Quem conhece os mistérios da alma humana? Quem é capaz de dizer por qual razão os entes políticos tratam as pessoas comuns como um bando de rematados idiotas?
A foto de Hugo Chávez todo coradinho ao lado de suas duas filhas lendo uma edição do Granma, obviamente plantada aí por um photoshop , não difere em nada da foto do ditador Artur da Costa e Silva , de perfil, ao lado de sua mulher Yolanda, vendendo saúde depois de um derrame, ou da foto de Tancredo Neves como um ectoplasma, cercado por sua equipe médica alguns dias antes de morrer.
Querem nos fazer crer que os políticos são imortais? Uma hora ou outra eles acabam morrendo, como todo mundo, e quem tentou nos enganar sai de fininho como se nunca tivesse estado aí.
Pois aí está. Apesar de a multidisciplinar doutora Dilma ter-nos garantido, do alto de seus conhecimentos médicos, no dia 23 de fevereiro que “o quadro do presidente Chávez não é preocupante”, ele morreu porque imortal não era.
Não é decente nem digno festejar , como alguns fizeram nas redes sociais, a morte de um ser humano, por mais pecados políticos que se possam atribuir a ele. Também não é digno mentir às pessoas tentando esconder-lhes a verdade.
Não chega a ser indigno, mas é apenas patético, senão cômico, tentar atribuir o nascimento, a evolução e o desfecho da doença a fantasmagóricas intervenções externas de supostos inimigos, como se o câncer fosse criado uma arma química que um agente secreto pudesse carregar na mochila.
Chávez morreu, novas eleições serão realizadas na Venezuela dentro de 30 dias, e apesar de todas as incertezas o vice-presidente de um voto só, Nicolás Maduro, que conta com o apoio dos militares, deverá vencer sem muitos problemas.
Chávez estava no início de seu quarto mandato consecutivo e sua morte reavivou velhas discussões sem fim sobre se a Venezuela era uma democracia ou não e sobre se ele fez bem ao seu povo ou não.
Caudilhos são caudilhos exatamente porque são amados por seu povo, e são amados porque são carismáticos e distribuem benesses.
A democracia, nesses casos, principalmente na América Latina, passa a ser um enfeite de prateleira, e o desrespeito às formalidades democráticas se justifica, segundo seus defensores, por eventuais “avanços sociais” que venham a ser conseguidos.
O raciocínio “ad absurdum” que passa a vigorar é este: quer dizer que não dá para conseguir “avanços sociais” sem sacrificar a democracia ? Estão aí as prósperas democracias do Ocidente para mostrar que essa é uma falácia.
A prosperidade, a equidade e as sociedades mais justas são filhas da democracia e não do autoritarismo.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 8/3/2013.
Os avanços sociais não se impedem, são próprios e inerentes as sociedades, sejam democracias ou ditaduras. Os príncipes deles se apoderam para maquiavelicamente fazerem o populismo. Aproveitam até o último instante ligar seu nome aos avanços sociais. Até no leito de morte.