Infra para ver Sir Paul: 0

A fila era imensa. Se bifurcava, se dividia em duas! Hordas de Gérsons, de brasileiros espertos, furavam a fila em vários lugares, em especial ali, na bifurcação, na esquina de Avenida Antártica com a Rua Padre Antônio Tomás – e não havia ninguém, absolutamente ninguém, para organizar a zorra.

Os honestos, os que não queriam furar fila, caminhavam mais de quatro quadras para encontrar o fim da fila do portão A, que era o nosso. Mais de quatro quadras!

Ficamos na fila durante 55 minutos, em suspense, sem saber se chegaríamos a tempo.

Quando finalmente são vencidos todos os obstáculos, e estamos dentro do recém-inaugurado Allianz Parque, percebemos rapidamente que o Allianz Park não passa mesmo de um Porcódromo. Não se sabe por que, não quiseram vender ingressos com lugar marcado. E então nós, que chegamos perto do estádio por volta de 19h30 para o show marcado para as 21h, e chegamos ao nosso setor, cadeiras superiores, por volta de 20h45, não tínhamos lugar para sentar. Havia alguns lugares vagos – todos guardados por Gérsons que haviam conseguido chegar antes de nós. Procurando bem, havia aqui dois lugares, e, bem lá longe, outros dois. Éramos quatro – e tivemos que nos dividir.

2014-11 - Dia 25 - Show de Paul - Foto FêHá muito mais falhas de infra-estrutura para detalhar, e faço isso mais abaixo, mas agora vou no principal: o som do show de Sir James Paul McCartney no Allianz Parque foi um som porco.

Já vi muito show, na minha longa vida. Não me lembro de nenhum show com um som tão pavoroso quanto o de Paul no Porcódromo.

Não é que o som estivesse um pouco ruim – e esta, é claro, é a sensação de quem estava nas cadeiras superiores; pode ser que o som estivesse melhor em outras partes do estádio, perdão, da arena. Mas, no lugar em que estávamos, não é que o som estivesse um pouco ruim. Não. Estava pavoroso. Estava tudo aplastrado, amassado, amarfanhado, tudo sem definição, tudo aporcalhadamente estourando as caixas, sem qualquer definição, sem baixo, sem agudo, sem coisa alguma.

Na maior parte do tempo, não dava para identificar os fonemas cantados por Paul McCartney.

Captar alguma nota de uma das guitarras, ou do baixo, ou do violão acústico, sonho impossível.

Nem num circo mambembe da cidade mais pobre do Piauí ou do Maranhão terá havido um som tão porco quanto o som do Porcódromo no quarto show de Sir Paul que tive a graça de assistir.

***

Os palmeirenses parecem orgulhosos de sua arena. Depois do show, houve várias vezes gritos de “Porco!”, “Porco!”, “Porco!” Meu colega Adhemar Altieri, palmeirense, é claro, fez comentário no Facebook com loas ao Allianz Parque e pau no Itaquerão. Têm todo o direito de se orgulhar – enquanto eu, corintiano, não tenho orgulho algum do Itaquerão, , construído, ao contrário do deles, em boa parte com dinheiro público, o que é um absurdo.

Deve ser bonito ver futebol lá – embora futebol seja o que o Palmeiras não tem tido, nos últimos anos. Mas show não dá. Ou pode até ser que dê para quem se disponha a ficar de pé no gramado. Nas cadeiras superiores, o espectador tem de fato boa visão de tudo – mas o som, como já falei, e nunca é demais repetir, é um horror.

Além disso:

No banheiro feminino, não havia papel algum, nem para enxugar as mãos, nem o higiênico.

Não havia conexão com internet. No estádio vendido como o mais moderno do país, os celulares eram apenas câmaras fotográficas. Às vezes chegava a haver conexão – para logo em seguida cair novamente.

A matéria do Estadão desta quarta-feira, 26/11, diz que não havia filas nos banheiros. Havia, sim, filas imensas, pavorosas, após o show. Desistimos de ir ao banheiro após o show por causa do tamanho das filas.

As escadas rolantes pararam de funcionar na hora em que descíamos os vários andares do troço.

Havia vendedores levando latas de cerveja e garrafinhas de água em caixa de papelão, uma coisa improvisada, insegura, perigosa.

Allianz Parque, maravilha das maravilhas? Bah. Porcódromo.

Leia também: Sir Paul: 1.000!

26 de novembro de 2014

 

4 Comentários para “Infra para ver Sir Paul: 0”

  1. Assistir show em grandes ambientes é correr o risco de desconforto, irritação, gérsons e som ruim. Música é para ambientes íntimos.Paul faturou, empresários faturam, Allianz faturou, uma porcalhada enfim.

  2. Empatou com Brasília: pontualidade: 0; organização: 0; som durante os 100 minutos iniciais: 3.
    No quesito Sir Paul: 10. Ele é maravilhoso e faz tudo certo!

  3. Não fui ao de Brasília. Mas minha mulher foi, juntamente com dois casais de amigos que vieram de Maceió e se hospedaram em nossa casa para ver o show. Dia chuvoso,foram todos numa van de aluguel, lotada de vizinhos e parentes. Reclamaram das filas na entrada, no banheiro, na lanchonete e da fraquíssima oferta de comida.Fiquei na retaguarda, preparando o churrasco da madrugada.

  4. O churrasco na madrugada brasiliense deve ter sido memorável ao som do ex-beatle.

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