Os mascarados

Máscara é um disfarce. Um jeito de esconder, velar a verdade, desinformar. 

Na infância, encantava-me com o Zorro e o Batman, heróis das histórias em quadrinho e dos filmes em série do cinema. Cobrindo os rostos,  as máscaras ocultavam os mocinhos que, sem usá-las,seriam descobertos em seu dia a dia e impedidos de praticar o bem, fazer justiça contra os malfeitores, os que oprimiam o povo.

Nas tragédias e comédias gregas, as máscaras eram indispensáveis. No latim, “persona”, personagem, figura, papel. Vem daí o título do belíssimo filme de Ingmar Bergman, aqueles rostos de pessoas sofridas presentes até hoje em minha memória.

Existem aqueles  que chamamos mascarados,os convencidos, vaidosos, presunçosos, os que se julgam ser melhores do que são, os que pensam ter o rei na barriga. Mas a boa máscara é a dos carnavais, da folia. Houve o tempo dos confetes, serpentinas e lança-perfume. Aquela moça com a face escondida gritando no meio do salão arrepiava os corações adolescentes. Nas rua havia toda espécie de fantasia e o grupo de gatinhas podia ser só de mulheres ou trazer alguns machos escondidos.

“Máscara Negra”, de Zé Keti e Pereira Matos, é o símbolo eterno em canção popular do mistério que havia na imaginação de quem brincava no carnaval  e se deparava com o segredo do rosto feminino que só revelava os olhos. Isso vale, certamente, para as moças que sonhavam príncipes por detrás do pequeno pano que encobria a identidade do objeto de desejo e admiração.

Nem é carnaval e as máscaras e os mascarados voltaram às nossas cidades. Nada que lembre os heróis dos quadrinhos ou do cinema. Muito menos o teatro grego.

Muito longe dos bons tempos da alegria de Momo.Não vieram festejar, querem destruir. Dizem que são anarquistas e anticapitalistas. Não são. Fazem o mesmo que grupos nazistas praticaram há poucos anos na Alemanha e outros países europeus. Não passam de fascistas, que não respeitam o direito dos cidadãos e a democracia. Abusam da omissão dos que deveriam defender o direito de ir e vir das pessoas. Nenhuma reivindicação inteligível, só caos e violência.

Pessoas iguais a eles, seus irmãos em ódio, acabaram com o “Ocupem Wall Sreet.”  

Os brasileiros saíram às ruas de suas cidades, em junho, para dar um basta à corrupção, à incompetência e dizer que o povo não está representado pela maioria dos que ocupam os cargos públicos. Todo mundo que viu guarda as imagens belíssimas dos cidadãos assumindo o que lhes pertence. Exigindo melhor educação, saúde, transporte, segurança e respeito. Os do poder não entenderam nada. Aí vieram os mascarados fascistas para acabar com a festa das multidões.

Quem estará por trás disso?

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em setembro de 2013. 

2 Comentários para “Os mascarados”

  1. Os mascarados são figuras de suma importância na festa.

    Mascarados
    Cora Coralina

    “Saiu o Semeador a semear
    Semeou o dia todo
    e a noite o apanhou ainda
    com as mãos cheias de sementes.
    Ele semeava tranqüilo
    sem pensar na colheita
    porque muito tinha colhido
    do que outros semearam.
    Jovem, seja você esse semeador
    Semeia com otimismo
    Semeia com idealismo
    as sementes vivas
    da Paz e da Justiça”.

    “Quem é você, adivinha se gosta de mim
    Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim
    Quem é você, diga logo que eu quero saber o seu jogo”
    NOITE DOS MASCARADOS – Chico Buarque

  2. Brant escreve e o que escreve é de sabedoria inquestinável. Não ouso discordar, nunca.

    Todas nossas emoções, nossa simpatia estão com os mascarados e vingadores, ainda que eles sejam incapazes de nos indicar o caminho correto de combater os poderosos capitalistas e verdadeiros facistas.

    Bom lembrar que o “Zorro” foi inspirado no “banditismo social”, no Brasil personificados por “Antonio Conselheiro” e por “Virgulino o Lampião” combatidos pela polícia e pelo exército. Eram bandidos sem máscara, e foram decapitados porque ousaram se insurgir contra o poder constituído.

    Hoje, na festa das ruas não poderiam faltar os mascarados,semeando, como poetisou Cora Coralina.

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