Cheguei hoje à compilação número 100 de notícias e análises que comprovam a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial sem qualquer tipo de alegria, ou de orgulho ou sequer de consciência tranquila por ter feito um bom trabalho, dado algum tipo de contribuição.
Na verdade, me sinto cansado, mais que tudo. Dar murro em ponta de faca toda semana, ao longo de 100 semanas, 700 dias, cansa.
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Quem apóia um governo costuma dizer que quem faz críticas torce contra o país. Os lulo-petistas, então, que não conseguem (ou fazem questão de não conseguir) distinguir entre o que é governo, algo passageiro e, nas democracias, necessariamente transitório, e o que propriedade deles, esses acham (ou fingem achar) que quem faz críticas é inimigo deles e sobretudo da pátria, da qual eles se acham donos, proprietários, senhores.
Talvez por ter noções esquisitas do que seja exercer o direito à opinião (sendo as opiniões de muitos dos que defendem o governo lulo-petista regiamente pagas a quem as emite com publicidade das estatais tomadas de assalto), eles acham que quem critica está igualmente sendo pago por alguma entidade abstrata a que costumam chamar de zelites ou mídia golpista e reacionária.
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Não torço contra o País, nem pelo quanto pior melhor. Muito ao contrário. Gostaria, sinceramente, que este governo não fosse tão ruim, tão incompetente, tão incapaz; que não estivesse destruindo com tanto vigor e rapidez as bases da economia brasileira que até há pouco eram sólidas.
A dilapidação do que o País conseguiu obter, penosamente, ao longo dos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso é um espetáculo que deprime, angustia qualquer brasileiro que torça pelo Brasil.
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Mas o fato é que dar muro em ponta de faca cansa.
Costumo sempre dizer que passei 36 anos de jornalismo escrevendo muito menos do que deveria, ou ao menos do que gostaria. A imensa maior parte desse tempo, passei reescrevendo, melhorando (ou tentado melhorar), titulando, editando textos escritos pelos outros.
Quando finalmente me vi livre da obrigação de trabalhar como editor de textos dos outros, passei a escrever com um apetite voraz. Jamais consigo, por exemplo, escrever menos de 100 linhas sobre cada filme que vejo. (Às vezes, quando gosto especialmente do filme, escrevo 300.) Escrevo, escrevo – e brinco que estou me vingando dos 36 anos em que não me deram a chance de escrever. A ponto de minha filha observar – judicialmente, corretissimamente – que tudo na minha vida passou a virar texto.
Então é de certa forma uma grande ironia que eu tenha passado parte das últimas 100 semanas, 700 dias, deixando de lado meus próprios textos para compilar reportagens e editoriais e artigos sobre o desgoverno Dilma Rousseff.
Uma grande ironia – talvez um paradoxo.
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Talvez, se essas compilações tivessem maior repercussão do que têm, eu ficasse um pouco mais reconfortado.
Mas não faço essas compilações em busca de repercussão. Comecei a fazê-las por uma espécie assim de sentido de dever patriótico. Ou, talvez, para atender a um desejo egoísta de me sentir participando de alguma forma de uma oposição a esse governo que tem índices de aprovação quase soviéticos, cubanos, norte-coreanos. Para atender a meu desejo de sentir que os 4% que se opõem a tudo isso que está aí têm algo a dizer.
Faz muito tempo que só continuo a fazê-las para não me arrepender de ter deixado de dar murro em ponta de faca.
Melhor arrepender de coisas que a gente fez do que de coisas que deixou de fazer, aprendi, adolescente, com Fernando Sabino.
Dou um boi para não entrar numa briga, e uma boiada para não sair dela. Dizem que meu pai gostava dessa frase – tadinho dele, que perdeu tantas brigas na vida.
Vixe. Este texto está perigosamente se encaminhando para uma área psicanalítica – logo eu que sempre fui, como dizia Regina, pré-freudiano.
Às vezes Mary, aqui ao lado, brinca comigo se não é hora de parar com esse troço de Más notícias. Lúcida, sábia, frère, camarade, complice, como diria Moustaki, ela questiona isso não sugerindo que eu pare, torcendo para que eu pare, mas para me ajudar a questionar qual é a minha vontade mais forte – continuar a dar murro em ponta de faca ou parar, ir fazer outras coisas neste tempo que é cada vez mais curto.
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In dubio, pro reu.
Enquanto fico em dúvida, vou continuando.
Às vezes, quando consigo fazer um lead legal, uma abertura do texto que me pareça forte, consistente, acho que deveria prosseguir, até o fim – do governo ou do meu gás, o que acabar primeiro. Às vezes sinto uma preguiça infinda, e uma imensa vontade de escrever minhas coisas, em vez de perder tempo compilando textos dos outros.
Se a vontade de parar um dia se revelar firme, clara, paro, e pronto.
Ninguém perderá nada com isso.
23 de maio de 2013
Escreva Sérgio, escreva, escreva muito, coloque suas idéias para fora, seja oposição e continue dando seus murros, mesmo que as pontas te firam.
Só não compile idéias, escreva o que você acha do lulopetismo tirando suas próprias opiniões, conclusões, faça sua obrigação com força, acredite e pense que tudo aqui é seu.
Sonhar e dar murro em ponta de faca é mais ou menos a mesma coisa, só que sonhar não sangra.
Parabéns pelas 100 semanas! Você e FHC são os tucanos que admiro, mesmo discordando e concordando as vezes.
Continuo te seguindo, sempre.
“Somos do tamanho de nossos sonhos
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.
Fernando Pessoa
Faço minhas as palavras desse tal de Milton. Não pare, Sérgio.
Concordo plenamente com Miltinho e Luiz Carlos!
Também, claro, com o trecho acima, de Fernando Pessoa!
Beleza de texto, Sérgio, parabéns!
Em nome da esperança de um país melhor para nossos filhos, filhas, netos e especialmente netas, resistir é preciso.