A Celeste sem seu “moleque”

“Hoje é um dia simbólico porque é o dia seguinte da retumbante classificação do Brasil para as oitavas de final da Copa do Mundo. A nossa seleção venceu desafios, derrotou o pessimismo e mais uma vez mostrou que o Brasil está entre os melhores do futebol mundial”, disse dona Dilma ontem.

Sinceramente? Que bobagem! Retumbante classificação? A seleção derrotou o pessimismo?

Não adianta dona Dilma tentar tapar o sol com a peneira. O que está deixando o Brasil pessimista não é o futebol. Esse vai muito bem, graças a Deus. É com a economia e com a sensação de que o PT e seu governo só se preocupam com a reeleição.

Porém, temos que ser justos: desta vez, a Copa das Tolices não é dela. O prêmio vai para o simpaticíssimo Pepe Mujica.

Quero deixar bem claro o quanto gosto do Uruguai. Das cidades da America Latina que conheço, a mais querida é Montevidéu. Linda, o Rio da Prata margeando as ramblas e parques que convidam a um passeio, sem arranha-céus, com bairros e bairros de casas unifamiliares, a cidade é encantadora.

Há uma diferença fundamental entre ela e o Rio de Janeiro que a mim fascina: difícil uma rua aqui que não tenha várias farmácias e agências bancárias. Lá em Montevidéu, é raro achar bancos ou farmácias. No entanto, há cafés e livrarias em quase todas as esquinas.

A explicação é fácil. É um povo alfabetizado há mais de quatro gerações. Ao ler a desconcertante defesa que o presidente uruguaio fez do jogador da seleção de seu país, foi só no que pensei.

Segundo os jornais, Mujica, além de dar de ombros e rir com a história da mordida, disse que a agressão foi uma piada de mau gosto e que Luis Suárez, por ser um jogador genial, às vezes parece um moleque.

Quer me parecer que Pepe Mujica não vê diferença entre os movimentos pertinentes a um esporte como o futebol e ações que nada têm a ver com a bola, como uma mordida.

A grande preocupação de Mujica, da Federação Uruguaia de Futebol, e de todos os amantes desse esporte sensacional, deveria ser levar o grande jogador a se tratar. Não é normal um rapaz da sua idade, talentoso, que furou a barreira do sucesso, agir como um marginal ou como um alucinado. Afinal, não é a primeira vez que ele morde um companheiro.

Em 2013, contratado do Liverpool, mordeu um jogador no campeonato inglês e foi suspenso por dez jogos. Em 2010, ainda no Ajax, mordeu o pescoço de um jogador do PSV, foi suspenso por dois jogos e apelidado de canibal.

Nada disso adiantou e agora a Fifa lhe impôs uma penalidade que chega às raias da crueldade: além da suspensão por nove jogos, o banimento de sua seleção. Será que isso vai resolver o problema do rapaz? Não creio.

É com o ser humano que o Uruguai deve se preocupar e não com a Celeste. Pelo que se conhece da fibra uruguaia, não há o que temer no próximo jogo. Vão lutar como leões (e sem dentadas, por favor!).

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 27/6/2014.

3 Comentários para “A Celeste sem seu “moleque””

  1. Uns comem a bola, outros como Luizito comem a bola e literalmente os adversários. Sem Luizito o Uruguai foi eliminado e voltou ao seu povo alfabetizado. Por aqui os alfabetizados torcedores vaiaram o hino chileno e mandaram a presidente do Brasil tomar no ..! Dividiu-se o país entre torcedores dos estádios padrão FIFA e os de fora, nas periferias aqueles alfabetizados, estudados e estes sem estudo mas civilizados.
    A celeste não lutou como leão, perdeu seus dentes, sua garra, Mujica tem razão, foi uma pequena molecagem punida com o excesso e arrogância dos poderosos.
    Agora é aplaudir as molecagens de Quadrado, James e Armero.

  2. Além das duas punições anteriores por morder adversários, Suárez também já foi multado e suspenso por oito jogos devido a ofensas racistas em campo. No total, já pegou suspensão de 34 jogos, contando só as agressões flagradas pelas câmeras, sem considerar as outras expulsões por cartão vermelho. Na Inglaterra, tem fama de encrenqueiro dentro e fora do campo. Agora prejudicou imensamente a seleção uruguaia, pedindo para ser expulso, pois, mais do que ninguém, sabia da possibilidade de ser denunciado novamente pelas câmeras. Sabia que era reincidente e sabia que as mordidas anteriores o tinham tirado de vários jogos. Não foi punido apenas pela mordida no italiano, mas também porque as penalidades anteriores não foram suficientes para domesticá-lo. É obvio que precisa de tratamento psiquiátrico. Mas um país inteiro está passando a mão na cabeça dele.

  3. A lógica do Estado de Exceção da FIFA.

    Vejo muitas pessoas cobrando coerência da FIFA, fazendo paralelos com outras situações, mas o ditador não tem nenhum compromisso com a coerência. Esta só pode ter valor, juridicamente exigível, no Estado Democrático de Direito, que, por isso mesmo, precisa ser defendido com unhas e dentes!

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