Não sou manada

No mesmo passo apressado em que avança a tecnologia, trazendo inegáveis benefícios para a humanidade, o não pensar, o pensar em bloco e a massificação parecem confirmar o receio de Albert Einsten com a possibilidade de uma geração de idiotas tomar conta do mundo. Há muita velocidade e pouco pensamento.

Pouca reflexão e muito “Maria vai com as outras”. Ainda estamos longe disso, mas há um caminhar fervoroso para que a profecia se realize. Um exemplo é a preocupação com o ambiente da terra e das cidades, com um progresso menos poluidor, mais equilibrado com o planeta em que vivemos.

Sou a favor, mas renego os exageros. Ainda nestes dias, uma quantidade de árvores estão sendo severamente podadas em uma das nossas mais belas avenidas. Pragas as estão atacando mortalmente e a intervenção pretende salvá-las. Se a operação for bem sucedida, muito tempo se passará até que elas retomem o porte antigo. Se não der certo, será pior, teremos de começar tudo outra vez, com novas mudas e o olhar para o futuro.

Até esse momento não houve nenhuma passeata ou manifestação pública sobre esse fato, o que me parece correto. Mas não se deve deixar de cobrar dos prefeitos que por aqui passaram pelo pecado de desleixo. Não houve acompanhamento e vigilância sobre a cobertura vegetal das ruas e avenidas.

Mas, há alguns meses, quando da reforma de uma praça na zona sul, caras foram pintadas, apitos apitados, manifestos assinados para que não se derrubasse uma árvore enorme, quase centenária. Qual o motivo do projeto de derrubada? É que ela estava bichada, podre, comida pelos cupins e pelo tempo. Os jornais acharam assunto e se lambuzaram nele. A pressão foi tão grande que a Prefeitura, pelo que se leu e viu na mídia, atropelada pelos ecomineiros, construiu uma estrutura de concreto para sustentar o que a natureza já decretara que estava com os dias contados. Por lá eu não pretendo passar.

Os que vestem a ideologia ambiental, da mesma forma que os que carregam radicalmente qualquer ideologia ou dogma, parece que não possuem o equilíbrio que dizem buscar nas relações do ser humano com o mundo em que vive. Já que se fala em natureza, o princípio básico, a regra imutável que há é que todos nascem, crescem, amadurecem e depois morrem. Por mais choro que derramemos quando se fala das nossas vidas, aceitamos o destino.

Por que com as árvores deveria ser diferente? Por mais bela que seja, por mais que dela gostemos, uma árvore velha e doente no meio da rua é um perigo para os que circulam em sua volta. Deve ser substituída, é a lei da vida.

Na mesma época, uma outra árvore caiu sobre uma mulher que praticava caminhada no parque municipal. As duas morreram e não houve nenhuma passeata ou manifestação pública.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em fevereiro de 2013.

Um comentário para “Não sou manada”

  1. Brant sempre atento, observador da vida, do cotidiano. Segundo ele ” o equilíbrio que dizem buscar nas relações do ser humano com o mundo em que vive. Já que se fala em natureza, o princípio básico, a regra imutável que há é que todos nascem, crescem, amadurecem e depois morrem. Por mais choro que derramemos quando se fala das nossas vidas, aceitamos o destino”.
    Tal como as árvores, os homens velhos e doentes, afastados do trabalho, cuidados por terceiros, abandonados em asilos, devem ser substituídos com a mesma dignidade, é a lei da vida.

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