, etc.
Há quem diga que a diferença entre os colônias católicas e as de inspiração anglófona está nos dois primeiros prédios da cada cidade: na Nova Inglaterra, iniciam a cidade com um banco e uma escola; já nos ambientes católicos, iniciam-na com uma igreja e uma cadeia: nesse último caso, entrou a maldita lógica hobbesiana, já superada no norte da Europa.
Na Nova Inglaterra, progresso econômico e intelectual; no catolicismo, atraso e repressão.
País católico não respeita o jornalismo, por vocação histórica. A inquisição a jornalistas é mais velha do que o Brasil. Mas, agora, voltam os jornalistas do tipo veja, atribuindo ao PT uma herança colonial de toda a América Latina…
Corrigir a América Latina é mais útil, e verdadeiro, do que corrigir o PT.